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quarta-feira, 16 de abril de 2025

O fotojornalista Guina Ramos recorda o dia em que fotografou Mario Vargas llosa para a antiga Manchete. O repórter Ib Teixeira entrevistou o escritor peruano que faleceu aos 89 anos

 

Mario Vargas Llosa
Não é toda hora que um fotojornalista mediano que nem eu tem oportunidade de fotografar um Prêmio Nobel de Literatura.

Mario Vargas Llosa - Foto Guina A. Ramos, 1979
Ao que me lembre, só me aconteceu uma vez (até vou revisar meus arquivos...), mas, evidentemente sem que eu nem nem o próprio soubéssemos que lhe caberia, uns 30 anos depois, este galardão da literatura mundial...

Só sei que (do pouco que me lembro) fui, um dia, em 1979, ao Hotel Glória, então um hotel realmente glorioso, a um evento sócio literário de que já não tenho a menor ideia, com a tarefa precípua de fotografar o escritor Mario Vargas Llosa, falecido neste 13/04/2025, aos 89 anos, em Lima, no seu país natal, o Peru. 

 

Esta foto felizmente me foi salva pela Biblioteca Nacional, que na Hemeroteca Digital Brasileira, nos fez, aos jornalistas da época e à memória brasileira, o grande favor de digitalizar todas as edições da revista Manchete. 

Este material nem sequer estava entre meus recortes de revistas e jornais, que ainda entopem algumas caixas e gavetas por aqui.


A entrevista, de Ib Teixeira, repórter especial da Manchete, acho que foi feita em sala à parte no hotel, e creio que continua merecedora de atenção, espero que a foto também.

Falaram de literatura, mas já havia na conversa sinais dos rumos políticos que o escritor tomava, questão importante na sua biografia, mas que não é nosso tema aqui.


Tenho, ao menos, uma ponta de filme (negativos) das fotos daquele dia. Fotos bem ruinzinhas, com as violentas sombras do flash direto, que fiz no saguão do auditório, à saída do evento, quando Vargas Llosa era envolvido em uma conversa por Vilma Guimarães Rosa Reeves, filha do celebrado escritor João Guimarães Rosa, ela também escritora e concorrente constante, mas não vitoriosa, a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Afinal, pelo que tiro da amostra publicada na revista, o melhor das fotos ficou mesmo para os arquivos da Manchete, que sabe-se lá onde estará...

* Matéria originalmente postada por Guina Ramos no blog Bonecos da História

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Um futuro Nobel comia os restos do meu prato em Paris* • Por Roberto Muggiati

 

Vargas Llosa em Paris, anos 1960. Foto: Reprodução Instagram

Quando eu era bolsista pobre em Paris em 1960, meu amigo Octávio Carneiro Lins – que trabalhava com o tio, o embaixador Paulo Carneiro, na Unesco – costumava me convidar para jantar nos melhores restaurantes. Mas Octávio era uma figura complicada e essa aparente generosidade muitas vezes ocultava surtos perversos de sadismo.

Duas ou três vezes ele me levou ao México Lindo, na rue des Canettes, naquele cafofo da rive gauche entre as igrejas de Saint-Germain e de Saint Sulpice. Na primeira vez cuspi a comida toda no prato de tão apimentada que era. – Caliente?! – comentou o garçom, gozando da minha cara. Octávio, macaco velho em culinárias exóticas e chegado a temperos fortes, por trás de um semblante à Buster Keaton, também devia estar se divertindo.

Vocês já devem ter ouvido falar na Maldição de Montezuma, que acomete os incautos que vão ao México e exageram na comida local. Na segunda vez que fui ao México Lindo, bem que me esforcei, mas ainda refuguei mais da metade da comida. Da terceira, já com as papilas gustativas cauterizadas no ferro em brasa, me saí um pouco melhor, mas pedi ao Octávio que voltássemos, por favor, à boa e velha cuisine française.

Para mim a história teria morrido aí, não fosse ter lido, 45 anos depois, o romance Travessuras da menina má, de Mário Vargas Llosa – o peruano que ganhou o Nobel de Literatura em 2010. Ele morou em Paris à mesma época que eu. Cito trechos do livro:

 

“No meu primeiro ano em Paris, quando passava apertos financeiros, muitas noites ficava na porta dos fundos desse restaurante [o México Lindo] esperando que Paúl aparecesse com um pacotinho de tamales, tortilhas, carninhas ou enchiladas, que ia saborear no meu sótão do Hôtel du Sénat antes que esfriassem.”

“Paúl, ao saber das minhas dificuldades, quis me dar uma força com a comida, porque no México Lindo era o que sobrava. Que eu passasse pela porta dos fundos, por volta das dez da noite e ele me ofereceria ‘um banquete grátis e quente’, coisa que já fizera com outros compatriotas carentes.”

 O México Lindo acabou há muito, ainda no século passado. Mas histórias e coincidências como esta sobrevivem ao tempo.

*Do livro de memórias em gestação Paris por um triz.

** Mario Vargas llosa faleceu ontem, em Lima, aos 89 anos. A família não informou a causa da morte. Desde que deixou Madrid em 2022 e voltou a residir no Peru o escritor estava debilitado.