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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Sonhos eternos - Claudia Richer por Claudia Richer

Neste outubro de 2025 perdemos a jornalista Claudia Richer, que trabalhou na Bloch nas editorias de publicações dirigidas para o público feminino, incluindo a Mulher de Hoje.

Ela deixa saudades registradas por muitos colegas seus contemporâneos, que se manifestaram no Facebook.
O fotojornalista Alex Ferro encaminhou ao Panis cum Ovum, o belo texto que reproduzimos abaixo e que traduz a memória pessoal e a sensibilidade de Claudia Richer. Originalmente publicado no blog Campos dos Goytacazes em Fotos, de João Pimentel, o relato escrito em outubro de 2011 reúne memórias da infância da jornalista. "Era uma vez, há muitos e muitos anos, uma menina que teve o privilégio de conhecer e viver em um reino encantado. Como aqueles dos contos de fada que saltam dos livros e das telas do cinema. Tão encantado e tão mágico que até hoje passeia pelos pensamentos e pela imaginação da criança que deixei de ser faz tempo", destacou Claudia, nas suas lembranças.


NA TERRA DOS SONHOS REAIS
Martins Laje - Campos dos Goytacazes (RJ)





Meu nome é Claudia, Claudia Richer.
O sobrenome lhes soa vagamente familiar?
Sou neta de Jacques Richer que ergueu e dirigiu a destilaria de Martins Laje, em Campos, RJ.
E já que vou contar uma história, devo começar como todas as outras que ouvi ao longo da vida.
Era uma vez, há muitos e muitos anos, uma menina que teve o privilégio de conhecer e viver em um reino encantado. Como aqueles dos contos de fada que saltam dos livros e das telas do cinema. Tão encantado e tão mágico que até hoje passeia pelos pensamentos e pela imaginação da criança que deixei de ser faz tempo.
Um dia Martins Laje apareceu em minha vida de menina gorducha, cheia de cachinhos, vestidos com rendas e babados, pulseiras e muito outros enfeites. Apareceu porque lá viviam meus avós paternos, Carmem e Jacques Richer. E nunca mais saiu de mim, ainda que eu e o tempo insistamos em negar.
Martins Laje não era nada, talvez um ponto distante no mapa. Apenas isso.
Mas para mim era tudo.
Era apenas uma rua, de terra batida, mas parecia Nova York, o centro do mundo, do meu mundo, do mundo que meus olhos de criança enxergavam. Era a aventura, o sonho, o horizonte sem limites, o tudo querer e o tudo conseguir. Era um reino de princesa para alguém que se imaginava dona do mundo. A casa 4 era um reino com direito a jardim, bola de gude, amarelinha, casa de boneca, teatro com palco e cortina(a paixão é antiga mesmo), horta, pé de carambola, tamarindo, galinheiro, gatos... o céu mais lindo do mundo, sempre estrelado! E as estrelas sempre brilhavam em meus olhos, me fazendo sonhar, sonhar, sonhar.
Mas não tinha televisão (não era época ainda). Computador, então, nem se fala. Tinha telefone, mas era preciso chamar a telefonista do posto primeiro e pedir a ligação.
É, podem perguntar o que este lugar tinha de tão especial?
Tudo.
Tinha a imaginação solta, a felicidade por tudo e por nada, a capacidade infinita de sonhar sem limites. E o que pode ser melhor do que a capacidade de sonhar sem limites?
Tinha o amanhã sem receios, sem medo, sem tristeza, e até mesmo sem amanhã.
Tudo era hoje, agora.
Tinha cana também, tirada diretamente do pé, em frente de casa, perto da linha do trem.
Tinha trem. É, trem. Maria Fumaça mesmo.
Tinha chaminé e o apito das 11h30 anunciando a hora de almoço.
Tinha Guilhermino, o jardineiro e Vera, sobrinha dele; seu Francisco que cuidava da horta e Rosa, filha dele; Noêmia, a cozinheira; Vilma, seu Martinho, Dona Anita; Vavá, o motorista; o sucesso dos meninos da casa 2; Maria Helena, professora do grupo escolar Alberto Lamego, bem na entrada de Martins Laje. Tinha tanta coisa, tanta gente, muitos nomes, muitos rostos, doces lembranças, as melhores possíveis. Alguns me fogem, outros, não, mas todos ficarão guardados para sempre no meu coração.
Mas naquela época eu ainda não sabia como doeria reconhecer a necessidade de acordar e perceber o quanto tudo isso me faria falta um dia. Não sabia que abriria os olhos e veria que Martins Laje foi um sonho, um sonho encantado, é verdade, mas um sonho e que jamais voltaria a acontecer. Jamais seria meu outra vez. E eu jamais seria criança de novo para viver Martins Laje como antes.
A casa dos sonhos reais desapareceria. Martins Laje despareceria. E a vida “normal”, “real” retomaria seu curso, nem sempre desejado, é verdade, mas retomaria. Como a Maria Fumaça que seguiu em frente e desapareceu. Como a chaminé que nunca mais apitou e hoje nem mesmo é um pálido retrato daquilo que um dia significou. Como a destilaria, que depois da morte do meu avô passou ganhou o nome dele e que hoje – abandonada – não passa de mais de uma imagem perdida no tempo.
Mas naquele momento, a fartura de emoções era absoluta e eu só pensava nisso.
Queria mais. Mais sonho, mais festa, mais estrelas brilhando, mais passeios a cavalo, mais, mais, mais. Tudo mais.
Tudo mais! Nunca mais!!!!!!!!
Tinha meu avô – super querido e super avô - que ensinava a mim e a Martha, minha irmã, a ver as horas no relógio de madeira com algarismos romanos no fundo do corredor. Que me deixava derrubar litros de álcool na destilaria, que deixava tudo. Lá, tudo era possível e permitido. Minha avó não tinha limites e permitiu que eu acreditasse na ilusão do para sempre.










E assim eu cresci, achando que o mundo estaria eternamente a meus pés, como Martins Laje sempre esteve. Mas ninguém me avisou que de repente eu já não teria mais Martins Laje, estrelas, sonhos, infância. Muitos anos depois descobri que não era nada disso. E sofri até porque o mundo aqui fora era “o avesso do avesso” do que eu vivera até então. Tudo aconteceu tão depressa, e, no entanto, parece que foi ontem.
Disney? Diante disso, quem precisava de Disney?
Tinha cheiro de bolo, saindo quentinho do fogão a lenha, ovos batidos viravam glacês enfeitados, manteiga de nata, chuvisco, bolo de tronco, fios de ovos, gargalhada, joelho ralado, e sonhos (o doce também) à vontade. Sempre os sonhos. Doces ou não.
Tinha a vendinha – com paçoca, picolé que ficava branco e muita bobagem colorida; o cinema capenga, coitadinho, mas que era um programa como poucos.
Que fizeram de tudo isso? Onde foi parar o sonho? Onde foi parar Martins Laje?
Martins Laje existiu mesmo algum dia? No meu sonho, talvez.
Não saberia responder. Existiu?
Como seria hoje lá? Como seria eu em Martins Laje?
Parece que derrubaram a destilaria.... para onde foi tudo aquilo? Em que história foi morar o meu reino encantado?
Para onde foi a criança que sonhava perto dos canaviais?
Para onde foi o sonho? Para a memória, talvez. Para o passado, com certeza. Para o nunca mais? Será? Será mesmo?
Mas Martins Laje está logo ali, tão perto, tão nítida, tão real... será?


(Claudia Richer, Rio de Janeiro, outubro de 2011)

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Assinado por 1004 jornalistas, manifesto histórico que denunciava manipulação da investigação do Caso Vladimir Herzog completa 45 anos.


Reproduções/Instituto Herzog

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por José Esmeraldo Gonçalves

Em fins de janeiro de 1976, um importante documento circulou nas redações do Rio, São Paulo e outras capitais. Era o manifesto "Em Nome da Verdade" que pedia esclarecimentos sobre a investigação do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no Doi-Codi paulista, em 25 de outubro de 1975. 

A farsa estava montada. Uma portaria do II Exército se referia à apuração do "suicídio", já impondo a futura e falsa versão oficial da ditadura em proteção aos torturadores que mataram Herzog. 

Restava reagir à mentira. Um total de 1004 jornalistas assinaram o manifesto. Ler a relação é simbolicamente reencontrar nomes de uma geração de caros e combativos colegas, entre os quais muitos que deixaram saudades. O documento circulou nas redações da Bloch, no Russell, onde Pedrosa Filho, então chefe de reportagem da Fatos & Fotos, colheu assinaturas. Em toda a Bloch foram mais de 30 apoios. O manifesto foi publicado no Estadão, no dia 3 de fevereiro de 1976, há 45 anos. 

Em março de 2020, o MPF apresentou denúncia contra seis pessoas pelo assassinato e por terem forjado o suicídio de Herzog. O caso foi parar na 1ª Vara Federal Criminal de São Paulo, famosa por negar  todas as denúncias do MPF sobre os crimes da ditadura militar. Dois meses depois, a denúncia foi... rejeitada.



Reprodução

No livro "Dossiê Herzog - Prisão, tortura e morte no Brasil",. Fernando Pacheco Jordão agradece aos 1004 jornalistas que assinaram o manifesto.

O texto do manifesto "Em nome da Verdade", com a relação dos jornalistas que o assinaram (agora 1006, com dois nomes recuperados) pode ser lido AQUI

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Domingo Ilustrado: fragmentos do tabloide perdido de Samuel Wainer




Reprodução Domingo Ilustrado



por José Esmeraldo Gonçalves

O semanário Domingo Ilustrado talvez tenha sido a publicação de vida mais curta da história da Bloch. Durou de 1971 a fins de 1973. Samuel Wainer era o diretor. 

 "Samuel Wainer, o homem que estava lá', de Karla Monteiro" lançado em setembro passado - aliás um ótimo livro - tem um capítulo sobre essa aventura jornalística. A redação reunia Maria Lúcia Rangel, Tato Taborda, Luís Carlos Maciel, Martha Alencar, entre outros, além de colaboradores de prestígio levados por Samuel, como Bruno Pedroso e Arthur da Távola.. 

Domingo Ilustrado vinha com o slogan "o jornal-revista do fim de semana". Era um tabloide colorido, excessivamente colorido, popularzão, estilo France Dimanche, sem grampos, impresso no mesmo couchê das revistas. 

O livro conta que Adolpho detestava Samuel e Samuel detestava Adolpho. Quem ousou juntar os dois em um mesmo projeto, supremo risco, foi João Pinheiro Neto, que quis ajudar o amigo então desempregado e apelou para Adolpho. Samuel desprezava o patrão. Com licença do título da Karla, era o homem que não devia estar lá, mas engolia sapos para não perder o emprego. "Samuel se submeteu a muita coisa humilhante. Ele (Adolpho Bloch) era tão grosso que virava piada. Se a gente apertava o botão do elevador duas vezes, batia na sua mão", recorda Martha Alencar em um dos depoimentos colhidos para o livro. 

Domingo Ilustrado acabou como começou, de repente. Adolpho cansou do prejuízo. Uma das expectativas, imaginem, era que os cariocas levassem o tabloide para ler na praia, junto com a cadeira, a esteira e a barraca, os apetrechos da época. Talvez um ou outro desafiasse os ventos e levasse mesmo o Domingo à areia, mas não virou moda e não garantiu as vendas.

Tente encontrar o Domingo Ilustrado em sebos de revistas. É impossível ou difícil. Vá ao Google, há poucas referências, algumas indexadas justamente do livro da Karla Monteiro. 

Refinando buscas, variando comandos na barra de pesquisa, encontrei dois sites que reproduzem matérias do jornal-revista: os blogs http://caetanoendetalle.blogspot.com/http://antiguinho.blogspot.com/2016/06/jornal-domingo-ilustrado-wanderleia.html

E só.

Domingo Ilustrado é o Percy Fawcett do jornalismo. A Atlântida da mídia impressa.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Fotomemória: José-Itamar de Freitas (1934-2020) na redação da Fatos & Fotos, na Frei Caneca...

Aos 85 anos, o jornalista José-Itamar de Freitas, que dirigiu o Fantástico durante 16 anos, foi mais uma vítima da Covid-19. Zé Itamar fez história como diretor da Fatos & Fotos. Foi na semanal da Bloch que ele conquistou um Prêmio Esso, em 1965, com a série de reportagens "os Filhos Proibidos".
Aqui homenageamos o colega em forma de fotomemória; duas raras imagens feitas quando a Bloch ainda estava na rua FreiCaneca, ao lado de um timaço de jornalistas.


Na redação: Cordeiro de Oliveira, Nilo Martins, Orlandinho Abruonhosa, Nelio Horta, Laerte Morais Gomes, Leo Schlafman, Paulo Henrique Amorim, Hedyl Valle, Robertinho (barbeiro). Na mesa: José-Itamar de Freitas e Ney Bianchi. Foto: Arquivo Pessoal Nélio Horta

Leo Schlafman, Jaquito, Arnaldo Niskeir, Nilo Martins, Pilha, Claudio Mello e Souza, Macedo Miranda, José-Itamar de Freitas, Evaldo, Ney Bianchi , Ezio Speranza e Laerte Gomes. Foto: Arquivo Pessoal Nélio Horta

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A Tribuna da Imprensa saiu das bancas há dez anos. O que não saiu até hoje foi a indenização dos jornalistas que trabalhavam lá

A última edição da Tribuna da
Imprensa: 1° de dezembro de 2008.
Veículos impressos quando vão à falência geralmente deixam um vazio nas bancas e um buraco sem fim no bolso dos jornalistas. Jornal do Brasil, Bloch, Tribuna da Imprensa... A lista é longa. Ou não pagam porque alegam que não têm bens ou deixam massas falidas ricas, mas que se consomem em burocracia e em caras estruturas administrativas ao longo dos anos, restando pendente a complementação das indenizações trabalhistas. A falência da Bloch Editores, por exemplo, atinge a maioridade: fará 18 anos no próximo mês de agosto. Ainda existem ações em curso e, entre aquelas que foram encerradas, a Massa Falida da Bloch deve parcelas da correção monetária de lei.

Há poucos dias, em reunião no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, cerca de 40 profissionais habilitados em processos movidos pelo SJPMRJ foram informados pela advogada Claudia Duranti que ganharam as ações para recebimento dos valores que o jornal lhes deve, mais de R$3 milhões, no total. Ganharam, mas não vão levar, pelo menos não em curto prazo. A Tribuna deve a outros credores mais de R$ 400 milhões. Segundo a advogada do SJPMRJ, "a saída para que os jornalistas recebam o que lhes é devido mais rapidamente requer uma ação para que sejam privilegiados os créditos trabalhistas, que são de natureza alimentícia, e têm prevalência sobre as demais dívidas". Ou seja, a longa luta deverá continuar.

A Tribuna fechou as portas em dezembro de 2008. Na última edição, o proprietário, Hélio Fernandes (aos 98 anos, ele se mantém ativo no blog oficial da Tribuna), escreveu no editorial da primeira página que era "momentânea" a interrupção da circulação. E lá se vão quase dez anos. Hélio Fernandes acreditava que logo receberia uma milionária indenização do governo federal por ter sofrido censura prévia e represálias durante oposição à ditadura militar. Embora o STF tenha reconhecido o direito à indenização, esse processo ainda se arrasta.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

1982 • Antes do começo do fim

por Roberto Muggiati

Os editores reunidos: de pé, a partir da esquerda: Janir de Hollanda, Roberto Muggiati, Lincoln Martins (Geográfica Universal), Edson Pinto (Amiga), Roberto Barreira (Desfile), Daisy Prétola, Gervásio Baptista (Fotografia). Sentados: Marília Campos (Carinho), Justino Martins (Manchete), Vera Gertel (Desfile), José Resende Peres (Agricultura de Hoje) e Teresa Jorge (Pais & Filhos).

A foto – posada no estúdio do Russell para a edição de 30 anos da Manchete – irradia uma alegria contagiante. Era 1982 e ainda corria nas veias de Adolpho Bloch tinta de impressão, como ele costumava dizer.

A Bloch se candidatara a um canal de televisão em 1975. Naquele mesmo ano, 23 de outubro, uma dupla derrota para Adolpho. O Presidente Ernesto Geisel concedia a outro judeu, o Abravanel de Niterói, Sylvio Santos, o canal 11 de televisão. E do Petit Trianon chegava a notícia de que um escritor quase desconhecido, o goiano Bernardo Élis, era eleito para a Academia Brasileira de Letras, derrotando Juscelino Kubitschek. Foi o único Presidente da República rejeitado pela Academia (Getúlio foi eleito em 1941, Sarney em 1980 e Fernando Henrique em 2013). A derrota se deveu pura e exclusivamente à pressão da ditadura militar, que não o queria ver Juscelino eleito sequer síndico de condomínio...

Adolpho e JK decidiram não chorar sobre o leite derramado. Abriram o salão de festas, estouraram algumas garrafas de champanhe e o ex-presidente pé-de-valsa dançou o Peixe Vivo até altas horas. Anos depois, assumiu o último Presidente militar, João Baptista de Figueiredo, com uma postura mais simpática. Ao receber D. Sarah Kubitschek em Brasília em meados de 1979 para a construção do Memorial JK, começaram as tratativas para conceder uma TV à Bloch. Em 1980, Figueiredo distribuiu entre Adolpho Bloch e Sylvio Santos nove concessões das extintas Redes Tupi e Excelsior. Cinco delas couberam à Bloch: Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. Era a Rede Manchete de Televisão que surgia e iria ao ar na noite de domingo, 5 de junho de 1983, com o fabuloso logotipo do M voador.

Era a crônica de uma morte anunciada. A TV viera para sepultar a editora. O segundo de publicidade na telinha valia mais do que milhares de metros quadrados de páginas duplas impressas. Uma morte ao mesmo tempo real e simbólica marcou esta transição. Em 10 de agosto de 1983, dois meses depois da estreia da TV, Justino Martins chegou à redação uma terça-feira, lá pelas dez da manhã, era o dia mais calmo, depois do fechamento na segunda e antes da saída da revista nas bancas na quarta. Com sua clássica sacola da Air France a tiracolo, falou comigo, que era o seu “segundo”: “Toma conta das coisas, tchê, que vou fazer um exame no Hospital dos Servidores.” O Servidores era uma referência, o Presidente Figueiredo internou-se lá quando teve sua crise cardíaca, e o diretor, Raymundo Carneiro, era um grande amigo do Adolpho. As notícias não foram nada boas. Justino tinha um câncer de pâncreas fulminante. Duas semanas depois, foi transferido para a Clínica Sorocaba, em Botafogo, onde morreu na noite de domingo, 28.


A Rede Manchete fez uma televisão de alto nível, com programas de qualidade e novelas esmeradas e de repente topou com um filão de ouro ao lançar a novela Pantanal, sucesso absoluto de março a dezembro de 1990, com um ibope devastador. Ironicamente, a novela, Amor pantaneiro, ficou engavetada na Central Globo de Produções, e acabou cancelada na estação de chuvas de Mato Grosso. Quando a Rede Manchete contratou Benedito Ruy Barbosa, ele veio com Pantanal debaixo do braço. Os elevados índices de ibope assustaram a todo-poderosa Globo. Por que a novela das oito da Globo começa depois das 21 horas? Porque a Globo não ousava iniciar a sua novela das oito enquanto Pantanal estivesse no ar. Ia então esticando interminavelmente o Jornal Nacional.


Infelizmente, a Bloch – prisioneira da cultura da empresa familiar – não soube tirar proveito do êxito de Pantanal. Ao contrário, mergulhou em águas turvas e foi se complicando cada vez mais. Investiu em fracassos estrondosos como Brida, novela baseada no livro de Paulo Coelho, e Tocaia Grande, de Jorge Amado (não era uma Gabriela, nem um Dona Flor nem uma Tieta.) Tocaia foi ao ar em 16 de outubro de 1995.

Poucos dias depois, descendo do restaurante do 12º andar para o elevador do 11º, Adolpho me pediu que o amparasse naquela escada terrível sem corrimão com piso de tapete felpudo. Enquanto eu segurava seu braço com todo cuidado do mundo, ele se lamuriou: “Muggiati, estou fudido. Você não queira ter a minha vida de jeito nenhum...”

Um mês depois, no Dia da Bandeira, 19 de novembro, na madrugada de domingo, ele morria num hospital de São Paulo.

Outra ironia: foi por ter sido avalista de uma dívida irrisória da TV, coisa de uns dez mil dólares, que
acabou se transformando numa bola de neve, que a Bloch Editores se encaminhou para a concordata e a falência final.



Antes do fim da editora, a TV foi passada adiante. Um arremate sórdido que diz tudo da novela: em 2010, o M voador que era o símbolo augusto da Rede Manchete, foi encontrado em alto estado de corrosão num brechó de beira de estrada na BR-465, antiga Rio-São Paulo.

Ainda não apareceu ninguém para arrematar a peça.



domingo, 10 de dezembro de 2017

Embalos de sábado à tarde: confraternização de fim de ano dos Amigos da Bloch

Ontem, sábado, o Graça da Vila, no Catete, recebeu os Amigos da Bloch para o tradicional encontro de confraternização 
de fim de ano. 

Hora de despachar 2017 e que venha um 2018 bem melhor. 

Entre os colegas presentes, Jileno, Fuks, Ana Lúcia Bizinover, Dalce, Amaury, Lairton, Jussara, Maria Alice, Décio, Tânia, Marco Antonio, Fernanda, Antonio, Gilmar, Paulo Roberto, Daniel, Ari, Liane, Ana Laura, Flávia, Reinaldo, Alex, Nilton Rechtman, Nilton Ricardo, Gavino, Regina, Tiana, Vargas, Bia, Márcia, Kátia, Elço, Luís Carlos, Angela, Athayde, Paulo, Adriana, Fátima, Gerson e Geraldo Felipe.

















terça-feira, 10 de outubro de 2017

É festa! Lairton Cabral comemora 80 anos



O aniversariante com Décio e Jorge, amigos e colegas da ex-Bloch.

Lairton Cabral comemorou 80 anos, no sábado passado. É difícil encontrar entre os milhares de jornalistas e funcionários dos setores administrativos que passaram pela Bloch alguém que não conheça Lairton, o Lalá, como é carinhosamente chamado.

Toda a logística das revistas e, depois, da Rede Manchete, passava por ele. Hotéis, passagens de avião, aluguel de carros, autorizações etc, saiam da sua agitada mesa.

Além disso, como secretário executivo, atendia às demandas da presidência da empresa. Não era pouca coisa.

Difícil passar no corredor e não vê-lo ao telefone resolvendo os pepinos, sem perder a calma e o bom humor.

Para usar a linguagem que Lairton adotava ao se comunicar com as companhias aéreas - antes da Bloch, ele foi da Panair - aí vão os nossos Papa-Alfa-Romeo-Alfa-Bravo-Echo-November-Sierra !!!

sábado, 23 de setembro de 2017

Fotomemórias das redações: eles se 'teletransportavam' entre o JB e a Bloch...


Os diagramadores Oswaldo, Nélio e Laerte, que trabalharam na Bloch e no JB posam
na sacada da antiga sede do JB, na Av. Rio Branco. A foto é dos anos 60, pertence ao acervo
de Laerte e foi publicada originalmente no blog Álbum Jotabeniano. 

No detalhe de uma foto do acervo de Nélio Horta, Ezio Speranza e Laerte Gomes
na redação da Fatos & Fotos na rua Frei Caneca, nos anos 60.

Oswaldo e o repórter e redator Sérgio Riff no JB, sede da Av. Brasil. Foto publicada
originalmente no blog Álbum Jotabeniano.

Até as décadas de 1970 e 1980, a imprensa carioca oferecia mais diversidade como opção de trabalho para jornalistas. Quer dizer, havia mais patrões à disposição. Sem enumerar todos os veículos, eram cerca de oito jornais diários e quatro editoras de revistas pertencentes a dez empresas. Era comum a rotatividade de profissionais nessas redações. Talvez fosse raro encontrar um jornalista que não tivesse passado ou viesse a passar por quatro a cinco desses grupos ou veículos.

Na extinta Bloch, por exemplo, eram muitos os coleguinhas que de lá saíram para o Jornal do Brasil ou que fizeram o percurso inverso.

Mas havia uma classe, a dos diagramadores, que até acumulou os quatro endereços: a Bloch, na Frei Caneca e, depois, no Russell, e o JB na Rio Branco e, em seguida, na Av. Brasil. Fácil de explicar: o horário de trabalho nas revistas era normalmente das nove às seis, com raros "pescoções" nos fechamentos; para os diagramadores, especialmente aqueles que desenhavam os cadernos de Cidade, Política, primeira página etc do JB, a demanda começava às seis, sete horas.

Era uma correria, mas, segundo eles, era possível conciliar os dois times.

Jornalistas que trabalharam no lendário JB criaram em 2010 um blog de memórias. Desde 2013 não é atualizado, mas tem fotos memoráveis e pode ser acessado no endereço http://albumfotojotabeniano.blogspot.com.br/

 há fotos de várias colegas que acumulando ou em épocas diferentes tiveram a  Bloch e o JB nas suas trajetórias profissionais, como os  diagramadores Nélio Horta, Oswaldo Carneiro, Laerte Gomes e Ezio Speranza e o repórter e redator Sergio Riff, que depois de passar pelo JB trabalhou na Fatos & Fotos, Fatos e EleEla. 

Este Panis já contou o "causo" de um fotógrafo da Manchete que recebeu duas ordens de serviço para o mesmo dia e horário, uma em Niterói e outra na Barra da Tijuca, e, indignado, reclamou com o chefe de reportagem: “Cara, olha só, eu não sou onipotente, não!”.

No caso, os acima citados diagramadores JB-Bloch conseguiam ser onipresentes. Com igual competência e arte.

domingo, 10 de setembro de 2017

Vic do Telex: a mensagem final


Vic, no Bar do Ernesto,
na Lapa, durante
feijoada
confraternização
de fim de ano.
por José Esmeraldo Gonçalves

Para nós, era o Vic do Telex. Durante décadas, quando a Bloch manteve sucursais em várias capitais do Brasil e escritórios atuantes em Paris, Nova York, Roma e Tóquio, boa parte dos textos das revistas passava pelos terminais operados pelo gente boa Vicente de Paula Miranda.

As equipes enviadas para matérias no Brasil ou no exterior tinham no telex do Vic ponto de contato com os enlouquecidos fechamentos. Era também o canal usado para as mensagens de emergência que tentavam sensibilizar o caixa da empresa a reforçar as diárias de repórter e fotógrafo, cujas verbas geralmente minguavam antes do fim da missão. Era certo que Vic recebia o apelo e o levava logo ali ao lado da sua sala, diretamente às mãos de quem podia autorizar a remessa salvadora.

Se aquela máquina barulhenta era um centro nervoso da produção jornalística, seu operador era o oposto. Calmo, discreto, prestativo. Vic era da paz. E, em matéria de companheirismo e amizade, uma unanimidade. Capaz de fazer amigos até pelo DDI e DDD.

Com a falência da Bloch, a vida dispersou muitos colegas, mas em tradicionais reuniões de confraternização, nos fins de ano, Vic era uma das mais festejadas presenças entre aqueles que foram passageiros de um mesmo barco, nas calmarias e tempestades, à deriva ou atracado em uma certa Rua do Russell.

Vicente faleceu na última sexta-feira, dia 8, vítima de um infarto. Faria 75 anos no dia 20 de setembro. Trabalhou na Bloch durante 43 anos. Ainda lutava - como muitos dos ex-empregados - para receber da Massa Falida da empresa a quitação da correção monetária sobre o montante do "principal" da sua indenização trabalhista.

Deixa três filhos e 13 netos.

E leva a admiração dos colegas pela amizade, integridade e profissionalismo com que marcou sua vida.

domingo, 27 de agosto de 2017

Memória da redação: quando uma foto-bomba da EleEla abalou a moral e os costumes da ditadura...

Alexandre Garcia: Reprodução da foto principal da matéria "O porta-voz da Abertura"
publicada na EleEla, em novembro de 1980. A foto de Frederico Mendes provocou
a demissão do jornalista, na época assessor de imprensa do general João Figueiredo.

Em fins outubro de 1980, Alexandre Garcia, então porta-voz do general João Figueiredo, foi entrevistado pela EleEla. A foto de abertura da matéria incomodou a ditadura. Garcia foi fotografado por Frederico Mendes para uma entrevista sob o título: "O porta-voz da Abertura". A EleEla foi para as bancas no começo de novembro daquele ano. Em seguida, a Veja publicou na seção de política a nota "Vulgaridade Palaciana", onde criticava a matéria. As senhoras da República militar sofreram tremores morais noturnos e a alta cúpula do Planalto reagiu. O porta-voz foi demitido.

Gervásio Baptista e Alexandre Garcia.
Foto publicada no Facebook de Dalva Tosta, que atuou
nos setores administrativos e financeiros da Bloch
dos tempos áureos e assessorou Adolpho Bloch.
Na mesma época, Adolpho Bloch começava a equipe e a estrutura da Rede Manchete em Brasília e contratou Alexandre Garcia como diretor de jornalismo da sucursal de Bloch Editores e da futura Rede Manchete, que entrou no ar em 1983.

Foi lá que o jornalista conheceu Gervásio Baptista, o fotógrafo da Manchete, com quem acabou convivendo em Brasília durante quase quatro décadas (Alexandre Garcia transferiu-se para a Globo no fim dos anos 1980 e Gervásio foi fotógrafo oficial de Tancredo Neves e da Presidência no governo Sarney, a partir de 1985).

Na semana passada, Alexandre Garcia, 76, visitou Gervásio, hoje com 95 anos, em Brasília.

Quanto ao episódio da entrevista à EleEla, foi narrado pelo próprio Alexandre Garcia no seu livro de memórias "Nos bastidores da notícia", nos trechos abaixo. Em meio ao relato, uma informação curiosa: Figueiredo era leitor da seção Forum, da EleEla, um espaço da revista que selecionava depoimentos e fantasias sexuais nada constitucionais.

"Entreguei  um (exemplar) para  o  presidente,  pedindo  que  lesse  a entrevista,  e  outro  para  Heitor (N.R. Heitor de Aquino,secretário particular de Figueiredo)  O  presidente  leu.  Foi  o  que demonstrou  no  dia  7  de  novembro,  uma  sexta-feira.  "Tínhamos trocado de avião no aeroporto Santos Dumont. Saímos do Boeing e tomamos um Buffalo, que nos levaria a Pindamonhangaba, para a inauguração  de  uma  aciaria  da  Villares.  Na  cabeceira  da  pista, estourou  um  conduto  hidráulico  dentro  da  fuselagem  e  o  fluido molhou toda a roupa do presidente. Eu estava sentado  diante  dele, do outro  lado,  pois era um avião de pára-quedistas. Ele começou a tirar a roupa e me olhou com um jeito maroto: "Será que estou seguro, tirando as calças na tua frente?" Eu  ri  e  ele  continuou,  contando  uma  história  que  o impressionara  e  estava  no  "Fórum"  daquela  edição  de  Ele  &  Ela. Naqueles dias, a revista já estava nas bancas." (...)

"Na  segunda-feira,  10 de  novembro,  o Kraemer (N.R. Marco Antonio Kraemer, assessor de Figueiredo) veio avisar-me  de  que  Farhat (N.R. Said Farhat,  ministro da Comunicação Social do governo Figueiredo)  desejava  falar  comigo.  Eram  umas  quatro  da tarde, e  o  ministro estava  saindo  para  tomar um  jatinho da  FAB na  base  aérea.  Iríamos  conversar  no  Galaxie  ministerial,  no caminho para  o aeroporto. Mal deixamos  o  palácio,  Farhat pôs a mão no meu joelho e disse: 

—  Nós dois sabemos que o nosso relacionamento nunca foi bom.  Eu  falei  com  o  presidente,  e  achamos  que,  depois  daquela entrevista, é melhor você pedir demissão. 

—    Meu  presente  de  quarenta  anos  —  respondi.  E  pedi tempo para pensar. Queria confirmar se o presidente havia mesmo autorizado a demissão. Mas Farhat não queria esperar. 

—    Aqui  está  a  minha  carta  aceitando  o  seu  pedido  de demissão.  

—  A  carta  tinha  a  data  de  meu  aniversário,  11  de novembro. 

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Memórias da Blochwood: no tempo em que Vera Fischer era estrela de... fotonovelas da Sétimo Céu




O nome era pomposo: Central Bloch de Fotonovelas, um espécie de Blochwood.. E o ritmo de trabalho era intenso.

Vera Fischer ficou conhecida em 1969, quando foi eleita Miss Brasil. Seu primeiro trabalho em cinema foi em 1972, no filme "Sinal Vermelho, as Fêmeas".  Antes de estrear sua primeira novela, em 1977 ("Espelho Mágico"), na Globo, ela protagonizou fotonovelas na Sétimo Céu.

Até o começo dos anos 1970, as fotonovelas era importadas, geralmente, da Itália, onde o gênero era popular. Foi a Sétimo Céu que no começo dos anos 1960 começou a contratar cantores (entre os quais Roberto Carlos, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso) para posarem como galãs nos romances em fotos e nacionalizou o segmento, que vendia milhares de exemplares..Na década seguinte, entre uma novela e outra, atores e atrizes da Globo eram figurinhas fáceis  - e por módicos cachês - no elenco da Blochwood.

A história acima, "A Força do Destino" foi fotografada por Paulo Reis, da equipe de repórteres fotográficos da Manchete e Fatos & Fotos. Além de Vera Fischer, contava com a participação de Urbano Lóes e Agnes Fontoura, entre os mais conhecidos.