:
Redação da Manchete, 1971: um caso contado como o caso foi. Reprodução da Folha de São Paulosábado, 21 de junho de 2025
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Memórias da redação: O peixe polêmico do Cícero Sandroni * • Por Roberto Muggiati**
Cícero Sandroni com o fotógrafo Antonio Rudge na cobertura para a Manchete da assinatura do acordo atômico Brasil-Alemanha em 1975 |
Na ABL |
Sandroni na Manchete em 1969 |
Este episódio surreal é contado sempre de maneira diferente, dependendo do narrador. Como o presenciei de perto, garanto que a minha versão é a correta, exata nos menores detalhes. Cícero Sandroni, jornalista, contista, era uma pessoa culta em processo de mudança e fazia psicanálise há vários anos. Chefe de redação, sentava-se defronte da grande mesa em L do editor, que eu ocupava na época. Um dia, Jaquito cochilou e perdeu uma concorrência importante. Depois de xingá-lo de “cagalhão”, chamamento que usava para todos os parentes empregados na firma, Adolpho o mandou descansar em Cabo Frio. Mesmo com a lancha da Manchete à sua disposição, o agitado Jaquito não aguentou por muito tempo as férias forçadas. Resolveu peitar o tio e voltar antes do tempo de “repouso” que lhe fora imposto. Teve então a ideia de levar um agrado para amaciar o Adolpho. Conhecendo seus gostos, foi à colônia de pesca local e comprou o peixe mais robusto e bonito que encontrou, um cherne, robalo ou garoupa da mais nobre estirpe com quase um metro de comprimento. Assim que chegou ao Russell foi diretamente à cozinha e pediu ao Severino que desse um tratamento de gala ao precioso pescado.
Jaquito, é claro,
vangloriou-se ao Adolpho dizendo que ele mesmo tinha fisgado o bicho. (Recorreu
aos artifícios da prosa hemingwayana em O
velho e o mar, o único livro que leu na vida.) Acertou em cheio na sua
aposta. Orgulhoso da obra do seu chef de
cuisine – requintada como aquelas peças de ourivesaria que Benvenuto
Cellini lavrava para os papas – Adolpho decidiu exibir o prato na redação,
antes que ele fosse devorado no restaurante pela alta direção e pelos editores
da casa. O acepipe, sobre uma travessa de porcelana, foi trazido numa bandeja
de prata. O garçom, mal podendo arcar com o peso do troféu, o depositou no
centro da sala, sobre a mesa do Cícero, que havia se ausentado por alguns
minutos.
Quando se deparou
com aquele espetáculo, o Sandroni ficou profundamente ultrajado. Sempre se
sentira diminuído pelo Adolpho, que o chamava de “O Genro”, pelo fato de ser
casado com a filha do imortal Austregésilo de Athayde, o mais longevo
presidente da Academia Brasileira de Letras. Cícero retirou-se intempestivamente
e encaminhou depois seu pedido de demissão.
O desenlace da
história fere o sagrado sigilo do divã, mas correu que, na manhã seguinte, em
sua sessão de psicanálise diária, ao ouvir o relato do insólito episódio, o
analista teria perguntado ao Cícero: “Senhor Sandroni, não acha que está
exagerando nestas suas fantasias sobre os Bloch? Um peixe na sua mesa de
trabalho!...”
*Cícero Sandroni morreu aos 90 anos na
terça-feira, 17 de junho. Nascido em São Paulo, fez uma carreira bem-sucedida
na imprensa carioca. Entrou na Bloch no final de 1969 como meu chefe de redação
em Fatos&Fotos; foi meu chefe de reportagem e de redação da Manchete
em meados dos anos 1970. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2002,
presidente da Casa entre 2007 e 2009, fez parte do que carinhosamente chamamos
“a Máfia da Manchete na ABL”: R. Magalhães Jr, Josué Montello, Ledo Ivo,
Arnaldo Niskier, Afonso Arinos Filho, Carlos Heitor Cony, Murilo Melo Filho,
Geraldinho Carneiro e Ruy Castro. Viveu ainda um episódio curioso como jornalista
na gestão galhofeira de Raul Giudiccelli na F&F: Cícero escrevia
anonimamente a coluna de Horóscopo e, por uma incrível coincidência, previu o
sequestro de embaixador suíço no Rio.
**Esse texto faz parte do livro a ser lançado
em breve por Arnaldo Niskier e Roberto Muggiati, O humor na Manchete/Histórias do Grande Circo Adolpho Bloch.
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Fotomemória da redação: paparazzo de uma reunião de pauta...
![]() |
Reunião de pauta na redação da Manchete. Foto; Acervo bqvMANCHETE |
Pela ordem, a partir da esquerda, diante da mesa L: Alberto Carvalho, secretário de redação, o crítico de cinema Miguel Ângelo Alves (se não me engano); de pé, Maurício Gomes Leite (chefe de redação, seu apelido era Maurício Gomes Leiaute); Claus Meyer, Cícero Sandroni, Narceu de Almeida; junto ao telefone, Wilson Cunha. Dentro da mesa L: eu, Irineu Guimarães e Justino. Roberto Muggiati recorda outros fatos que orbitavam a famosa mesa "L" da Manchete.
"Em 1972 o Justino me guindou da redação do EleEla (onde eu era chefe de redação do Cony) para ser o "segundo" dele na Manchete. Quando Justino viajava em maio e se tornava o Cidadão Cannes eu editava a revista; assim foi em 1972, 1973, 1974 e 1975. Adolpho sentiu então que podia contar comigo na edição da Manchete e despachou o "Índio" com uma megafeijoada em 1975. O grande sonho dele sempre foi tirar o Justino da direção da "melhor da galáxia". Essa foto foi feita há 45 anos, que coisa! O mundo gira e a Lusitana roda!"
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
Pequena lembrança do grande poeta
![]() |
Foto: Divulgação/TV Globo |
terça-feira, 29 de novembro de 2016
Cícero Sandroni e Fidel: o jornalista e o comandante
O Globo, hoje, na coluna do Ancelmo Gois, publica o texto e a foto que reproduzimos acima. O próprio repórter, Cícero Sandroni, conta os bastidores da cobertura da primeira visita de Fidel Castro ao Brasil, em 1959. Na época, ele trabalhava no Globo.
Sandroni, que hoje integra a Academia Brasileira de Letras, passou por vários e importantes veículos cariocas: O Cruzeiro, Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, entre outros. Após o AI5, como tantos jornalistas, sofreu perseguição política e foi impedido de atuar no jornalismo diário. Adolpho Bloch, como Roberto Marinho, recebeu nas redações vários desses profissionais visados pelos militares. Sandroni foi um deles, no caso da Bloch.
No Russell, foi redator-chefe das revistas Fatos e Fotos, Manchete e Tendência. Em 1974, ele dirigia a Tendência quando a recém-criada revista de economia ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria de Melhor Contribuição à Imprensa.