sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Tancredo e as capas: aconteceu na Manchete



Por Roberto Muggiati

Esta história vai longe no tempo e tem muito parêntese, mas vale ser conhecida. 



Foto de Gervásio Baptista

Em 1954, com apenas dois anos de vida, a revista Manchete enfrentava seu batismo de fogo na guerra das bancas – e se saía muito bem, graças à qualidade gráfica e à importância que dava ao fotojornalismo. A capa da edição extra sobre a morte de Getúlio Vargas trazia uma foto em preto-e-branco de Gervásio Baptista e tinha como foco central o deputado Tancredo Neves tomado por uma crise convulsiva de choro, cobrindo o rosto com as mãos. Tancredo quase não conseguira se eleger em 1950 para seu primeiro mandato federal. Graças àquela foto, Tancredo singraria vitorioso nas urnas vida afora.. Por isso, seria eternamente grato a Gervásio. Quando foi eleito para Presidente da República em 1985, Tancredo imediatamente convidou Gervásio para ser o fotógrafo oficial da Presidência.

Nas horas que antecederam a cerimônia de posse do primeiro Presidente pós-ditadura militar, no período batizado de Nova República, os acontecimentos se precipitaram. Na segunda-feira, 13 de março, na Casa da Manchete em Brasília, Adolpho Bloch recebeu Tancredo e dona Risoleta para um grande jantar. Para a ocasião, o chef da Bloch, Severino Ananias Dias, deslocou-se até a Capital Federal com uma equipe de cozinheiros e garçons e a fabulosa coleção de panelas de cobre da cozinha do Russell. Na manhã seguinte, durante uma missa de Ação de Graças, fotógrafos e câmeras de TV flagraram o Presidente apalpando insistentemente o estômago. (Nenhuma relação de causa e efeito entre o banquete da Manchete e o mal-estar de Tancredo, embora inimigos da Bloch – e não eram poucos – tenham espalhado que a cuisine do Severino foi fatal para Tancredo.).

Às 22:15 de 14 de março, véspera da posse, o Presidente era internado às pressas no Hospital de Base do Distrito Federal para receber soro. Com o diagnóstico de apêndice supurado, os médicos disseram à família que Tancredo precisava ser operado com urgência. A família preferia que ele fosse removido para São Paulo, tinha até um jatinho à disposição. Mas os médicos de Brasília não cederam. O próprio Tancredo se meteu na discussão: “Deixem-me tomar posse e depois façam comigo o que quiserem.”

Na antessala do centro cirúrgico, uma plateia seleta de parlamentares-médicos e ministros de Estado nomeados aguardava. O pesquisador médico Luís Mir, autor do livro O Paciente - O Caso Tancredo Neves (2010) (*) , descreve: "A certa altura, houve a possibilidade de invasão da sala de cirurgia até por médicos do próprio Hospital de Base de Brasília. Era impossível impedir a entrada das pessoas. Entre médicos e não médicos, chegaram a circular, no Centro Cirúrgico e dentro da sala de cirurgia, cerca de 60 pessoas. Quando se iniciou a operação, havia dentro da sala 25 pessoas. Um show, ruinoso para os médicos e para o paciente". Ao abrirem o peritônio do (im)paciente, os cirurgiões não encontraram nenhum “apêndice supurado”, o órgão estava perfeito. Inventaram então um novo diagnóstico, de “diverticulite”, doença de que a maioria dos brasileiros nunca tinha ouvido falar. Soube-se depois que Tancredo tinha um leiomioma benigno, mas infectado. Os facultativos ocultaram a existência de um tumor, receando o impacto que a palavra “câncer” poderia provocar.

No dia seguinte, o vice José Sarney assumiu a Presidência. Sarney manteve Gervásio como fotógrafo oficial. O “Calvário” de Tancredo (a imprensa brasileira adora um clichê) durou 38 dias, mas quem carregou a cruz foram os jornalistas, principalmente aqueles dos jornais diários, numa época em que a mídia impressa ainda não fora totalmente esvaziada pela TV e pela internet. Os fechamentos dos matutinos varavam a madrugada, colocando os editores e redatores à beira de vários ataques de nervos, minando sua saúde física e emocional. Pior ainda: a primeira fase do tratamento de Tancredo foi muito mal conduzida. O Hospital de Base do Distrito Federal estava com a Unidade de Tratamento Intensivo demolida, em obras – o estado de saúde do Presidente se agravou e ele teve de ser transferido em 26 de março para o Hospital das Clínicas de São Paulo. No período em que ficou internado, Tancredo sofreu sete cirurgias, que não surtiram efeito. Em 21 de abril, o porta-voz oficial da presidência , Antônio Britto, anunciava oficialmente a morte de Tancredo Neves por infecção generalizada, aos 75 anos.

Foto de Gervásio Baptista

Foto de Gervásio Baptista

Foi justamente na transferência de Tancredo de Brasília para São Paulo que vivemos um momento crucial na cobertura da Manchete. No dia 25 de março, segunda-feira, recebemos para o fechamento da edição as primeiras fotos de Tancredo Neves desde que fora internado – seriam também as últimas fotos do Presidente em vida. Tancredo e dona Risoleta, cercados pela grande (só em tamanho) equipe médica do Hospital de Base, posaram para Gervásio Baptista, que nos mandou as fotos com exclusividade. Essa atitude foi criticada; como fotógrafo da Presidência, ele deveria disponibilizar as imagens para todos os veículos. Mas a fidelidade do bom baiano para com a Bloch reinava acima de tudo. Como editor da revista, escolhi uma foto mais fechada de Tancredo com Dona Risoleta para a capa, com a chamada TANCREDO/A VOLTA POR CIMA. Estávamos eufóricos por fazer chegar aos brasileiros, quarta-feira em todas as bancas, uma mensagem de esperança: o Presidente de bom aspecto, elegante em seu robe de seda, um foulard bem transado em volta do pescoço, e a Primeira Dama, com uma roupinha esperta, de aparência rejuvenescida, ambos sorridentes.

Uma foto diz mais do que mil palavras. Ledo e ivo engano, como diria o Cony. Às seis da manhã de terça-feira toca o telefone em minha mesinha de cabeceira. Era o chefe de reportagem, Cesarion Praxedes: “Muggiati, deu merda. O Tancredo passou mal e está sendo levado para São Paulo.” Cabeça fria, raciocinei na hora: “Cesarion, nós temos o principal que é a capa exclusiva. Liga agora mesmo pra Lucas [a gráfica da Bloch] e manda trocar a chamada de capa e o título da abertura para TANCREDO/O DRAMA DO PRESIDENTE e vamos à redação para atualizar o texto. Dito e feito.
Já a revista de informação da Bloch, a Fatos, daria na capa a chegada de Tancredo ao Hospital das Clínicas em São Paulo, aquela em que o cotovelo do padioleiro passou como sendo a cabeça do Presidente (vejam post de quarta-feira, 6 de dezembro). Aqui o grande parêntese da história. Embora sua glória maior fosse uma revista semanal ilustrada, a Manchete, a Bloch sempre ambicionou ter uma revista semanal de informação, nos moldes da Time americana. Não por acaso, a Bloch deteve os direitos para o Brasil dos textos da Time de 1973 até quase a derrocada da empresa, em 2000. Mas fazer uma revista de opinião na Bloch era uma tarefa problemática, levando em conta os comprometimentos políticos da empresa. Houve até uma primeira tentativa, nos anos 70. Como a semanal, também ilustrada, Fatos&Fotos, era o primo pobre da Manchete, Jaquito – prevalecendo-se da exclusividade dos textos da Time – incumbiu Carlos Heitor Cony, editor da F&F, da transformação pioneira. Cony, macaco velho, sabia muito bem a roubada em que ia se meter. Mas Jaquito, não tendo coisa melhor para fazer na época, resolveu insistir. Voluntariou-se até a trabalhar como chefe de reportagem do Cony e instalou-se, um estranho no ninho, na redação de F&F, vociferando um dos bordões clássicos da Bloch: “Não quero que lhe falte nada!...” Cony não teve outra opção senão entrar no jogo. Um belo dia, ordenou ao seu “chefe de reportagem”:

Jaquito, precisamos fazer urgente uma entrevista com o Paulo César Caju!
– Mas quem é Paulo César Caju? –  replicou Jaquito. E Cony, incontinenti:
– Se você, como chefe de reportagem, ignora quem é Paulo César Caju, então se considere demitido!
Jaquito, abatido, o rabo entre as pernas, foi saindo pelo corredor, quando teve um repente e voltou:
– Peraí, Cony! Você não pode demitir um dos donos da empresa. Quem está demitido é você!

Um episódio que, de todas as redações do mundo, só poderia acontecer na Bloch, à beira-mar plantada. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos – e tudo terminou, não em pizza, mas na macunaímica feijoada das sextas no restaurante do terceiro andar à beira da piscina. A revista tipo Time da Bloch foi sepultada definitivamente quando Cony, tendo acompanhado Adolpho Bloch ao aeroporto do Galeão – o velho ia fazer uma cirurgia do coração nos Estados Unidos – disse ter lido nos olhos do Adolpho que ele não queria aquele tipo de revista...

Corte rápido. Passaram-se dez anos e, surpreendentemente, agora é o Cony quem proclama a necessidade absoluta de se criar na Bloch uma revista semanal de texto. Pragmático, acima de tudo, o nosso Cony. Em janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves para a Presidência da República, dando fim a 21 anos de ditadura militar, com cinco presidentes fardados. As relações de Tancredo com a Bloch sempre foram as melhores possíveis e Cony viu nisso a oportunidade de capitalizar circulação e prestígio para uma revista sintonizada com o peregrino da Nova República. Adolpho não vacilou: Tancredo seria para Fatos o que JK tinha sido para a Manchete. Um clima febril tomou conta da nova redação. Ney Bianchi, escolhido como chefe da sucursal da Fatos em Brasília, logo estabeleceu suas condições: uma casa na Península dos Ministros, com um mordomo juramentado; uma polpuda verba de representação para receber políticos e autoridades; dez ternos cortados pelo melhor alfaiate de Brasília; limusine com chofer e por aí vai.

O lance maior da Fatos só não contava com as rasteiras do destino e a vulnerabilidade da carne: a revista foi às bancas na sexta-feira, 17 de março, com a foto da posse do vice José Sarney na capa; mas, sem a estrela de Tancredo, não tinha gás para ir muito longe. Vale lembrar que na época existia uma profusão de semanais de informação no Brasil, mais até do que nos Estados Unidos ou na Europa. Havia a Veja, que depois de um começo incerto em 1968, graças à estratégia de assinaturas acabou se tornando uma potência (toda grande empresa usava Veja como uma ferramenta para seus executivos); havia a IstoÉ de Mino Carta, o editor-fundador da Veja; a Visão, do empresário Henry Maksoud, que tinha seu peso; e a Afinal, que durou de 1984 a 89. Na inflação desvairada do governo Sarney, Fatos foi se arrastando – hostilizada até dentro da própria Bloch como um estranho no ninho e uma fonte de prejuízo – até fechar em julho de 1986, um ano e quatro meses depois do seu lançamento.

Quanto ao Brasil e à sua Presidência, é outra história, tão tortuosa como a da Bloch: Washington Luiz deposto, Getúlio suicidado, Jânio renunciado, Jango deposto, Tancredo morto sem assumir, Collor impedido, Dilma impedida e Temer isso que todos estão vendo aí...

Só resta fechar com o humor mineiro do velho Tancredo Never: certa vez, numa roda de amigos no Senado, ele definiu seu epitáfio, que não chegou a ser gravado na lápide do cemitério ao lado da Igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei:

“Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves!”

(*) O diretor Sérgio Rezende lançará no dia 14 de junho de 2018, o filme O Paciente, que focaliza os últimos dias de Tancredo. O ator Othon Bastos representará o político mineiro. 

Você pode defender o meio ambiente com pequenas atitudes. Conheça o Guia da Pessoa Preguiçosa para salvar o mundo





O Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC Rio) lança neste dia 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos) a campanha digital ‘Guia do Preguiçoso para Salvar o Mundo’. São 42 dicas ilustradas de pequenas atitudes que contribuem para  o desenvolvimento sustentável. A UNIC Rio lembra que os direitos humanos não são unicamente políticos ou civis, mas também econômicos, sociais, culturais e a cada dia mais ambientais.

O Guia do Preguiçoso dá dicas simples para a participação de cada um. Alguns exemplos: pagar as contas online e cancelar extratos bancários em papel evita a destruição de florestas. Apagar as luzes – inclusive da sala, se a iluminação da TV ou do computador forem suficientes – economiza energia. Comprar produtos que usem pouca embalagem. Reaproveitar a água da chuva para limpar calçadas e regar plantas. Comprar em lojas de segunda mão: produtos novos não são necessariamente melhores.A campanha entra no ar das redes da ONU Brasil a partir de 10 de dezembro.

Fonte: Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil 

Jornalismo - Não passou da hora de sair da "bolha"?

Que os políticos, em Brasília, vivem em um universo encantado de benefícios, mordomias e modos de vida à parte, nós sabemos. Quando nos deparamos com aqueles sujeitos engravatados, a grande maioria deles, dando declarações apressadas à saída do Congresso temos a sensação clara de que são marcianos ou não estão no pleno uso das suas faculdades mentais. Mas quando dão entrevistas longas em programas de TV que tentam entendê-los a coisa fica muito pior. Quando têm tempo para elaborar ideias e análises sem links com a vida real aqui em baixo, aí temos certeza de que vivem um mundo bizarro e paralelo. 

Quem trabalha, toma um cafezinho com os colegas, anda de metrô, conversa com o vizinho, vai ao clube, à academia, paga contas e vai ao supermercado não sabe do que aqueles caras estão falando. Da rotina de um trabalhador honesto não é, de um jovem que busca uma vaga no mercado de trabalho também não, de um idoso que espera atendimento em um hospital público, passa longe.

Ok, somos invisíveis para os políticos. Mas será que somos vistos e ouvidos pela grande mídia?

Se o padrão do jornalismo é reproduzir fontes oficiais explícitas ou disfarçadas de "um interlocutor do ministro...", se a "verdade" está apenas com o economista do "mercado", com a Fiesp, com o círculo de autoridades suspeitas que cerca um presidente igualmente suspeito e com o "consultor" da agroindústria ou com o enviado do Banco Mundial, há que duvidar.

Geralmente, a mídia dominante, por absoluta afinidade, reproduz o mundo irreal que os políticos habitam. Será que não cabe aos jornalistas tentar quebrar o padrão, alternar ângulos e pontos de vista, buscar o contraditório, duvidar, apurar que o buraco é mais em baixo?

A notícia filtrada pelos jogos vorazes dos mesmos e eternos personagens, não apenas os políticos, mas os "analistas" e "especialistas" com opiniões previamente aprovadas, uma espécie de "análise" de carta marcada que nunca surpreende, deixa de ser notícia, transforma-se em peça de divulgação de interesses ou de campanha paragovernamental, como se viu no caso da reforma trabalhista e, agora, no encaminhamento da reforma da Previdência. E se vê na cobertura da Lava Jato onde o "jornalismo" se alimenta apenas de comunicados oficiais ou de vazamentos. O que é cômodo, mas não é jornalismo. Para a grande mídia, a "fonte" é utilizada quase sempre para reforçar ou "autenticar" a versão politicamente oficial. Se os repórteres do Washington Post se limitassem a veicular a palavra oficial e os vazamentos controlados da Casa Branca, Watergate seria até hoje um endereço e não um escândalo que levou à renúncia de um presidente. 

O repórter gaúcho Carlos Wagner, com sete prêmios Esso regionais nas costas, 31 anos de carreira no Zero Hora, ex-Coojornal, o veículo da famosa Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre que foi uma voz corajosa contra a ditadura nos anos 1970, levanta a questão do jornalista que gira em torno de si em um artigo publicado no seu blog. Leia abaixo:

  

Para ler a matéria completa, clique AQUI


Fotógrafo Iaponã, que vive em Fernando de Noronha, expõe no Rio a intimidade da Ilha...

Paloma Bernardi. Foto Iaponã/Divulgação

Em cartaz na Cidades das Artes, na Barra da Tijuca, a exposição "Neuronhe-se", com o trabalho do fotógrafo Rildo Iaponã, pernambucano residente em Fernando de Noronha.
Iaponã fotografou atores e atrizes que há anos adotam a ilha como destino de folgas e férias.

Fabiula Nascimento. Foto Iaponã/Divulgação

Entre os fotografados, Paloma Bernardi, Carol Castro, Fabiula Nascimento e Paulinho Vilhena, que participa, junto com Iaponã,  do projeto social "Casa Neuronha" que apoia jovens locais, faz campanha educativas sobre preservação da natureza e promoveu, recentemente, doação de óculos de grau para habitantes de Noronha.Iaponã revela uma face da Ilha tão natural quanto o seu belo ecossistema.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Posto de Escuta - Em alta ansiedade, o Brasil é um filme de Mel Brooks

por O.V.Pochê 

O Brasil precisa de ajuda psiquiátrica. A simples leitura dos jornais, a qualquer dia ou hora, vale por um diagnóstico. Já que a casta dirigente tem tantos privilégios, não custa incluir mais um: remédio traja preta de graça e para todos no café da manhã. Vai ver funciona. Confira o desvario da semana.

* O deputado Tiririca (segundo o dicionário, nome de uma planta daninha e também adjetivo que se dá a pessoas coléricas, furiosas) passou sete anos na Câmara dos Deputados em estado de catatonia política. Fez um primeiro e último discurso, ontem. De despedida. E saiu titirica. Decepcionado, vai deixar a política. Devia devolver os salários.

* A Istoé faz a festa da premiação Os Brasileiros do Ano, onde autoridades e réus dividiram a mesa e brindaram alegremente.

* Rogério 157 e preso e o primeiro procedimento da polícia é posar para selfies sorridentes com o preso.

* Um levantamento da Consultoria Legislativa do Senado, feito a pedido do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), demonstra que autoridades do Poder Judiciário, Ministério Público e Tribunais de Contas da União, dos estados e do Distrito Federal gastam R$ 1,6 bilhão anuais com auxílio moradia. Não dá para confiar em autoridades que não têm capacidade nem de pagar suas próprias contas. O auxílio moradia desse imenso bloco de marajás é de mais de 4 mil reais mensais, sendo que a maioria, apesar do mensalão oficial, mora em... casa própria. Randolfo apresentou Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para acabar com o exótico jabá residencial. Essa PEC vai ganhar auxílio moradia eterno nas gavetas do Senado.,.

* Pesquisa do Datafolha apurou que 60% dos brasileiros considera ruim ou péssimo o trabalho dos parlamentares. É a imagem do Congresso no buraco mais fundo desde 1993.

* Temer está sendo criticado por não ter comprado deputados na Black Friday. Economizaria dinheiro público na promoção.

* Perdeu, mamãe. Depois que um delator revelou que Geddel guardava dinheiro de propina no closet da mama e o Globo mostrou que dona Marluce controla os negócios da família e mantém os filhos em coleira curta, o clima ficou complicado para a matriarca baiana. Piorou mais ainda agora com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmando que a mama "tem papel ativo e relevante na lavagem de dinheiro". O acarajé de dona Marluce está assando...

* Vale-transporte: empresas de ônibus pagaram R$250 milhões a políticos do Rio de Janeiro. Dinheiro que, claro, saiu do preço da passagem que o carioca paga.

* Sem contar o PCC, quem mais ganhou dinheiro este ano foram as  distribuidoras de gás. Com a nova política de preços imposta por Temer para ficar de bem como mercado, o gás aumentou 84% só esse ano.

* Governo Temer rouba bordão de Sílvio Luís. Propaganda federal surrupiou a famosa expressão "Olho no lance" criada pelo locutor esportivo. Silvio reclamou pelo twitter: "Sou roubado pelo Governo até no meu bordão, nem licença pediram". O Planalto se apropriou do bordão para campanhas sobre PIB, alta da Bolsa, aumento de emprego e outras manipulações.


Suas conversas podem ter sido gravadas. Mas Joesley Batista e Moro não têm nada a ver com isso...

Sabia disso? Não apenas Joesley Batista, a força-tarefa do MPF e a onipresente NSA americana gravam conversas adoidado. O Google também pode fazer um tape básico dos seus papos. A informação está no Blue Bus, como dica da Shortlist, e pode ser útil para você. Para ouvir todas as gravações que o buscador eventualmente terá feito das suas pesquisas por voz e até de conversas aleatórias basta acessar na página da sua conta do Google, a seção ‘My Activity’ e selecionar ‘Voice & Audio’. Veja mais detalhes no Blue Bus, AQUI. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Lição grátis de jornalismo: cotovelos em capas sempre dão problema...

Reprodução Mashable

por José Esmeraldo Gonçalves 

A Time divulgou sua tradicional capa de "Pessoa 2017": é dedicada às mulheres que quebraram o silêncio e revelaram casos de assédios sexuais. Para representar a reação feminina aos abusos, a revista reuniu Ashley Judd, Taylor Swift, Susan Fowler, Adama Iwu e Isabel Pascual, cujo nome foi alterado para proteger sua identidade.

Mas o que está intrigando os leitores é o cotovelo aparentemente aleatório que aparece no canto direito da capa. A informação é do Mashable.

O editor do TIME, Edward Felsenthal, diz que o detalhe simboliza mulheres e homens que ainda estão calados e no anonimato diante das violências que sofreram.

Mas nas redes sociais também há quem especule que o cotovelo fantasma pode ter sido uma falha no corte da foto.

O DIA EM QUE A REVISTA FATOS CONFUNDIU 
O COTOVELO DE UM ENFERMEIRO COM 
A CABEÇA DE TANCREDO NEVES


O cotovelo da Time remete a um certo cotovelo na revista Fatos, em 1985. Como todas as redações do país, a Fatos estava mergulhada até o pescoço na exaustiva cobertura da agonia de Tancredo Neves, que durou mais de um mês.

A cada fechamento, a revista atualizava em texto e fotos a luta dos médicos para salvar o presidente eleito, mas semana após semana corria o risco de chegar às bancas 48 horas depois - tempo gasto em preparação e impressão - desatualizada e com Tancredo Neves já morto.

Em um desses complicados fechamentos, quase no minuto final, chegam de Brasília fotos que  mostrariam o presidente eleito, deitado em uma maca, a caminho da ambulância que o levaria em emergência ao aeroporto de onde seguiria para São Paulo. A foto da inesperada transferência do paciente era a mais atual e exclusiva, segundo Brasília. Apenas o fotógrafo da Fatos havia invadido o acesso à garagem do Hospital de Base e obtido um ângulo favorável. Claro, iria para a capa.

Já era quase meia-noite quando a redação inteira, já exausta, foi para a sala de projeção participar da escolha da melhor imagem da sequência da maca. Decepção total: nenhuma foto mostrava o rosto ou sequer a cabeça de Tancredo. A cena era muito confusa, médicos, enfermeiros e policiais cercavam o paciente. Mas a projeção de slides continuava, as fotos eram vistas e revistas. Em vão. A redação já estava quase desistindo de trocar a capa paginada antes quando uma voz não identificada, em plena escuridão da cabine de projeção, quebrou o silêncio e decretou:

- Olha a cabecinha dele ali, gente!
- Que cabecinha? - alguém duvidou.
- Ali - insistiu a voz -, no canto, a carequinha dele e um travesseiro!

Deu-se então um caso típico de alucinação coletiva, quase uma hipnose. A partir do momento em que a voz viu Tancredo, todos na cabine também tiveram a mesma visão. Era aquilo mesmo, lá estava a cabecinha de Tancredo. Como a foto era confusa, alguém sugeriu que a Arte fizesse um círculo vermelho em torno da tal carequinha para que os leitores identificassem mais rapidamente o que a redação levou mais de uma hora para perceber. E assim foi feito.

Fechamento concluído, todos foram para casa.

Um dia e meio depois, a revista impressa foi colocada na mesa do diretor. A capa estava perfeita, as chamadas idem. Só tinha um problema. O círculo vermelho não destacava nada que parecesse a cabecinha de Tancredo. Até porque não havia cabecinha coisa nenhuma. O que a capa mostrava claramente era o cotovelo de um dos enfermeiros, um cara tão parrudo que de fato a popular conexão do braco com o antebraço parecia mesmo um cabeção.

J.A. Barros, diretor de Arte da Fatos, colaborador deste blogé testemunha daquela noite fatídica. É justo dizer que ele foi um dos mais resistentes a acreditar que via a ilustre cabecinha do presidente eleito. Mas, como todos os demais zumbis que passaram mais de um hora naquela sala de projeção, ele também foi induzido a ver a luz: a foto exclusiva de Tancredo na maca.

A cabecinha de Tancredo que dez ou doze pessoas viram naquela noite mística no escurinho da cabine tinha sido apenas produto de uma ocasional alucinação coletiva. Mas rendeu capa!.

Vem aí a reforma trabalhista robótica. Até 2030, robôs vão tomar até 800 milhões de empregos no mundo

A consultoria McKinsey Global Institute publica um relatório com uma conclusão nem um pouco animadora: até 2030, de 400 a 800 milhões de pessoas em todo o mundo perderão seus empregos para robôs.
Os países desenvolvidos sofrerão o impacto maior. Por causa dos baixos salários, nações em  desenvolvimento vão demorar um pouco mais a trocar grande parte da mão-de-obra por máquinas ou androides inteligentes, mas serão afetadas mesmo assim. Operadores de máquinas e balconistas estão entre as categorias mais prejudicadas. Funções que exigem muita especialização, interação social e emocional vão resistir mais à automatização.
No cinema e nas histórias em quadrinhos, os robôs são quase sempre personagens gente boa. Essa imagem simpática vai mudar no momento em que você sair para tomar um cafezinho e ao voltar encontra um robô no seu lugar.

Caso Profumo visto pelo jornalista Roberto Muggiati, que morava em Londres nos dias em que uma showgirl derrubou um ministro e abalou a Corte

Roberto Muggiati, que estava em Londres na época em que estourou o Caso Profumo, publicou na revista The Presidente N° 14, set/out/nov 2013, da Custom Editora
a matéria que reproduzimos abaixo, em sequência à notícia da morte de Christine Keller, ontem, em Londres. A modelo e showgirl foi pivô do escândalo e musa da Guerra Fria nos anos1960.
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Clique nas imagens para ampliar ou leia o texto a seguir:




HISTÓRIA

POR ROBERTO MUGGIATI

ILUSTRAÇÃO GUILHERME FREITAS

1963

O CASO PROFUMO

Sexo, drogas e espionagem: 

havia algo de podre no Reino (des) Unido 

No Brasil, tudo acaba em pizza. Na Inglaterra, os 
criminosos são punidos. Mas, às vezes, acabam 
em espetáculo (lembram o superladrão Ronald 
Biggs, que virou superstar e veio morar no Brasil?). 
É o caso agora de Stephen Ward, pivô do 
Escândalo Profumo. Há 50 anos, ele escapou à 
punição suicidando-se. Hoje, com aura de mártir, volta aos refletores 
em Stephen Ward The Musical, assinado por Andrew Lloyd Weber, o 
criador de Jesus Cristo Superstar, Evita e O Fantasma da Ópera.

Resumo da história: em julho de 1961, numa festa na casa de 
campo de um lorde, o ministro da guerra britânico, John Profumo, foi 
apresentado à dançarina Christine Keeler, de 19 anos. Casado com 
a atriz de cinema Valerie Hobson, Profumo, 46 
anos, era um político em ascensão no partido 
conservador. O famoso osteopata e pintor Stephen 
Ward (retratou o Duque de Edimburgo 
e o Duque e a Duquesa de Kent), 48 anos, foi 
quem apresentou Christine a Profumo. Ward 
também apresentou Christine, sua amiga, a 
Eugene Ivanov, adido naval da URSS em Londres. 
Na verdade, Christine era uma garota 
de programa; Stephen Ward, um proxeneta; 
Ivanov, um espião da KGB – e Profumo, um 
grande otário. O ministro em poucas semanas 
se deu conta do risco da situação e rompeu com 
Christine, mas o estrago já havia sido feito. 

Quase dois anos depois, um problema de 
Christine com a justiça trouxe o caso à tona. E 
estourou nos jornais. "WAR MINISTER SHOCK" foi uma das primeiras 
manchetes. O escândalo – em que um ministro britânico (justo 
o da guerra) e um espião soviético dividiam a cama com a mesma 
mulher – acontecia num momento nevrálgico da Guerra Fria, pouco 
depois da Crise dos Mísseis de Cuba, em que Kennedy e Kruschev 
quase desencadearam o holocausto nuclear. (No imaginário popular, 
ocorria o boom de James Bond, com o primeiro filme da série em 
cartaz, O Satânico Dr. No) Em março de 1963, Profumo declarou reservadamente 
à Câmara dos Comuns que “não houve nenhuma impropriedade” 
em suas relações com Christine Keeler. Em 5 de junho, ele 
voltou atrás e admitiu que havia mentido. Renunciou ao ministério, 
à cadeira no Parlamento e ao seu posto no Conselho Privado. Graças 
ao Caso Profumo, os conservadores perderam o gabinete para 
os trabalhistas nas eleições do ano seguinte e entrou em cena, como 
primeiro-ministro, Harold Wilson, aquele cinquentão sorridente 
que tirava fotos de cachimbo na boca com os Beatles.

RELATÓRIO BEST-SELLER

Publicado em 25 de setembro de 1963 pela imprensa oficial de 
Sua Majestade, o relatório oficial de Lord Denning tornou-se um 
best-seller: vendeu mais de 100.000 exemplares, sendo 4.000 na primeira 
hora. Saiu na íntegra como suplemento do Daily Telegraph e foi 
descrito pela BBC, em 1999, como “o mais picante e deleitável relatório 
oficial já publicado.” Eu morava em Londres na época (veja box) e 
também engrossei a imensa fila diante de Her Majesty’s Stationery 
Office para comprar o meu. Está meio desbotado, 
com a lombada um pouco avariada e as folhas 
amareladas, mas ainda rende ótima leitura. Vou 
compactar alguns trechos. Lorde Denning descreve 
admiravelmente os personagens:

• “A história tem de começar com Stephen 
Ward, 50 anos. Filho de um clérigo, era osteopata 
com consultórios em 38, Devonshire Street, W1. 
Muito competente, tinha pacientes famosos. Era 
também um talentoso pintor de retratos e pessoas 
importantes posaram para ele. Sua conversa rápida 
e fácil atraia muita gente, mas repelia outros. Gostava 
de conhecer ocupantes de altos postos. Era, ao 
mesmo tempo, extremamente imoral. Costumava 
atrair garotas bonitas de 16 ou 17 anos, geralmente 
de boates – seduziu muitas delas – e as fazia amantes 
de seus amigos influentes. Atendia também a amigos com gostos 
pervertidos, promovendo açoitamentos e outras cenas de sadismo. 
Participava de festas com orgias sexuais revoltantes. Finalmente, 
admirava o regime soviético e simpatizava com os comunistas. Ficou 
muito amigo de um russo, Eugene Ivanov.”

• “O capitão Eugene Ivanov era adido naval assistente na embaixada 
da Rússia em Londres, um posto apenas diplomático. Chegou 
ao país em 27 de março de 1960, mas o Serviço de Segurança descobriu 
que era também um oficial da inteligência russa. Seu inglês era 
razoável e podia conversar com facilidade. Mas bebia bastante e era 
mulherengo. Impressionava-se com pessoas da aristocracia. Não 
perdia tempo em defender o lado russo. Avisava logo seus interlocutores: 
'Tudo o que vocês disserem vai direto para Moscou. Meçam 
suas palavras.' Stephen Ward e o capitão Ivanov se tornaram grandes 
amigos. Iam a restaurantes, jogavam bridge, encontravam amigos e 
garotas. Ivanov preenchia um novo papel na técnica russa: dividir o 
Reino Unido dos Estados Unidos, desmoralizando ministros ou altos 
funcionários para que o serviço secreto britânico parecesse incompetente. 
Se esse era o alvo do capitão Ivanov, tendo Stephen Ward como 
seu instrumento, ele foi muito bem sucedido.”

• “Christine Keeler, com 21 anos, saiu de casa aos 16 e logo se 
empregou num cabaré de Londres onde seu trabalho era caminhar 
pelo palco sem roupas. Stephen Ward a conheceu e a convidou para 
morar em sua casa. Ele a apresentava a homens influentes com os 
quais ela mantinha relações sexuais. Christine tinha indubitáveis 
atrativos físicos.”

• “O Sr. Profumo foi ministro da guerra de julho de 1960 a junho 
de 1963. Aos 48 anos, tem uma inestimável folha de serviços ao país. 
Quaisquer indiscrições que tenha cometido e quaisquer falsidades que 
tenha contado, nenhum depoente que ouvi deu provas de duvidar da 
sua lealdade. O Sr. Profumo casou-se em 1954 com a Srta. Valerie Hobson, 
atriz talentosa, e o apoio que ela lhe deu em seus dias difíceis é um 
dos aspectos mais redentores nos acontecimentos que vou descrever.”

• “Lorde Astor conheceu Stephen Ward em 1950 quando o procurou 
como paciente depois de um tombo durante uma caçada. Em 
1956 Lorde Astor alugou a Ward um chalé na sua propriedade de Cliveden.” 
(No fim de semana de 8 e 9 de julho de 1961 os convidados 
de Lorde Astor se encontraram com as convidadas de Stephen Ward 
na piscina da propriedade. Foi quando Profumo conheceu Christine 
Keeler.) “Todos estavam em roupas de banho, mas nada indecente 
aconteceu. O capitão Ivanov deixou Cliveden no começo da noite de 
domingo e deu carona para Christine. Foram para a casa de Stephen 
Ward e lá beberam bastante e houve algum tipo de relação sexual. 
Mas o capitão Ivanov nunca se tornou amante de Christine. Aparentemente, 
durante aquele fim de semana o Sr. Profumo se sentiu muito 
atraído por Christine Keeler. Nos dias seguintes, marcou encontros 
com ela, visitou-a na casa de Stephen Ward e teve relação com ela 
lá. Certa vez, a levou a passear em um carro do ministério. Em agosto, 
quando sua mulher estava na Ilha de Wight, ele levou Christine para 
sua própria casa, em Regent’s Park. Um dos pontos mais críticos da 
minha investigação é este: teria Stephen Ward pedido a Christine 
Keeler para obter do Sr. Profumo informação sobre quando os norte-
americanos forneceriam a bomba atômica para a Alemanha? Ninguém 
em sã consciência teria pedido a alguém como Christine Keeler 
que obtivesse esse tipo de informação do Sr. Profumo.”

A inteligência britânica acompanhava os passos do ministro da 
guerra e sabia de tudo. O secretário do gabinete aconselhou Profumo 
a terminar a relação e ele o fez numa carta para Christine em 9 de 
agosto de 1961. Tudo teria ficado em silêncio não fosse um traficante, 
amante de Christine, ter arrombado sua porta a tiros e levado a call girl 
para os tribunais e as manchetes.

CHRISTINE FALA

Passados 50 anos, a própria Christine desmente o Relatório Denning. 
Em entrevista ao Daily Mirror (9 de junho de 2013), ela admite 
que foi manipulada pelo médico para trair seu país. Disse que Ward 
usou o primeiro encontro na sua casa entre ela e “Jack” para roubar 
documentos secretos da pasta do ministro detalhando a entrega de 
armas nucleares à Alemanha. “Profumo nunca revelou que teve cartas 
secretas roubadas, por arrogância, incompetência ou para esconder 
sua negligência.” Christine contou ainda ao Mirror: “Não lembro 
bem como era fazer sexo com Jack, a não ser que foi furtivo no começo, 
depois se tornou cada vez mais prazeroso e subitamente acabou. 
Parece incrível que nossa relação tenha resultado em tanta tragédia 
e tanto dano.” Ela se diz uma inocente útil, enganada por Ward. “Fui 
recrutada por um homem esperto e carismático, mas perigoso.” Conta 
que foi a encontros com espiões infiltrados no próprio establishment, 
como Sir Anthony Blunt (curador dos museus reais), Sir Roger Hollis 
(chefe do MI5) e outros: “Podem imaginar como era chato para mim 
ficar ouvindo toda aquela conversa sobre Moscou, Washington e 
bombas nucleares?”

No rastro do escândalo, o michê de Christine Keeler subiu astronomicamente. 
Ela foi para a cama com bonitões do cinema como 
Warren Beatty, George Peppard, Maximilian Schell e os veteranos 
Robert Mitchum e Douglas Fairbanks Jr. Costumava circular na noite 
com sua amiga Mandy Rice-Davis, 19 anos, que também se envolveu 
no escândalo. Ficou famosa por uma frase, no tribunal, quando 
lhe disseram que Lorde Astor negara qualquer relação com ela: “He 
would, wouldn’t he?” (“Ele falou, não foi?”) A frase entrou na 3ª edição 
do Oxford Dictionary of Quotations (1979). Em 1983, Christine 
publicou uma autobiografia, Nothing But. Na época vendia telefones 
em Fulham, depois gerenciou uma lavanderia em Battersea. Na década 
de 1990, foi morar no litoral sul da Inglaterra e trabalhou como 
cozinheira numa escola de moças. Em 2001 ainda tinha o que contar 
e lançou uma segunda autobiografia, The Truth at Last. 

Peter Wright, agente da contrainteligência britânica MI5, interrogou 
longamente Christine sobre o Caso Profumo. Em sua autobiografia, 
Spycatcher (Caçador de espiões, Bertrand-Brasil, 1988), 
ele disse que se surpreendeu ao ver uma garota de programa inculta 
usar o termo nuclear payload (carga útil nuclear) referindo-se 
a mísseis. Christine foi imortalizada pela foto icônica do australiano 
Lewis Morley, feita em maio de 1963, em que aparece nua, 
escanchada numa cadeira do designer dinamarquês Arne Jacobsen. 
Tanto a cadeira como a foto entraram para o acervo do Victoria 
& Albert Museum de Londres. Uma frase atribuída a Christine 
também ficou célebre: “Eu assumi os pecados de todo mundo, de 
toda uma geração, na verdade.”

PSICODRAMA

Um filme britânico sobre o Caso Profumo foi lançado em 1989, 
Scandal, dirigido por Michael Caton-Jones e estrelado por Joanne 
Whalley (Christine Keeler), John Hurt (Stephen Ward), Ian McKellen 
(John Profumo), Britt Ekland (Mariella Novotny) e Bridget Fonda 
(Mandy Rice-Davies). Um destaque do filme foi a canção Nothing Has 
Been Proved, composta e produzida pelos Pet Shop Boys e cantada por 
Dusty Springfield. John Dennis Profumo, o 5º Barão 
Profumo do Reino da Sardenha, depois da 
renúncia prestou serviços voluntários limpando 
latrinas em Toynbee Hall, uma instituição 
de caridade no East End, a zona mais pobre 
de Londres. (Lembra o fim de Jeremy Irons 
em Perdas e danos). Com o tempo, 
tornou-se o principal angariador de fundos da instituição e conseguiu restaurar em parte sua reputação. 
Trabalhou lá até morrer em 2006, aos 91 anos. Sua mulher, 
Valerie Hobson, interrompeu uma brilhante carreira de atriz em 1954 
ao casar com Profumo. Seu último filme, o 45º, foi Um Amante Sob Medida, 
dirigido por René Clément e estrelado pelo galã Gérard Phillipe. 

Morreu em 1998 aos 81 anos. 

A vida de Stephen Ward tem tudo para dar um belo musical. Foi 
médico, entre outros, de Winston Churchill, Frank Sinatra e Elizabeth 
Taylor. Na Segunda Guerra, na Índia, o capitão Ward tratou o 
Mahatma Gandhi de dores de cabeça e da coluna cervical. Aos 17 
anos rompeu com a família e foi para Londres. Vendeu tapetes, baús 
de chá indianos, assinaturas da revista The Spectator e foi tradutor da 
Shell em Hamburgo. Em 1934, aos 22 anos, a mãe o persuadiu a estudar 
medicina. Formou-se no Kirksville College of Ostheopathy and 
Surgery no Missouri, nos Estados Unidos. Segundo o jornalista Philip 
Knightley, “Ward ajudou a dar à luz bebês em fazendas remotas, 
praticou cirurgias em mesas de cozinha, cuidou de ossos quebrados 
em tornados e ministrou injeções contra a febre tifoide durante as 
enchentes que devastaram a junção dos rios Ohio e Mississipi.” 

Stephen Ward não resistiu às pressões do Caso Profumo e 
envenenou-se com barbitúricos. Estava em coma quando recebeu 
o veredicto de culpado da acusação de viver de “ganhos imorais” 
ao prostituir suas amigas Christine Keeler e Mandy Rice-Davies. 
Morreu três dias depois da sentença, em 3 de agosto de 1963. O Caso 
Profumo foi o divisor-de-águas entre a velha e a nova Inglaterra. 
Como registrou em março de 1963 a revista Time: “Na ilha onde o 
tema era há muito tempo tabu entre a sociedade educada, o sexo explodiu 
na consciência nacional e nas manchetes. ‘Estamos virando 
maníacos sexuais?’ pergunta o Daily Herald. ‘A castidade está fora de 
moda?’ pergunta uma revista escolar para adolescentes. ‘As virgens 
ficaram obsoletas?’ é a pergunta feita pelo solene New Statesman. As 
respostas variam, mas uma coisa é clara: a Grã-Bretanha está sendo 
bombardeada por uma barragem de franqueza em relação ao sexo.” 

O Caso Profumo foi também o grande psicodrama da Guerra 
Fria, uma tragédia que Shakespeare teria escrito se vivesse nos anos 
1960. A partir do dia 3 de dezembro, esta história será revivida todas 
as noites no palco do Aldwych Theatre, em Londres. E – quem sabe 
no ano que vem? – nos melhores teatros de Rio e São Paulo.

MEMENTO

Embalos de sábado à noite em Londres, 3 de agosto de 1963,
morei em Londres de agosto de 1962 a junho de 1965, trabalhando 
no Serviço Brasileiro da BBC). Eu bebia num pub de Chelsea bem 
próximo ao hospital St. Stephen’s, onde o médico Stephen Ward, o 
agente catártico do Caso Profumo, estava em coma depois de uma 
tentativa de suicídio. O escândalo ocupava todo dia as manchetes. 
Lembro bem daquela noite por causa de uma quadrinha rabiscada na 
parede do banheiro do pub, que nunca mais esqueci: “L’ha detto Dante/ 
lo confermó Petrarca/ la fica di una donna/ ha la forma di uma barca.”(Já 
disse Dante/ e confirmou Petrarca/ a xota de uma dona/ tem a forma de 
uma barca.) No domingo, acordei de ressaca. Ao sair às ruas aturdido, 
vi os cartazes das bancas de jornais berrando: Stephen Ward tinha 
morrido naquela noite. 



A "guerra fria" esquenta na mídia...

Em resposta aos Estados Unidos, que retiraram as credenciais do canal de TV russo RT, declarando-o como "agente estrangeiro", a Rússia enquadrou nove meios de comunicação dos EUA  igualmente como "órgãos que exercem funções de um agente estrangeiro". Ambas as medidas não impedem mas limitam a atuação dos repórteres. A Rússia considerou a cassação de credenciais como um ato hostil e contrário à liberdade de expressão. As novas regras foram impostas pelo Congresso americano onde republicanos, muitos deles 'falcões", são ampla maioria.

Vandalismo...

Foto de Alexandre Macieira/Riotur

Por que não botam lentes de contato no Drummond?

Christine Keller: a musa da Guerra Fria morre em Londres e deixa uma foto e uma cadeira que entraram para a história dos escândalos políticos...

Foto do site oficial de Lewis Morley. (link abaixo)

por Jean-Paul Lagarride 

Christine Keller morreu ontem, em Locksbottom, perto de Londres, aos 75. Antes de três gerações clicarem no Google, segue um who's who: a moça foi a musa da Guerra Fria.

Para usar uma expressão atual a modelo e showgirl ganhou status de protagonista do primeiro escândalo político-sexual a 'viralizar" como um raio na mídia mundial.

No fim dos anos 1950, o videotape já globalizava programas das TVs dos grandes centros, mas em 1962 o satélite Telstar transmitiu pela primeira vez imagens ao vivo dos Estados Unidos para a Europa. A nova tecnologia, somada ao avanço das redes terrestres de microondas, criou os primeiros links da aldeia global.

Em 1961, Christine Keller foi a uma balada sem lei em uma mansão com piscina e lá conheceu John Profumo, ministro da Guerra do governo de Harold McMillan, com quem passou a ter um caso.

Simultaneamente , Keller se envolveu com o adido da marinha soviética em Londres,Yevgeny Ivanov. Assim, em plena Guerra Fria, a garota passou a ter na sua cama duas potências, pelo menos no sentido geopolítico, no tempo em que a espionagem ainda guardava certo romantismo. A showgirl tornou-se o elo desejado entre o comunismo e o capitalismo.

Quando o triângulo foi descoberto, já em 1963, Profumo negou inicialmente qualquer envolvimento com Keller. Depois, pressionado, Profumo confessou, renunciou ao cargo - embora não se tenha provado que na hora do vamos-ver o ministro tenha trocado segredos de Estado com Keller e esta tenha repassado informações para Ivanov - e abandonou a política. O político morreu em 2006, depois de trabalhar durante anos em uma estação de tratamento de esgotos.

No Daily Express e...

...no Correio da Manhã
Christine tornou-se "celebridade" e, se não virou uma Kim Kardashian por falta de redes sociais,  aproveitou bem a fama. Suas fotos mais famosas não são selfies, mas um belo ensaio assinado pelo fotógrafo Lewis Morley.

Christine Keller posou nua, fez uma série de poses, mas a cena que entrou para a história mostra a musa da Guerra Fria sentada em uma cadeira. E essa foi a foto de Morley que percorreu o mundo e virou o logotipo do escândalo. Christine ficou conhecida de Xangai a Madureira e, por tabela, até a cadeira - criada pela designer Arne Jacobsen virou um must e está hoje no Victoria &Albert Museum.

A Guerra Fria, em nova versão, voltou ao noticiário, mas ainda não tem uma Christine Keller para chamar de sua.


Conheça o site e o trabalho do Lewis Morley, falecido em 2013, na Austrália. Ele foi o autor das fotos que globalizaram a jovem que abalou Londres nos anos 1960.

Clique AQUI



Duas mulheres entre a casa grande e a senzala.

A Advocacia Geral da União enviou parecer ao STF defendendo a "flexibilização" da fiscalização do trabalho escravo no Brasil. O documento é assinado por  Grace Mendonça que, assim, encarna uma espécie de princesa Isabel ao contrário. Do outro lado está a ministra Rose Weber, que suspendeu há um mês a medida imposta pelo governo. Temer não tem limites ao tentar agradar a empresários fichas-suja - muitos são reincidentes -  de setores como agronegócio, confecções e construção civil, recordistas na exploração de mão de obra escrava. Daí, insiste nessa portaria do "cipó de aroeira".

Segura essa: colunista diz que o Brasil saiu da crise, o povo é que não percebe

A culpa é do povo. O colunismo engajado no governo Temer garante que o Brasil voltou a crescer, já seria uma espécie de tigre, ou melhor, onça sul-americana da economia. O problema que resta agora é que o povo, esse ingrato, se recusa - dizem os escribas -  a ter a "percepção" de que voltamos a bombar. Um dos últimos números alardeados pela mídia chega a ser hilário se não fosse trágico. A claque comemorou a criação de cerca de 80 mil emprego em um universo de mais de 12 milhões de desempregados. Discretamente, ao pé da página, revelava-se que esses empregos criados eram "informais". O Rio já sabia disso. O prefeito Crivella encheu ruas e praças de camelôs... todos informais.

O "Rosebud" do filme "O Paciente" poderia ser uma mala de dinheiro...

por Ed Sá

Sérgio  Rezende vai dirigir o filme "O Paciente" sobre os últimos dias de Tancredo Neves, o que foi presidente sem nunca ter sido. Um ator fará o papel de Aécio Neves.

Não se sabe ainda quem fará o papel da mala de dinheiro que, segundo as gravações de Joesley Batista, teria sido entregue a um atravessador de propina a serviço do neto de Tancredo.

A mala caberia bem em um flash foward misterioso, algo como o trenó Rosebud de "Cidadão Kane".

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A rede social como ela é...

por O.V. Pochê
* A primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, nasceu na Eslovênia, no Leste Europeu. a menos de mil quilômetros da Transilvânia, que fica a dez horas de carro ou quatro dias de carruagem. Só isso explica a decoração que Melanija Knav, nome original da mulher de Trump, bolou o Natal da Casa Branca. As redes sociais se divertiram. Houve quem comparasse o corredor da Casa Branca aos castelos tenebrosos de Harry Potter; alguém perguntou se Drácula já havia sido convidado; se haveria homenagem a Charles Manson; se ia rolar uma encenação de "Macbeth” com os assassinatos e bruxas da peça de Shakespeare etc.

* Piadinha Cadeia Velha postada e digitada em Botafogo: "Para o Gilmar Mendes, o Barata sai caro - e vice-versa".

Reprodução Facebook
* A proprietária de uma casa, em Macapá, reformou a calçada e se preocupou com a acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Mérito dela? Será? Mais ou menos: a dona instalou um piso tátil para orientar os transeuntes, só que a linha leva direto a um desnível da calçada e, consequentemente, a um tombo espetacular da pessoa com deficiência visual ou baixa visão que seguir a sinalização. Um internauta comentou que  Macapá é a primeira cidade do mundo a oferecer pista para a prática de corrida de parkout para cegos. A proprietária foi notificada e botou a culpa no pedreiro.

* A defesa de Marcelo Odebrecht prepara o jatinho para o empresário sair da prisão em Curitiba, no dia 19 de dezembro, a tempo de passar o Natal em Salvador, onde começará a cumprir prisão domiciliar. Odebrecht vai se juntar ao bloco dos empresários que deixam para trás o sufoco maior da Lava Jato.. Condenado há 10 anos, o dono da construtora usará tornozeleira nos próximos dois anos e meio e não poderá sair de sua mansão; nos dois anos e meio seguintes, poderá sair de casa durante o dia para prestar serviços à comunidade; finalmente, após essa etapa, cumprirá o resto da pena em regime aberto. Foi bom pra você?

A dura missão do repórter-setorista de Kim Jong Un. Foto KCNA
* Para a maioria dos jornalistas brasileiros - a turma do andar de baixo, no caso - não está fácil levar a vida e pagar as contas. Mas, se servir de alívio, há veículos e "editorias" mais difíceis de encarar. Trabalhar como setorista de Kim Jong Un, por exemplo. Por maior que seja o sufoco, você não gostaria de estar no lugar do repórter da agência oficial da Coréia do Norte encarregado de acompanhar a agenda do "homem-foguete", como Trump o chama. Na foto, Kim Jong Un visita uma fábrica de caminhões. De bloquinho na mão, no modo analógico, o repórter anota tudo e mais alguma coisa. Tem rugas de tensão no rosto e tenta não perder uma frase do seu líder.
E se errar uma palavra? Na mídia da Coréia do Norte não existe a seção Erramos. Nem correção. Só corretivo.

* Perdeu, playboy. O britânico James Howell estava feliz investindo em bitcoins. Com a tremenda valorização da moeda virtual nos últimos meses, ele ficou milionário. Seus 7.500 bitcoins estavam registrados em um HD. Uma noite,não se sabe se após dar uma passadinha no pub da esquina, Howell jogou fora o HD. Estima-se que os seus bitcoins, em valores atuais, estejam cotados em cerca de 100 milhões de dólares, uma espetacular valorização em cima dos 750 mil dólares que investiu.
O investidor agora está se virando para conseguir das autoridades permissão para escavar um aterro sanitário onde o caminhão que levou seu lixo depositou o HD.

Amigos da Manchete: Confraternização no Graça da Vila, Catete


Mensagem do colega Nilton Rechtman confirma para o próximo sábado, dia 9/12, a partir das 13h, o encontro de fim de ano dos Amigos da Manchete
Local: Restaurante Graça da Vila - Rua do Catete, 133 

Livro "1973, o ano que reinventou a MPB" será relançado no auditório do Sindicato dos Jornalistas

A Sonora Editora relança o livro "1973, o ano que reinventou a MPB - A história por trás dos discos que transformaram a nossa clutura", coletânea essencial organizada por Célio Albuquerque, que reúne em torno do tema 50 jornalistas especializados, entre os quais vários colegas que atuaram na Manchete, como o próprio Célio Albuquerque,  Roberto Muggiati, Antonio Carlos Miguel,  Regina Zappa, Álvaro Costa e Silva,Vicente Datolli e Silvio Essinger.

Para marcar essa revisita documental àqueles doze meses da primeira metade dos Anos 70, um período incomum de lançamentos de discos que entraram para a história da MPB, acontecerá no Auditório João Saldanha, do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, a partir das 19 horas do próximo dia 14 de dezembro, um encontro entre autores, aberto ao público. O Sindicato dos Jornalista fica na Evaristo da Veiga, 16, 17° andar, Centro, Rio de Janeiro.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Há 50 anos – O dia em que (não) entrevistei o Dr. Barnard na Cidade do Cabo


Por Roberto Muggiati

Era uma vez na Manchete. O Dr. Christiaan Barnard tinha conseguido o feito médico do século: o primeiro transplante do coração na Cidade do Cabo, África do Sul.

Foi no domingo, 3 de dezembro de 1967.

Eu trabalhava há um ano como repórter especial do carro-chefe da Bloch. A revista demorou um pouco a assimilar a novidade e avaliar sua importância jornalística. Acho que estávamos meio distantes do mundo, naquele velho prédio da Frei Caneca, onde tínhamos de percorrer quase um quilômetro atravancado por máquinas gráficas sucateadas até chegar ao imenso elevador de carga que nos levava às redações. A penitenciária ficava ao lado: era frequente detentos escaparem atravessando as dependências da Bloch. A atmosfera conspirava para que nos sentíssemos um pouco também como prisioneiros.

Tudo mudou na manhã de sexta-feira, 5 de janeiro. Alguém devia ter feito um contato muito importante na África do Sul para nos garantir uma entrevista exclusiva com o Dr. Barnard. Ao chegar à redação, encontrei a saudosa maloca de Frei Caneca à beira de um ataque de nervos. O chefe de reportagem em exercício, Raul Giudiccelli, investiu esbaforido para cima de mim. “Vai correndo ao Itamaraty tirar um passaporte especial, você viaja ainda hoje à Cidade do Cabo para entrevistar o Dr. Barnard!”


Eu tinha um contato excelente no Palácio dos Cisnes, onde reinava o velho Magalhães Pinto como Ministro das Relações Exteriores. Seu chefe de gabinete, o jovem e brilhante diplomata paranaense Orlando Soares Carbonar, ex-jornalista, era meu companheiro das noitadas de fechamento na redação do jornal Gazeta do Povo de Curitiba, onde vivi as emoções da minha primeira edição extra na morte de Getúlio Vargas, em agosto de 1954.

Duas horas foram suficientes para que eu saísse do palacete da Rua Larga com o passaporte azul na mão e pegasse um táxi para Frei Caneca. Cheguei entusiasmado, mas foi como se trombasse com um muro de concreto.

Cara de tacho, Giudiccelli falou, numa voz deprimida: “A viagem michou, Muggiati. Pode voltar à cobertura do lançamento do filme do Tarzã...”




Eu havia acompanhado a filmagem de Tarzã e o grande Rio e agora o filme estreava em grande estilo. Pífio consolo: não ia mais à África entrevistar o Dr. Barnard, mas teria um gostinho da África via Tarzã, o Rei da Selva.

Dr. Barnard visitou a Manchete em 1978
e deu uma canja no piano da casa. Foto: Lúcio Macedo

Essa viagem abortada foi uma das grandes frustrações dos meus 64 anos de jornalismo. Mas a gente logo fica vacinado. Guardo como prova do crime o passaporte azul novinho em folha que nunca usei. Quanto ao Dr. Barnard, não resistiu à fama. Deixou as cirurgias, virou celebridade, largou a mulher para namorar a Gina Lollobrigida, e um belo dia apareceu no Palácio de Cristal do Russell para desfrutar da hospitalidade de Adolpho Bloch e da cuisine do chef Severino Ananias Dias.

Era 1978, só havia o primeiro prédio, Rua do Russell 804, nos salões do décimo andar Barnard deu uma canja no piano Steinway. Editor da Manchete, eu estava lá, mas nem eu nem ninguém lembra o que ele tocou.

Na Manchete era assim. Muitas vezes grandes ímpetos jornalísticos eram sufocados no nascedouro, como minha viagem à Cidade do Cabo. Mas, no correr do tempo, o que contava era o consistente trabalho de formiguinha da legião de jornalistas que batalhava por lá. Para fechar com um exemplo na área dos transplantes: seis meses depois do feito pioneiro na Cidade do Cabo – com a seriedade profissional que acabou abandonando o brilhante Barnard – o doutor Euryclides de Jesus Zerbini fez o primeiro transplante cardíaco, no Hospital das Clínicas de São Paulo, e se firmou como um dos maiores especialistas mundiais nessa área. Nosso repórter Celso Arnaldo Araújo, Prêmio Esso de Informação Científica, não só acompanhou o Dr. Zerbini na sua gloriosa jornada, como escreveu a biografia definitiva, Dr. Zerbini: o operário do coração.

Operários do jornalismo éramos, somos nós.

Carmen Mayrink Veiga: a última dama do society

Carmen na capa: 1960
Carmen Mayrink Veiga morreu ontem, ao 88 anos, no seu apartamento no Flamengo, Rio.

A socialite que foi simbolo de um Rio que passou, era casada com o empresário Tony Mayrink Veiga, falecido no ano passado.


Nos últimos anos, um doença degenerativa - paraparesia tropical - a levou à cadeira de rodas.


Com problemas financeiros e dívidas com bancos, o casal teve bens leiloados.



Em 1997, Carmen Mayrink Veiga foi entrevista para a Manchete pela repórter Cristiane Ramalho. Foi a última matéria sobre a socialite publicada na revista, que encerrou sua circulação regular, semanal, em 2000, após a falência da Bloch Editores (*).






 (*) Manchete ainda foi às bancas editada pela Nova Bloch, uma cooperativa formada por ex-funcionários. Posteriormente, com o leilão do título, adquirido pelo empresário Marcos Dvoski, foram lançadas várias edições de Carnaval durante a década 2000. 

domingo, 3 de dezembro de 2017

Fake news, quem vai querer?



(de Sabrina Brito, para o Observatório da Imprensa)

Fake news é um tema que tem sido cada vez mais debatido, especialmente no mundo do jornalismo. De acordo com o jornal britânico The Telegraph, fake news são notícias falsas que podem existir por cinco motivos: com o intuito de enganar o leitor; como uma tomada acidental de partido que leva a uma mentira; com algum objetivo escondido do público, motivado por interesses; com a propagação acidental de fatos enganosos; ou com a intenção de fazer piada e gerar humor.

Embora alguns especialistas, como o jornalista Sérgio Dávila, afirmem que notícias falsas sempre tenham existido, é certo que sua disseminação nunca foi tão intensa quanto é hoje, com as redes sociais.

De acordo com Diego Iraheta, redator-chefe do Huffington Post no Brasil, as redes sociais e o universo informacional do século XXI facilitam o escoamento das notícias enganosas de uma maneira extremamente rápida e eficiente. Assim, com a propagação de reportagens tendenciosas e mentirosas crescendo cada vez mais, a democracia é ameaçada, uma vez que o acesso à informação é um direito do cidadão.

Fábio Zanini, editor da seção “Poder” da Folha de S.Paulo comenta o porquê das fake news terem ganhado importância nos últimos tempos. “Isso foi exacerbado, na minha avaliação, por dois motivos que, na verdade, caminham juntos: primeiro, as redes sociais, que democratizaram muito a geração de informação, o que é uma coisa positiva até certo ponto; e o segundo motivo é uma crescente polarização política em todo o mundo”, disse.

Com isso, o jornalista expressou sua opinião de que as notícias falsas são mais facilmente espalhadas através do Facebook e Twitter, por exemplo, e de que os interesses motivados por posições políticas podem intensificar a criação de fake news, com o objetivo de divulgar informações incorretas para convencer mais pessoas a adotarem um determinado ponto de vista.

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