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terça-feira, 29 de abril de 2025

Do JORNAL GGN - Beatriz contra o dragão da revista Veja, por Luís Nassif



Meu termômetro passou a ser o Blog de Beatriz Nassif que ela, com apenas 10 anos. Cada crônica que ela escrevia me aquecia o coração.

Os amigos que me acompanham desde os tempos do Blog do Luís Nassif, certamente se lembram da enorme luta que empreendi – armado apenas de um blog – contra a maior máquina de destruição de reputações que o país conhecera até então: a revista Veja.

Na época, já tinha saído da Folha, depois de acordo dos Frias com o BTG, após eu atrapalhar a compra da Goldman Sachs com matérias mostrando os problemas do banco com o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).

Veja foi pioneira na introdução da ultra direita no país. Inaugurou a fase com uma capa violentíssima, defendendo a liberação das armas. E prosseguiu com ataques contra tudo, governo, artistas tido como progressistas, o politicamente correto. 

Roberto Civita aproveitava o temor infundido pela revista para chantagens claras. Como quando ameaçou o Ministro Tarso Genro com uma capa, se ele não mudasse o novo esquema de venda de livros do Ministério da Educação – uma publicação entregue nas escolas para cada diretor escolher os livros que quisesse – que atrapalhou o sistema de vendas da Abril, com vendedores indo a cada escola.

Para esse mergulho no esgoto, Veja montou as primeiras personas para o novo mercado digital que se formava.

Um deles era o jovem ousado, atrevido, que não respeitava biografias, destruía o politicamente correto, atacava unanimidades – como Mozart, Chico Buarque. O personagem foi entregue a Diogo Mainardi que, até então, era um tímido colunista de cultura.

Copiava o modelo de um filme espanhol que retratava uma disputa comercial para adquirir uma empresa de telecomunicações. No filme, um jovem colunista cultural passa a ser alimentado com dossiês, denúncias, até ganhar musculatura perante a opinião pública. Depois, era utilizado como ferramenta da guerra empresarial, sem comprometer diretamente a emissora.

O segundo personagem foi calçado inteiramente nas ferramentas do fascismo. Era a persona virulento, agressivo. Esse papel foi encenado por Reinaldo Azevedo. Utilizava o chapéu Panamá como marca dos grupos que aderíam a ele. Foi o primeiro ensaio para a formação das milícias fascistas que passaram a atuar na Internet. Em breve havia Grupos do Chapéu atuando nas eleições de vários estados, emulando o guru. Nos lançamentos de seus livros, acorriam dezenas de jovens com chapéu Panamá com seus gritos de guerra contra os “petralhas”.

Aliás, todo esse ferramental, mais as teses defendidas pela revista e seus personas, comprova de modo claro que, naquele fim da década de 2000, a ultradireita – e a geopolítica norte-americana – já tinham suas estratégias claramente definidas.

A revista era dirigida por Eurípides Alcântara e Mário Sabino, mas provavelmente o mentor intelectual era José Roberto Guzzo, diretor editorial, reportando-se a Roberto Civita.

Foram dias e dias do mais puro esgoto. Minha então esposa passava as noites lendo aquele lixo, indignando-se. Tinha um blog de poesia e colocou nele seu desabafo. Descobriram o blog, perceberam que poderia ser o ponto fraco para me desestabilizar, e despejaram toneladas de ódio no blog.

Nesse quadro dantesco, eu tinha dois pontos de sustentação emocional. Uma, os leitores do blog que todos os dias deixavam mensagens de apoio.

Lembro-me até hoje de um deles pedindo “por favor, não desanime” e outro, de Goiás, que me disse que ele e a esposa rezavam todos os dias por mim e ele estava fazendo uma rifa de sua bicicleta para me ajudar.

E havia personagens que surgiam das brumas da Internet, como Stanley Burburinho, misterioso, mas profundo conhecedor de tecnologia, formado no MIT, que trazia as informações mais estratégicas, depois de escarafunchar servidores. Virou uma lenda e até hoje não se sabe de sua identidade e sequer se ainda está vivo.

Ou a moça especialista em Diário Oficial, que trazia periodicamente informações sobre o governo José Serra – como a compra, pelos órgãos do governo do estado, de milhares de assinaturas da Veja e de outras revistas da Abril. De quebra, sua mãe rezava diariamente por mim, da mesma maneira que minhas tias e minha avó.

Eram os apoios. O medo que Veja infundia calava a todos, Federação Nacional dos Jornalistas, Sindicato dos Jornalistas, a então Associação Brasileira de Imprensa, grupos de defesa dos direitos humanos, juristas, e as centenas de vítimas dos ataques da mídia nos anos 90, que tiveram na minha coluna o único ponto de apoio. Condensei os 10 anos de luta contra abusos da imprensa no livro “O Jornalismo dos anos 90”, lançado em 2002.

No início, Veja contratou Reinaldo especificamente para rebater os ataques que sofria. Guardei 500 páginas de ataques, onde pululavam palavras como “ratazana”, “mão peluda”, “achacador”, “frequentador de sauna gay”.

Era uma autêntica antecipação do personagem do futuro filme Coringa. Posteriormente, crônicas futuras dele sobre traumas pessoais de infância confirmariam essa suspeita.

Pelo talento, sobreviveu a esse período de matador profissional e reinventou-se, ao contrário de Mainardi. Mas, a exemplo dos carrascos da ditadura, jamais se desculpou das baixarias. O receio é como se comportará na próxima onda de ódio.

O maior desafio que enfrentei foi não devolver as baixarias. Na época, indignado, o jornalista Nirlando Beirão me contou um episódio que teve com Reinaldo. Já era noite avançada quando Reinaldo bateu na sua porta, fora de si. Tinha entrado em uma briga com o jornalista Pepe Escobar e despejava imprecações, lamentos de forma desconexa, deixando Nirlando em dúvida sobre as motivações da crise.

Poderia maliciar o episódio, devolver os ataques com casos concretos, mas lembrei-me que ele também tinha filhas. E poupei-o – e poupei-me – de baixarias.

A série que escrevi ainda está em um site do Google, O Caso de Veja e o perfil de Reinaldo no artigo A Cara de Veja, no momento em que a revista iniciava uma campanha publicitária tentando mudar sua imagem.

A guerra acabou quando Sidnei Basile, em nome de Roberto Civita, propôs um armistício: se eu parasse de falar da Veja, eles retirariam os 5 processos que abriram em nome de seus jornalistas. Recusei. Os processos permaneceram, mas os ataques cessaram. No meio deles, fui abandonado pelos meus advogados Tais Gasparian e Samuel McDowell Figueiredo.

O levantamento da guerra está no livro “O Caso Veja”


O Blog de Beatriz Nassif

O segundo ponto de sustentação, o ponto focal de equilíbrio, eram as minhas menininhas, as caçulas de 9 e 10 anos. 

Quando entrei na guerra, sabia que seria inclemente e eu ficaria só. Antes, fiz uma reunião com as duas filhas mais velhas, e com a então esposa, mostrei o que vinha pela frente, que afetaria a elas também, e pedi sua opinião. A opinião foi unânime:

Pai, se você não entrar nessa guerra, você morre.

Mas e as menininhas?

Todo o arsenal de lixo da ultradireita – com o canhão da Veja na frente – era direcionado a poucos blogs. E eu merecia sua preferência, pelas críticas que fazia à revista. Toda manhã elas saíam para a escola, e não sabia o que chegaria a elas dos ataques recebidos, das baixarias despejadas pela cloaca de Reinaldo.

Meu termômetro passou a ser o Blog de Beatriz Nassif que ela, com apenas 10 anos, montou no WordPress.

Era um refrigério tanto para mim como para a comunidade que se formou em torno do meu Blog, todos sufocados pelo clima lançado no país pelo antijornalismo da Veja, e assumido pelos demais veículos.;.

Cada crônica que ela escrevia me aquecia o coração, por saber que não tinha sido atingida pelo mar de lama.

E me davam grande orgulho pela menininha tornando-se gente. 

Como esse poema, escrito aos 11 anos:

Diferenças

Publicado por: Bibi em 14 novembro, 2009

Todos nós temos diferenças

Alguns são bonitos, outros são feios

Alguns são céticos, outros tem crênças

Alguns são implicantes, outros são sensíveis

Alguns são mal humorados, outros são bem humorados

Alguns são fáceis de entender, outros são difíceis

Algumas pessoas podem ter uma vida madura, outros uma vida complicada

Mas todas as pessoas tem a mesma semelhança:

Todas têm diferenças


LEIA A MATÉRIA COMPLETA PUBLICADA NO DIA 27/4/2025 NO JORNAL GGN, DE LUÍS NASSIF

CLIQUE NO LINK ABAIXO

https://jornalggn.com.br/noticia/beatriz-contra-o-dragao-da-revista-veja-por-luis-nassif/e

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Mídia - Vandalismo jornalístico - O que a Folha pretende sugerir?


Folha de São Paulo, 19/1/2023

por José Esmeraldo Gonçalves

A foto de capa da Folha de São Paulo, hoje, foi feita pela fotógrafa Gabriela Biló em modo de múltipla exposição, que consiste em fotografar separadamente vários elementos e fundi-los em uma única imagem. O editor do jornalão deve ter delirado ao vê-la.  O carnaval não começou mas a Folha já vestiu uma fantasia digna do bloco dos sujos.

A imagem de Lula simplesmente ajeitando a gravata ganha nova e intencional leitura ao ser montada ao lado do ponto estilhaçado, qual marca de tiro, do vidro do Palácio do Planalto. Na leitura da foto publicada, um Lula de cabeça baixa, mão esquerda acima do peito, parece reagir ao impacto de uma bala no coração. 

Para os bolsonaristas radicais que se exibem armados nas redes sociais e prometem atirar no Lula é a cenografia do sonho acalentado. A Folha pode argumentar, em vão, que é apenas uma imagem que simboliza Lula acuado pelo terrorismo bolsonarista ou alvejado pela "presença militar" recorde no Planalto. Haverá um monte de versões.  O melhor para a Folha é assumir que tem assento no "gabinete do ódio".   

A foto que repercute nas redes sociais segue o estilo que o "jornalismo de guerra" da direita consagrou em 2016, quando a Veja fez uma capa com a cabeça do Lula decapitada, pingando sangue. Naquela ocasião, os editores da Veja devem ter corrido para o banheiro espalmando a capa como se fosse um pôster da Playboy. A Veja nem precisou pensar para criar a ilustração: copiou a Newsweek, que fez capa semelhante com Khadaffi; e a Time, que fez o mesmo com Donald Trump.
As primeiras páginas de jornais geralmente são discutidas pela cúpula das redações.
Imagino a turma em torno de uma mesa. "Do caralho", "Vai arrebentar, véio", "Vai quebrar a banca em Orlando";  "Manda aumentar o reparte da Papuda', "Carlos Bolsonaro vai amar"; "Vou avisar ao general Heleno, ele vai curtir"; "Liguei por Braga Neto, ele pediu um print", "Lacrou".      
   


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A mosca na sopa da bossa nova • Por Roberto Muggiati

José Ramos Tinhorão. Foto Instituto
Moreira Salles/Divulgação
José Ramos Tinhorão – morto nesta terça-feira aos 93 anos – foi um dos maiores pesquisadores da música popular brasileira, isso ninguém nega. Mas ele aplicava à sua opinião parâmetros da critica marxista, com um radicalismo que chegava às raias da paranoia. 

Num século em que a música popular se enriqueceu através de fusões internacionais, aceleradas pelo advento do rádio, do cinema e dos discos, Tinhorão ainda se apegava à ideia do nacionalismo cultural. Por esse critério, ele cancelava a arte de um Johnny Alf, por ter adotado um codinome ianque (sic), e a de Baden Powell, por homenagear com seu nome o criador do escotismo. 

Inimigo ferrenho da bossa nova, que definia como “uma versão pasteurizada do jazz”, Tinhorão dizia ter pena de Tom Jobim, “porque ele imagina que está compondo música brasileira”. Ficou famoso o líde de um texto seu para a revista Senhor em 1963: “Filha de aventuras secretas de apartamento com a música americana que é, inegavelmente, sua mãe – a bossa nova, no que se refere à paternidade, vive até hoje o drama de tantas crianças de Copacabana, o bairro em que nasceu: não sabe quem é o pai”. 

Nascido em Santos, filho de português, José Ramos teve o Tinhorão acrescido ao seu nome na redação do Diário Carioca nos anos 50. Explicação: o tinhorão é uma planta altamente venenosa. Recorro aos compêndios:

“O tinhorão (nome científico Caladium bicolor) é considerado uma planta muito tóxica, devido à presença de cristais de oxalato de cálcio e saponinas em suas folhas. O contato destas substâncias com os olhos, mucosas e pele pode provocar intensa ardência, inflamação e vermelhidão. A ingestão pode provocar edema de glote e consequente asfixia e morte.”

No auge de suas investidas contra a bossa, Tom Jobim plantou um pé de tinhorão em seu jardim, no qual fazia pipi religiosamente toda noite antes de dormir. 

Conheci Tinhorão de perto em 1968, quando ele foi trabalhar na editoria da Veja que eu chefiava, a de Artes e Espetáculos. Nunca entendi como um jornalista opiniático da sua cepa foi contratado por uma revista que pretendia implantar no Brasil o jornalismo objetivo da Time. Na verdade, Tinhorão chegou à minha editoria transferido da de Vida Moderna, com a qual se incompatibilizara. Uma coisa foi consenso na Veja: o Tinhorão não poderia nunca escrever sobre música. Principalmente no momento em que a bossa fazia o seu nome lá fora, com Sinatra gravando Jobim, e em que a Tropicália desfraldava a bandeira multicolorida da contestação. Não tive outra opção: escalei-o para responder as cartas dos leitores. Lembro-me do Tinhorão numa das “baias” da redação, discursando sobre o materialismo dialético e tentando doutrinar os jovens repórteres, entre eles Tárik de Souza, que se tornaria importante crítico musical.

Guardei um episódio pitoresco daqueles tempos. Uma das raras coisas ianques que Tinhorão tolerava – na verdade, adorava – eram os carrões. Mal começou a trabalhar em Veja, comprou um daqueles modelos vintage. Antes de chegar à redação, no prédio da Abril na Marginal do Tietê, costumava navegar lentamente pelas ruas da Lapa. Um belo dia, um coronel do Exército se apresenta na portaria da Veja com uma grave queixa: um funcionário da revista estaria assediando sua nora, seguindo-a insistentemente de carro ao longo das calçadas. Nunca ficou provado que o agressor seria de fato o nosso José Ramos, embora um desafeto tivesse trazido à baila que o Tinhorão foi personagem da peça de Nelson Rodrigues Bonitinha, mas ordinária, um sujeito metido a conquistador.

Figura polêmica, uma coisa ninguém poderá tirar de José Ramos Tinhorão: a importância cultural de livros como Pequena História da Música Popular, História Social da Música Popular Brasileira e A Música Popular no Romance Brasileiro. Num comentário contra a Universidade de São Paulo, ele ironizou um dia: “Eles comem Tinhorão e arrotam Mário de Andrade”. E não é que tinha razão?

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Rita, perdoe o rango! • Por Roberto Muggiati

Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sergio Dias. Foto de Antonio Trindade/Manchete

Em março de 1968 troquei o Rio por São Paulo para trabalhar no projeto da revista Veja, que seria lançada em setembro. Editar um newsmagazine nos moldes da americana Time era o sonho dourado de Victor Civita, tão importante que ele aposentou sua galinha dos ovos de ouro – a revista mensal de reportagens Realidade, o maior sucesso da Abril – para concentrar todas suas forças e finanças na semanal de atualidade. 

Numa estratégia equivocada, o velho VeeCee, 61 anos, adotou a grade funcional da Time, copiando seu expediente, preenchendo centenas de empregos com os melhores jornalistas do Brasil. O êxodo das redações cariocas para a Pauliceia somava algumas dezenas de editores, redatores e repórteres. Acontece que a Time – iniciada com um punhado de bravos em 1923 – evoluiu palmo a palmo até sua configuração de 1968, ao longo de cinco décadas, num cenário sociocultural específico, atravessando os crazy twenties, o crack da Bolsa, a Depressão, a Segunda Guerra, o boom dos anos 50, a Guerra Fria e os swinging sixties, ou seja, um cenário tipicamente norte-americano. 

Ainda: a campanha publicitária dava a impressão de que a Veja seria a Manchete da Abril. Esse erro foi bombasticamente reforçado na véspera do lançamento: transmitido pela TV em cadeia nacional às 20 horas de domingo 8 de setembro (a revista saía às segundas com a data de capa de quarta), um documentário de Jean Manzon mostrava a Veja cobrindo todas as frentes de guerra do mundo, que não eram poucas na época. A Abril se deu conta da imagem truncada ainda na fase dos “números zero” e – pior a emenda que o soneto – acrescentou ao veja do logotipo as palavras e leia. Fez ainda uma maciça distribuição de brindes para meio Brasil: uma lupa num estojo com a logomarca veja e leia.

A "Árvore" no topo da antiga
sede da Abril, na
Marginal Tietê
Não importa: o investimento foi tão maciço que a Veja, no início, se tornou um farol para a classe cultural brasileira. A tal ponto que seus jornalistas não se davam a pena de ir até os entrevistados, os artistas é que tinham de peregrinar até a Meca da Marginal do Tietê. Foi assim que – como editor de Artes e Espetáculos – recebi Rita Lee, Sérgio e Arnaldo Baptista em fins de 1968 para uma conversa na hora do almoço. Os Mutantes eram um foguete em ascensão nos céus da MPB. Em 1967 brilharam no Festival da 

Record acompanhando Gilberto Gil em Domingo no Parque; no ano seguinte fizeram história na final paulista do FIC, cantando sob vaias o polêmico É proibido proibir de Caetano Veloso. 

O recente anúncio da doença de Rita Lee me fez voltar àqueles tempos e me sentir, de certa forma, culpado. Não havia nenhum espaço decente na Abril para receber celebridades. Tinham de comer no horroroso galpão de madeira comunal dos jornalistas e demais empregados, que ficava num anexo ao lado do prédio da editora – quando chovia, e amiúde chovia  grosso, todo mundo se encharcava. Senti-me vexado ao receber os garotos – Rita e Arnaldo tinham 20 anos, Sérgio 18. Ainda não tinha aflorado ao sangue da ruivinha a rebeldia sulista de seus antepassados que lutaram na Guerra da Secessão – as irmãs, Mary Lee e Virginia Lee também foram nomeadas em homenagem ao general confederado Robert E. Lee – mas cheguei a recear, da parte de uma Rita Lee afrontada, algum protesto, como batucar numa panela, igual à matriarca dos filmes de faroeste, e chamar os caubóis para o rancho: “Come and get it!” 

No ano e meio que passei na Veja em São Paulo só uma vez fui convocado por Seu Victor para receber um convidado VIP, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, recém-consagrado “Velho Guerreiro” por Gilberto Gil em Aquele abraço, o hino de despedida do baiano ao partir para o exílio em Londres. Foi um almocinho tacanho naquele pequeno anexo na cobertura do prédio encimado pela árvore da Abril. Um cardápio tão banal que não guardo a menor lembrança do que foi servido. Não podia haver maior disparidade de temperamento entre o Civita e o Chacrinha, o motivo do encontro era um negócio, os dois iam ganhar muito dinheiro à custa do outro. Chacrinha era tão genial que tinha resumido toda a teoria do Marshall McLuhan num bordão: “Quem não se comunica, se trumbica.”

Glauber Rocha na capa da Veja, 1969

Recebi ainda outra celebridade, sem o menor aviso: uma tarde Glauber Rocha adentra meu cubículo de editor, avisado de que a Veja preparava uma grande matéria sobre seu “cordel Western” O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, que concorria ao Festival de Cannes de 1969. Além da alma de cineasta, Glauber tinha feeling de marqueteiro e faro de repórter e me encheu de mil detalhes sobre o making  of do filme: por exemplo, como uma pesada câmera foi perigosamente içada por meio de cordas a uma escarpada montanha no sertão baiano. Glauber ganhou o prêmio de melhor direção em Cannes, ganhou também a capa de Veja, a única que assinei, enriquecida pelas informações de cocheira do cineasta. Nem um cafezinho morno lhe foi oferecido no prédio da Abril.

Na Veja, em 1968. Foto Acervo Pessoal

Guardo da época uma única foto, um melancólico instantâneo, de paletó e gravata, no cubículo que dava para a terra devastada do Tietê. Rita Lee, em troca, era a glória, com seu olhar safado debaixo das franjinhas, rosto sardento, margaridas nos cabelos, bochechas rechonchudas, um fininho entre os dentes.

Pouco depois, eu voltava ao “balneário da república” para dirigir a Fatos&Fotos, na empresa que Adolpho Bloch definia como “um grande restaurante que, por acaso, imprimia revistas”. Em breve, aguardem no Panis Cum Ovum – até o título do nosso blog é uma referência culinária – um suculento relato sobre o Império Gastronômico da Manchete

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Parem as máquinas! Justiça vai decidir se "chumbrega" é ofensa...


por O.V.Pochê

Segundo o site Comunique-se, o governador João Doria, de São Paulo, está processando Jorge Kajuru. Doria faz várias queixas, uma delas porque o senador e jornalista o chamou de  "chumbrega" durante uma entrevista à revista Veja.

Friederich Herman Schönberg, o popular "Chumbrega" (1615-1690). Reprodução

A palavra vem do nome do militar alemão Friederich Hermann Schöberg, que comandou tropas portuguesas em batalha contra os espanhóis, no século 17. Schöberg foi contratado para reorganizar o exército de Portugal, mas não agradou à caserna. Na verdade era um conde, mais pra dândi, tinha bons contatos na nobreza, daí prestou serviços a forças de vários reinos e acabou se naturalizando francês. Seria, hoje, algo como um mercenário chique. Os soldados patrícios lhe aportuguesaram o sobrenome inicialmente para "Chumberga", que virou "Chumbrega" e se popularizou como sinônimo de "má qualidade", "ordinário","reles", ou "pessoa de mau gosto", segundo o Houaiss, que também admite a grafia alternativa "Xumbrega". Essa forma teria sido reduzida e o apelido do dândi Schöberg deu origem nos dias de hoje à palavra "brega", que o povão também usa como "tranquera", "tosco" e "cafona". 
A Justiça vai acabar contratando um perito em etimologia para resolver essa parada.  

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Revista Veja é condenada por publicar fake news

Do Portal Imprensa 



A decisão foi publicada no Diário Oficial de Justiça do dia 1º de junho e noticiada pelo Blog da Maria Frô, na versão on-line da Revista Fórum.
Em fevereiro de 2015, o jornalista, que atualmente integra a equipe do Antagonista, publicou uma matéria na Veja com o título “farsa no SUS”.
Nela ele fazia referência ao nascimento prematuro de Melissa e a sua internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista, durante 28 dias.
Na reportagem, Brasil falou que o ex-ministro da Saúde teria chamando médicos de sua confiança e de hospitais particulares para realizarem o parto e o cuidado da criança, não se submetendo ao mesmo tipo de atendimento e tratamento que o Sistema Único de Saúde oferece a qualquer usuário.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PORTAL IMPRENSA, CLIQUE AQUI



Da Revista Fórum


À Fórum, advogado de Alexandre Padilha e Thássia Alves detalhou a ação que acabaram de ganhar na Justiça contra o jornalista Felipe Moura Brasil e a revista Veja por conta de uma fakenews sobre o nascimento da filha do casal, pelo SUS, em 2015

Conforme noticiado pelo Blog da Maria Frô, na Fórum, o casal Alexandre Padilha e Thássia Alves acaba de ganhar uma ação na Justiça por calúnia e difamação contra o jornalista Felipe Moura Brasil e a revista Veja.


Em fevereiro de 2015, um texto de Moura Brasil na publicação da editora Abril chamava de “farsa no SUS” o nascimento de Melissa, filha do casal, no Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista. A reportagem mentirosa  relatava que o ex-ministro da Saúde teria realizado uma espécie de “maquiagem” no hospital público, chamando médicos de sua confiança e de hospitais particulares para realizarem o parto e o cuidado da criança, que nasceu prematuramente por conta de uma pré-eclâmpsia e teve que ficar internada por semanas na unidade. O artigo deixava claro seu objetivo de atacar Alexandre Padilha, como se ele e sua esposa não tivessem se submetido ao mesmo tipo de atendimento e tratamento que o Sistema Único de Saúde oferece a qualquer usuário.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NA FÓRUM, CLIQUE AQUI

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O drama de João Gilberto e o barquinho de Gilmar Mendes em águas agitadas

Aos 86 anos, João Gilberto vive uma crise familiar e financeira. É a capa da Veja.
Mas o que vai dar o que falar é aquela chamadinha lá em cima: "o juiz e o empresário".
O barquinho de Gilmar Mendes está navegando rumo a um iceberg...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Do Jornal do Brasil "Revista famosinha não gosta de professor"

por Walmyr Júnior* (para o Jornal do Brasil) 

A revista Veja afirmou recentemente que o profissional de educação é um peso para o Estado. Fiquei estarrecido e enojado com essa matéria, por perceber os interesses do grupo que administra a revista. A tendenciosa matéria afirma que os custos com os professores oneram as contas públicas, pois o estado ‘gasta muito’ e se perde muito dinheiro.

Essa falácia reproduz a postura de sempre desse tipo de jornalismo. Esse grupo não reconhece que a educação e a escola pública são fundamentais para a formação do povo brasileiro. Eles querem uma formação acrítica, que não discute com alunos e promovem diálogos, nos moldes da ‘escola sem partido’, justamente para terem ainda sob suas asas um povo pobre e sem estudos.

Para esse grupo a educação pública e de qualidade não pode ser oferecida para todas e todos, ela deve continuar sendo um privilégio das elites econômicas do país. Por isso vemos com tanta nitidez esses grupos se colocando contrário ao financiamento da graduação e pós graduação  destacado em suas matérias.

Eles não vão calar a educação com uma mordaça. Sabemos que os professores sofrem com atrasos de salários, com a falta de material didático, com precárias instalações das escolas. Vemos cotidianamente salas superlotadas, sem refrigeração, com goteiras no tempo de chuvas e vemos os professores lidarem com conflitos diários quando dão aulas em territórios criminalizados.

Além disso, professores colocam cotidianamente recursos dos seus baixos salários para comprar material de trabalho. Encaram a sala de aula como uma área de transformação social e não como uma fonte de renda.

Para aqueles que querem condenar os verdadeiros heróis dessa nação, podem desistir. Estaremos unidos contra o seu conservadorismo.  O professor é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

LEIA NO JORNAL DO BRASIL, CLIQUE AQUI