terça-feira, 2 de abril de 2019

Futebol celebra a Democracia. Diretoria do Flamengo faz gol contra

No jogo da Democracia, alguns clubes de futebol do Brasil e da Argentina bateram um bolão na última semana 



Aqui, foram poucos mas representativos. Apenas Corinthians, Bahia e Vasco da Gama postaram em suas redes no dia 31 de março - data que marcou os 55 anos do golpe de 1964 e da ditadura que se seguiu perseguindo, sequestrando, torturando e assassinando brasileiros - mensagens contra o autoritarismo e pelas liberdades democráticas.


A Argentina celebrou o Dia Nacional Pela Memórias, Liberdade e Justiça. No país que também sofreu ditadura sangrenta, muitos clubes fizeram manifestações alusivas à Democracia. "Nunca mais", assinalaram os torcedores, condenando a opressão.

Nota oficial do Flamengo

No Rio, o Flamengo foi a dissidência anti-democrática. A diretoria, não uma parte da sua torcida. No último domingo, rubro-negros fizeram na sede de remo uma homenagem a Stuart Angel, ex-remador do clube. Filho da estilista Zuzu Angel, Stuart foi preso, torturado e assassinado no Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica, em 1971. O jovem, então com 25 anos, foi amarrado a um veículo, com a boca colada ao cano de escapamento e arrastado até à morte no pátio do quartel. Anos depois, outros presos, além de ex-soldados que testemunharam a sessão de tortura, denunciaram a crueldade. Incomodada com a homenagem a Stuart Angel, a diretoria do Flamengo divulgou nota condenando o gesto dos torcedores. Nas redes, os internautas, incluindo rubro-negros reagiram contra o posicionamento dos cartolas. O mais curioso é que a nota oficial publicada no site do Flamengo tem na página os logotipos de patrocinadores. As marcas também assinam a nota? Estão incluídos entre os apoiadores a estatal Eletrobras, o Governo do Rio de Janeiro, Lei do Incentivo ao Esporte, Ministério da Cidadania, e o "Patria amada Brasil" do governo Bolsonaro. Ah, bom.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

"Furacão Anitta": biografia não autorizada nem desautorizada...


por Ed Sá

Leo Dias, do jornal O Dia, colunista de celebridades e apresentador do programa "Fofocalizando", do SBT, acaba de lançar a biografia "Furacão Anitta" (Agir), apresentada como "não autorizada".

O livro amplia a frente do reporting-book para figuras famosas e populares e também inaugura um gênero que seria o da "biografia não autorizada mas aprovada". Segundo o próprio autor, "Furacão Anitta" é "uma homenagem" à cantora. "Não estou aqui para deturpar a imagem da protagonista do livro. Ela é a heroína da própria história", disse ele em entrevista ao UOL.

O autor e a cantora são amigos - os muitos elogios deixam isso bem claro -  e é bem possível que trechos tidos como polêmicos tenham recebido o OK da musa do autor.

Com a crise das revistas impressas especializadas em celebridades, livros como esse atendem a um público que não tem em sites e redes sociais tanto volume de dados sobre a vida dos seus ídolos.

O gênero de biografias não autorizadas surgiu no Estados Unidos e tem como característica o tratamento literário-jornalístico de informações exaustivamente levantadas sobre o biografado.

Geralmente, quando bem feitas, vendem mais do que aquelas escritas pelos próprios personagens exatamente porque contam tudo aquilo o que a celebridade gostaria de esconder. Não necessariamente difamam - até porque o risco de processos nos Estados Unidos, país que tem mais advogados do que leitores, é alto -, mas levantam fatos preferencialmente comprovados que nem sempre afagam egos dos biografados.

No caso do "Furacão Anitta, os fãs, publico-alvo, podem ficar tranquilos: o livro é de admirador para admiradores da cantora.

domingo, 31 de março de 2019

Fotomemória: quando repórteres da Manchete levaram o Cristo Redentor para o Polo Sul....

Foto de Sergio Jorge/Reprodução Manchete


Em março de 1969, Manchete publicou um suplemento especial sobre o Polo Sul. Durante 15 dias, o repórter Durval Ferreira e o fotógrafo Sérgio Jorge percorreram o Sexto Continente e registraram a vida na imensidão da Antártida.

Para marcar presença, como exploradores que fincam bandeiras no objetivo conquistado, eles depositaram sobre o gelo um exemplar de outra edição especial da Manchete, esta sobre o Brasil e com o Cristo Redentor na capa.

Deve estar lá até hoje, soterrada em geleiras que o aquecimento global começa a derreter.

Fotojornalismo: com essa imagem, o português Mário Cruz concorre ao World Press Photo 2019. O que isso tem a ver com o Brasil?

Garoto que coleta material aproveitável descansa no colchão que navega sobre o lixo flutuante do Rio Pasig,
em Manila. A foto de Mário Cruz é finalista do World Press Photo 2019.

No próximo dia 11 de abril, o World Press Photo 2019 anunciará os vencedores de um dos mais prestigiados prêmios de fotografia do mundo. Um dos finalistas, o português Mário Cruz concorre com uma imagem que expõe a dramática poluição do Rio Pasig,  hoje uma veia de lixo e veneno que corta Manila, a capital das Filipinas. O Pasig está morto desde os anos 1990. A imagem de uma criança deitada sobre um colchão no berço da imundície concorre ao WPP e já ganhou repercussão mundial. O lixo que mata e adoece é o mesmo que se tornou fonte de renda para a população miserável que sobrevive dos dejetos.

Filipinas faz parte do Eixo da Direita, é governada pelo tosco e autoritário Rodrigo Duterte, líder moralista e populista que domina o país. O programa de Duterte tem pontos de contato com Jair Bolsonaro, que o elogia frequentemente. "Nova política", militarização do governo, perseguição a ativistas, criminalização dos movimentos sociais, imposição dos "valores da família", proximidade com milícias etc.

O país é a vitrine de um paradoxo: ao mesmo tempo em que o Banco Mundial celebra o cresciemento financeiro e as contas das Filipinas, o desemprego e a pobreza alcançam níveis dramáticos. Isso só mostra o abismo entre o mercado especulativo e suas prioridades financeiras, que não têm a ver com os interesses da população e suas necessidades básicas.

Walden Bello, um sociólogo e ativista filipino que conhece o Brasil, escreveu recentemente um artigo onde mostra o risco de o Brasil se transformar nas Filipinas de amanhã. Aqui também o mercado financeiro vai bem, fatura bilhões, e o país vai mal.

A foto de Mário Cruz espelha a desigualdade e a injusta concentração da riqueza que o mercado impõe. Esta é a cena que o Banco Mundial não vê ao colocar o jogo financeiro acima da vida.

Na Time: o oligarca canta na chuva


A alegoria da capa é perfeita. Depois de 22 meses de investigação, Donald Trump obteve uma das maiores vitórias de sua presidência. É o tema da reportagem da Time. O procurador especial Robert Mueller promoveu 2.800 intimações e 500 mandatos de busca e ouviu cerca de 500 testemunhas e não conseguiu provar que Trump e seu staff conspiraram com a Rússia durante a campanha eleitoral.  /na Casa Branca, segundo a Time houve brindes com espumante. Segurem essa: a campanha para reeleição do atual residente americano no ano que vem ganhou impulso. O Partido Democrata, que ainda se divide entre vários postulantes, vai ter que rebolar.

sábado, 30 de março de 2019

Na capa da Carta Capital, a pergunta que não quer calar...


por Flávio Sépia 

A história mostra com fartura que a esquerda nunca teve força para derrubar presidentes no Brasil. E, claro, não vai ser dessa vez. A bola está com a direita.

Até prova em contrário Bolsonaro foi legitimamente eleito, embora ele mesmo tenha levantado hipótese de fraude antes da reta final, é responsabilidade de quem o elegeu e carma geral do país até 2022.

O que analistas políticos levantam, diante da catatonia administrativa em um país paralisado que multiplica seus desempregado e da enorme capacidade de produzir crises, é que o próprio suporte do atrapalhado capitão - mercado, liberais, empresários, exportadores, ruralistas  etc, com os militares na aba - conclua que a parentada que domina o Planalto e suas ameaças insanas podem gerar graves prejuízos para o país.

Se doer no bolso, essa turma pode tirar a escada.

Outra hipótese também levantada seria a desidratação informal dos poderes do presidente que passaria a "chamar o Guedes, o Mourão, os militares"..., com o aumento da influência dos militares, do staff econômico e do Congresso. Nesse caso, Bolsonaro vai até o fim, não perde o crachá mas sua segurança pessoal terá trocar o código. Em vez de chamá-lo de "Águia",passa a apelidá-lo de "Queen". Ela mesma, a Elizabeth.

E aguardar os próximos capítulos ou a série da Netflix que desvendará mais esse "mecanismo" daqui a algumas temporadas.

A mídia em 31 de março: vergonha alheia


Em 1964, a mídia brasileira apoiou o golpe. E não negou suporte à ditadura que se seguiu. O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário de Notícias, o Jornal, Tribuna da Imprensa, Folha de São Paulo, Estadão, O Cruzeiro, Manchete, Fatos & Fotos, TV Tupi, TV Rio, TV Record (a TV Globo só entraria no ar em 1965) e, nos estados, a imprensa regional praticamente em peso saudou os militares. Os líderes golpistas passaram a ser tradados como heróis e celebridades. No Rio, o Última Hora foi uma exceção e pagou caro por se opor ao golpe. O jornal foi destruído sem receber qualquer solidariedade dos demais veículos engajados na histeria antidemocrática. O Correio da Manhã, embora conservador e tendo apoiado a "revolução", abriu espaço para as primeiras críticas ao regime militar. Poucas e isoladas vozes de jornalistas tiveram alguns espaço para críticas antes da decretação do AI5 que radicalizou ainda mais o regime. Nos anos seguintes, mesmo com as primeiras evidências de torturas e assassinatos, a grande mídia permaneceu firme lustrando coturnos. Vários editores e repórteres chegaram a desafiar o cerco da censura, mas as corporações que controlavam jornais, revistas, rádios e TV se alinharam à ditadura. Não é só a Democracia, a mídia brasileira não tem o que comemorar no 31 de março. Foi o seu Dia da Vergonha, o marco zero de uma longa noite.

Fotomemória da redação,1961: em torno da mesa de edição da Manchete


Em maio de 1961, a redação da Manchete funcionava na Rua Frei Caneca.  Pouco antes de embarcar para cobrir o Festival de Cinema de Cannes, Justino Martins reúne a redação e deixa instruções para as suas duas semanas de ausência. Entre outros, aparecem na foto em torno do diretor da revista Murilo Melo Filho e Raimundo Magalhães Jr.

Na capa da Veja: o mensageiro do apocalipse da Educação


sexta-feira, 29 de março de 2019

Nossos comerciais...


A pátria desbocada

por José Bálsamo 

Freud classificou o Superego com a instância que guarda os valores morais e culturais de um indivíduo. É aquele setor que cochicha no ouvido da pessoa: "Cara, 'manera', isso não pega bem". O Id é o "bicho solto", o banco de desejos e dos impulsos primitivos.  Não tá nem aí: "Vai fundo", ordena.
Pelo jeito, quando alguns políticos, autoridades e gurus atuais se conectam à internet apertam a tecla do Id e liberam geral.
E pensar que um dia os livros de Henry Miller foram apreendidos no Brasil "por inadequação à juventude auriverde", os palavrões de Dercy Gonçalves já foram reprimidos por "ameaçar a família e os bons costumes" e na famosa entrevista de Leila Diniz ao Pasquim os asteriscos substituíam até palavras triviais como "tesão".

Liguem os fato:

O juiz e o cantor. Reprodução
* Mandado de apreensão - O desembargado Jaime Machado Júnior, de Santa Catarina, em modo deslumbrado ao lado de uma celebridade, o cantor Leonardo, mandou uma mensagem de vídeo para um grupo de juízas e, data vênia, despachou: "Nós vamos aí comer vocês. Ele segura e eu como". O vídeo viralizou na web. AQUI

* Sopradores - Também circulam na rede trechos da entrevista de Nana Caymi à Folha. A pretexto de defender Bolsonaro, em quem votou e apoiou, a cantora ataca Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque: "Tudo chupador de pau do Lula", disse "La Pasionaria" do regime.

* Olha a chuva! -Bolsonaro abalou o carnaval ao chancelar no seu Twitter um vídeo 'pornô onde um rapaz pratica "chuva dourada" em outro. O filme repercutiu e a expressão golden shower foi para os trend topics mundiais. Parece que o tema não saiu da cabeça presidencial. Ele definiu o entrevero que teve com Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, como uma "chuva de verão. A palavra em inglês para o fenômeno climático (que virou sexual) é... "shower".

* Filosofia do brioco - Já o guru do governo, o astrólogo Olavo de Carvalho, deve achar que o cu é uma espécie de sistema planetário que preenche todas as situações. Tem especial apreço verbal pelo orifício, que é seu xingamento preferido. Duvida? Basta acessar as mensagens do Twitter da sumidade bolsonariana.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Revista Senhor, 60 anos: quando o jornalismo descobriu a cultura...

Março de 1959: a capa da primeira edição.

Nahum Sirotski deixou a Manchete para editar a Senhor

No primeiro número, Djanira, Portinari, Tarsila. Artigo de Mário de La Parra pregava a paz nas artes. ""No Brasil, as tendências artísticas e seus representantes mais sugerem a CBD e digladiar-se com maior veemência do que é dedicado ao trabalho criador".

Jorge Andrade entrevistado por Flávio Rangel. 

Ray Bradbury traduzido por Ivo Barroso

Ira Etz, a então musa de Ipanema

Miguel de Carvalho alerta sobre os perigos da água.

A edição de aniversário. 

Na edição que comemorou os quatro anos, como um prenúncio do fim, Senhor publicou uma longa lista de agradecimento aos seus colaboradores, entre os quais vários jornalistas que também atuaram na Manchete, como Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Ledo Ivo, Ibrahim Sued, Stanislaw Ponte Preta e Antonio Maria,

por José Esmeraldo Gonçalves

A agitação cultural do Brasil na segunda metade dos anos 1950 só podia acabar em revista.

No embalo da modernização do país, artistas e intelectuais refaziam o cinema, o teatro, as artes plásticas e a música popular. O jornalismo não podia ficar de fora e surgiram os cadernos culturais dos jornais. Faltava uma revista.

Nahum Sirotski ainda era diretor do Manchete, em 1958, quando em parceria com Alberto Dines pensou em criar uma publicação semanal na linha do U.S New World Report ou Esquire. A ideia só foi para o papel quando ganhou o apoio de Abraão Koogan e  Simon Waissman, que publicavam a Delta Larousse no Brasil.

Em março de 1959, há exatos 60 anos, Senhor chegou às bancas com um time de peso: Nahum como editor, Paulo Francis era o editor-assistente, Carlos Scliar assinava a Arte da revista e tinha como assistentes Glauco Rodrigues e Jaguar. Entre os colaboradores do primeiro número, Otto Maria Carpeaux, Anísio Teixeira, Carlos Lacerda, Reinaldo Jardim, Flávio Rangel, Clarice Lispector e Fernando Sabino.

A fase original original da Senhor durou menos de cinco anos, entre 1959 e 1964. Os tempos já eram sombrios quando o último número foi impresso.

Um ano antes do fim, ainda otimista e teimosa, Senhor comemorou os quatro anos. O clima no país  não tinha a ver com aquele 1959 que parecia luminoso. A intolerância, que logo virou perseguição, estava nas ruas. A conspiração saía das sombras e a cultura seria uma vítima preferencial.

A Senhor agradeceu a preferência, pediu licença e deixou as bancas.

Fez bem. Foi melhor do que virar "sim, Senhor".

domingo, 24 de março de 2019

Fotomemória da redação - JK e Temer: a diferença entre o legítimo e o ilegítimo...

Ao desembarcar no Galeão, JK é intimado a depor. 

A multidão que o esperava cerca a viatura. 

Depois de duas horas de depoimento, JK deixa o quartel da PE. 

Na frente do prédio onde o ex-presidente morava, o povo fez vigília.

Essas fotos mostram o contraste.

A última semana foi marcada pela prisão de Michel Temer, sob a acusação de corrupção, recebimento de propina, lavagem de dinheiro etc.

Temer chegou à presidente no embalo de um golpe jurídico-parlamentar. Sua prisão, após deixar o cargo, foi acompanhada pelas emissoras de TV a partir de helicópteros. Apenas uma imagem repetida à exaustão mostrava o político na rua, em um carro, ao ser abordado por policiais.

Uma solidão que a ilegitimidade explica.

Temer pegou carona em um golpe. Não havia multidões a defendê-lo. Nem mesmo aquelas que foram às ruas apoiar sua posse envergonhada.

Em 1965, outro ex-presidente, este legítimo, era vítima e não beneficiário de um golpe.

A quartelada de 1964 cassou Juscelino Kubitschek. Apesar disso, os militares não se conformavam com a sobrevivência política do ex-presidente e decidiram processá-lo. Alegavam que JK tinha responsabilidade na "deterioração do sistema de governo" e o acusavam em Inquérito Policial-Militar, vagamente, de corrupção. Nada foi provado, mesmo assim ele foi silenciado e perseguido pela ditadura até o fim da vida. Nos seus últimos anos, JK foi acolhido na Manchete em cujo edifício mantinha um escritório cedido pelo velho amigo Adolpho Bloch. Ao morrer, em 1976, deixou um patrimônio considerado modesto.

Mas naquele outubro de 1965, JK voltava de Paris, onde se refugiara após a cassação e ameaças, quando soube que ao desembarcar seria conduzido para depor no quartel da Polícia do Exército. Uma multidão o esperava à saída do Galeão. O depoimento durou pouco mais de duas horas. Ao sair, JK foi recebido por amigos e admiradores. No dia seguinte, seria novamente ouvido pelos funcionários da ditadura.




Sua detenção motivou protestos que repercutiram internacionalmente. O povo fez vigília na frente do prédio onde ele morava e volta e meia exigia sua presença à janela. Em um desses momentos, foi feita a capa da edição.

A Manchete publicou uma grande reportagem sobre o assunto, parcialmente reproduzida acima. Murilo Mello Filho era o repórter. Jáder Neves, Gervásio Baptista, Hélio Santos, Orlando Abrunhosa e Eveline Muskat formavam a equipe de fotógrafos.

JK não estava sozinho.


Sabia disso? Forrest Gump morreu no atentado às Torres Gêmeas


por Ed Sá

Uma revelação 25 anos depois.

"Forrest Gump", do diretor Robert Zemeckis e com Tom Hanks como protagonista, foi o grande sucesso em 1994. No filme, o personagem viaja por vários países, testemunha eventos históricos e interage com líderes e personalidades mundiais. Indicado para 13 categorias do Oscar 1995, levou seis prêmios, incluindo os Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator.

Era previsível que a Paramount em algum momento produzisse uma sequência. O site Moviehole conta que o roteiro do Forrest Gump 2 chegou a esboçado por Eric Roth, também ganhador do Oscar de Melhor Roteiro pela adaptação do romance homônimo de Winston Groom.

Ironicamente, "Forrest Gump 2" foi atropelado por um evento que mudou o mundo como tantos focalizados no filme. Ainda sob o choque dos atentados de 11 de setembro, em 2001, quando a sequência estava em preparação, Tom Hanks, Roth e o diretor Robert Zemeckis concordaram que um "Forrest Gump 2" não fazia mais sentido.

No novo roteiro esboçado Gump apareceria em muitos momentos dos anos 1990: teria um filho com Aids rejeitado na escola, pegaria carona no jipe Bronco de O.J.Simpson sob perseguição policial, dançaria com a princesa Diana em festa beneficente e seria visto em frente ao prédio do governo, em Oklahoma, implodido em atentado terrorista que matou 168 pessoas e feriu cerca de 700, em 1995.

"Nós nos reunimos no mesmo dia 11 de setembro, eu, Tom e Bob, comentamos sobre a vida na América, nos entreolhamos e dissemos: 'Esse filme não tem mais sentido', recorda o roteirista Eric Roth ao site Moviehole.

E assim morreu Forrest Gump, a vítima esquecida das Torres Gêmeas.

LEIA A MATÉRIA NO MOVIEHOLE, AQUI

sábado, 23 de março de 2019

Bar do Novo Mundo: o último brinde ...

O barman Martins, do bar do Novo Mundo, ontem, às vésperas do fechamento do hotel. Foto: J.E.Gonçalves
O penúltimo show. Foto bqvManchete


Amanhã, domingo, quando o último hóspede do Novo Mundo quitar a conta fechará também um dos mais tradicionais hotéis do Rio de Janeiro. Hoje, esse cidadão dormirá no único dos 227 quartos ainda ocupado. Talvez ele não saiba, mas estará cercado de memórias de um Rio que aos poucos troca de cenários.

Ontem, o bar do Novo Mundo foi lotado pelo público que costuma frequentar os shows semanais que o espaço recebeu nos últimos anos. A cantora Fernanda Fernandes e artistas convidados interpretaram MPB, bossa nova e alguns clássicos do samba-canção. Um repertório, principalmente o último item, adequado para um local que foi uma referência dos Anos Dourados quando o Rio era a capital e o poder morava ali ao lado, no Palácio do Catete. O clima era de despedida. Foi a penúltima sessão. Hoje à noite, o pianista e compositor Osmar Milito fará o último musical do velho bar.

Este blog já citou o Novo Mundo, inúmeras vezes, como uma referência para os jornalistas, fotógrafos e funcionários do setor administrativo da extinta Bloch também ali ao lado.

O bar, aquele pequeno território administrado durante décadas pelo barman Francisco Martins, o lendário Martins, era o posto avançado etílico da Manchete onde o estresse do dia podia ser rapidamente diluído on the rocks, mas ontem, os drinques diluíram lembranças.

No restaurante do Novo Mundo: José Rodolpho, Carlos Heitor Cony, Esmeraldo, Alberto, Orlandinho, Daisy Prétola, Barros, Maria Alice, Roberto Muggiati e Alvimar: almoço comemorativo dos 20 anos do lançamento da Revista Fatos,
em março de 2005.
Foto de Jussara Razzé

No bar do hotel, esticada após o almoço: Maria Alice, Daisy, Esmeraldo, Alberto,
José Rodolpho e Barros. Foto de Jussara Razzé.

Como a de 17 de março de 2005 quando um pequeno grupo se reuniu para recordar o dia em que foi às bancas a primeira edição de uma revista semanal de informação e análise - a Fatos - que circulou durante um ano e quatro meses, não deu certo por vários motivos, inclusive políticos, mas fracassou com dignidade. Depois do almoço comemorativo no restaurante do hotel alguns remanescentes da revista esticaram no bar. Era inevitável que "causos" folclóricos fossem rememorados.  Ali surgiu a ideia de se organizar uma coletânea que reunisse tantas histórias dos bastidores das redações das revistas da Bloch. É assim foi feito. O livro "Aconteceu na Manchete- as histórias que ninguém contou", que nasceu no bar do Novo Mundo, foi lançado pouco mais de três anos depois, em novembro de 2008.

Na coletânea estão vários desses "causos", alguns deles acontecidos exatamente no bar do Novo Mundo e testemunhados pelo onipresente Martins a quem um pequeno grupo ex-Manchete levou um abraço de saideira em nome dos presentes e dos saudosos ausentes.
   

sexta-feira, 22 de março de 2019

Disputa de herdeiros abala a Folha de São Paulo. Passaralho à vista...

O racha na Família Frias, com a destituição de Maria Cristina Frias pelo irmão Luiz Frias, expõe uma séria disputa de poder na Folha de São Paulo.

A morte recente de Otávio Frias Filho foi o gatilho para mudanças que afetam especialmente a edição impressa do jornal.

Luiz Frias, executivo com origem no meios digitais do Grupo Folha (UOL e Pagseguro), não teria muitas expectativas quanto ao futuro da mídia fora da internet. Nem boa vontade com papel. O clima na redação é de voo rasante de passaralhos nas próximas semanas, com redução de pessoal e muitas mudanças no corpo de colunistas e colaboradores.

Em jogo também a linha editorial e a integridade do chamado Projeto Folha, que prega jornalismo crítico frente a governos e grupos políticos.

terça-feira, 19 de março de 2019

Publimemória - A aviação voa de costas?

por Ed Sá

Os aviões são mais seguros - apesar do computador pirado do tal Boeing Max 8 - mais rápidos, têm mais autonomia, há mais rotas e muito mais cidades dispõem de aeroportos. Então ficou mais prático e confortável viajar de avião? Nem sempre. As cabines já não são tão confortáveis (primeira classe à parte), o serviço a bordo é precário quando não caro, protocolos de segurança exigem tempo e paciência dos passageiros, paga-se passagem, direito de escolha de assento, bagagem, taxa de embarque, espaço pra perna se o freguês quiser, transferência de voo, pra remarcar, pra cancelar etc.

Isso sem falar nas companhias de low cost, também conhecidas como Sadô-Masô Airways.

Então é isso: em termos de conveniência, a aviação até parece voar de costas.

Veja o anúncio acima publicado na Manchete no começo da década de 1960: a Real Aerovias, empresa brasileira que nunca figurou entre as grandes, oferecia voo direto de Constellation do Rio para Los Angeles com escala em Bogotá e Cidade do México, mas sem conexão. Ou seja, o cidadão não precisava trocar de avião.

Não há, hoje, voos diretos do Rio para Los Angeles. As frequências que ainda existem exigem troca de avião e horas de espera em aeroportos. Parece-me que ainda há uns poucos voos sem escala São Paulo-Los Angeles. A situação do Rio de Janeiro é pior. A cidade vem perdendo voos diretos do Galeão para as principais capitais do mundo. Em seis anos, segundo O Globo, o Rio perdeu 25% dos voos domésticos e internacionais. Até Rio-Orlando, abastecido pelos mickeymaníacos e sacoleiros nutella, já foi cancelado. O último Rio--Nova York direto decola em abril próximo.

Sinal dos tempos: para pegar esse voo da Real que o anúncio promove os paulistas tinham que vir para o Rio. Hoje, em algumas rotas internacionais, os cariocas têm que fazer um pit stop na Paulicéia.

Visita de um presidente aos Estados Unidos. Não é quem você está pensando...

Washington: Jango discursa ao lado de Kennedy. Roberto Campos, à esq., observa. 

Nova York: o presidente brasileiro desfila em carro aberto 

Jango e Kennedy.
Jango saúda operários em Nova York.




Em abril de 1962, o presidente João Goulart visitou os Estados Unidos. Foi recebido com pompa e circunstância, desfilou em carro aberto em Nova York, com direito a chuva de papel picado, discursou na ONU. 

Em Washington, hospedou-se na Blair House, discursou no Congresso, reuniu-se mais de uma vez com John Kennedy, recebeu na embaixada brasileira autoridades americanas, diplomatas, empresários e figuras da sociedade local. 

Mas não foi à CIA

Murilo Mello Filho e o fotógrafo Jáder Neves fizeram uma extensa cobertura para Manchete (reproduções acima). Adolpho Bloch acompanhou a comitiva como convidado. Ibrahim Sued cuidou do relato dos eventos sociais. 

Os repórteres brasileiros tiveram acesso praticamente irrestrito à agenda do presidente João Goulart. Nas fotos ao lado, Murilo Mello Filho e Jáder Neves cumprimentam John Kennedy. 

Jango e equipe - Walther Moreira Salles era o ministro da Fazenda, San Tiago Dantas o do Exterior, Roberto Campos o embaixador em Washington -, defenderam interesses brasileiros, principalmente tentaram renegociar dívida externa. Não tiveram muito sucesso, até obtiveram alguma ajuda financeira, mas Kennedy queria que o Brasil se submetesse ao FMI e decretasse medidas fiscais rigorosas com forte impacto social, o que não foi aceito. 

Os Estados Unidos insistiam para que o Jango indenizasse as subsidiárias das empresas americanas Bond & Share e ITT, encampadas pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola. O presidente não condenou Brizola. Jango defendeu a não intervenção em Cuba, mas criticou em regimes marxistas. Em discurso no Congresso norte-americano, o presidente brasileiro falou sobre a situação na América Latina e alertou sobre as graves consequências das relações comerciais desiguais entre os sul-americanos e os Estados Unidos. 

sábado, 16 de março de 2019

Memória da redação - Contaram para você que Pelé nunca pensou em ser vendido para a Europa? Errado. Manchete revelou que ele quis ir para o Real Madrid



por Niko Bolontrin

Pelé passou sua vida profissional como jogador quase inteiramente no Santos. Só foi para o Cosmos, de Nova York, oito meses depois de pendurar as chuteiras como jogador da Vila Belmiro.

E nós sempre lemos por aí que Pelé jamais cogitou em jogar por um clube europeu. Uma antiga matéria da Manchete mostra que a história não é bem essa.

Apesar de ter jogado apenas no Brasil, Pelé ganhou dinheiro com o futebol e, principalmente, com publicidade. Mas nada que se compare ao que fatura qualquer jogador mediano que se firma no milionário futebol europeu de hoje. Os bens de Pelé em 1959, como relata a  matéria da Manchete (trecho reproduzido acima) seriam quase risíveis para um Neymar, um Philippe Coutinho, um Tiago Silva e outros que jogam nas ligas europeias. Olha só a qualidade da "lanchinha" que ele ganhou de presente!

Naquele dia, às vésperas de viajar em excursão com o Santos para Espanha, França e Itália, Pelé falou sobre uma proposta que o Real Madrid vinha fazendo ao Santos: levar o craque, então com 18 anos, por Cr$ 80 milhões, na moeda da época.

"Nesse caso, acho que vou ter de deixar o Brasil por algum tempo. Oitenta milhões não é brincadeira. Acabando o serviço militar, se o negócio estiver de pé, vale a pena fazer o sacrifício" - disse o jogador que ganhava Cr$120 mil mensais quando o salário mínimo era então de Cr$3.800.

O Santos recebeu essa e teria recebido muitas outras propostas, mas nunca fechou negócio. Talvez porque, na época, não havia um desequilíbrio econômico tão avassalador entre o futebol brasileiro e o mundo encantado da Liga dos Campeões. Atualmente, se quiser, qualquer clube médio da Europa leva qualquer jogador brasileiro e ainda pode importar, de brinde, o cartola presidente, sua mulher, sogra, o cachorro, o papagaio e o cunhado-problema. 

Na capa da Carta Capital, a guerra dos mundos...


O que muitos omitiram está na Superinteressante: Boeing 737, o avião engatilhado...


Quando a China botou os Boeing 737 Max 8 no chão, após a queda do jato da Ethiopian Airlines, com 149 passageiros a bordo, jornais ocidentais atribuíram a decisão a uma "guerra comercial" com os Estados Unidos. Logo depois, dezenas de países e companhias aéreas cancelaram todos os voos com aviões do mesmo modelo. Os Estados Unidos, não por acaso porque a Boeing é empresa poderosas. foram um dos últimos a levar seus 737 Max para os hangares.

O acidente com o avião da Ethiopian é o segundo em apenas seis meses com o novo modelo: em outubro do ano passado 189 pessoas morreram na queda de um aparelho da Lion Air.

Sobre o assunto, os principais veículos da mídia brasileira se limitaram a reproduzir reportagens internacionais. Coube à revista Superinteressante publicar uma matéria, assinada por Rodrigo Ribeiro, que recria a carreira dos modelos 737 que vêm sendo reconfigurados há cerca de 50 anos e mostra que a decolagem para os dois recentes acidentes começou há muito tempo. Conheça o vilão MCAS... e boa viagem.
LEIA AQUI  

A mídia brasileira adotou a expressão infantilizada "bumbum" por ter vergonha de "bunda". Já os portugueses são mais criativos: vão de rabiosque.



por José Bálsamo 

A mídia brasileira, em geral, prefere usar a palavra "bumbum", com essa conotação infantiloide. Uns poucos veículos assumem o "bunda" para falar de... bunda, que é palavra de origem africana. Como donos do rico idioma do qual o Brasil é apenas franqueador, os portugueses usam no dia a dia muito mais palavras do que os ex-colonos. Para definir glúteos ou nádegas, também empregam "traseiro", que adotamos por aqui, e "cu", que para os brasileiros é vocábulo de uso restrito ao próprio. Lá eles usam tranquilamente a frase "tomar uma pica no cu” para dizer que tomaram uma injeção na bunda, sem provocar histeria em facções religiosas.

O portal Sapo, português, noticia hoje uma dessas polêmicas em torno de celebridades. A modelo e atriz Emily Ratajkowski publicou no Instagram a foto de um par de bundas, a de uma amiga mais robusta e a dela. A atriz foi acusada de, com isso, tentar humilhar a amiga. Ela respondeu às críticas, falou que não existe apenas um padrão de corpo bonito e chamou os haters de malucos.

Mas o que importa aqui é a bunda. No título da matéria, o Sapo usou uma palavra que a mídia brasileira bem que podia adotar e que é menos tatibitade do que "bumbum", que aliás é exclusiva do Brasil. Para os portugueses, bumbum é "estrondo repetido", "som de bombo". Alguns dicionários da terrinha registram "bumbum" como bunda, mas advertem que é uma forma brasileira.

O Sapo tem razão: todo o poder ao vocábulo rabiosque devidamente consagrado nos dicionários lusos. É mais sonoro, dá ideia de curva, de sinuosidade.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Internet contra o crime - Elementar, meu caro nerd


por Ed Sá 

O Globo de hoje publica uma boa matéria (de Gabriela Goulart e Lucas Altino) sobre o desdobramento das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

É sobre o rastreamento de emails, históricos de navegação, sites, aplicativos, arquivos na nuvem e análise de localização e movimentação de celulares dos suspeitos Ronnie Lessa e Élicio Queiroz. A investigação feita pelo Núcleo de Busca Eletrônica da Delegacia de Homicídios levanta uma vasta quantidade de pistas virtuais.

Ao comprometer a privacidade dos usuários, todos nós, a tecnologia também joga uma rede digital implacável sobre os criminosos. Além da internet, a malha de câmeras urbanas associada aos softs de reconhecimento facial pode criar armadilhas para o crime. No mesmo Globo, a repórter Vera Araújo mostra como a imagem de uma câmera levou a polícia a identificar um dos acusados, Ronnie Lessa, através de uma tatuagem que apareceu em uma fração de segundos.

Esse tipo de pista digital encurrala suspeitos, mas, indiretamente, fará algumas vítimas improváveis: os autores de livros policiais.

Obras clássicas do gênero levam o leitor, devagar e sutilmente, a seguir pistas que só se revelam aos detetives que têm aguçado senso de observação. O personagem Sherlock Holmes era capaz de dizer em que parque londrino um suspeito passou apenas ao ver a coloração da lama em botas. Usava a lógica dedutiva.  Agora, com um smartphone e alguns cliques na nuvem e uma investida no Google Maps, qualquer nerd pode revelar em segundos muito mais do que isso.

Escritores policiais terão que apurar a técnica? Talvez, mas por falar em técnica, sempre haverá honrosas e clássicas exceções. Os livros de George Simenon, por exemplo, nem sempre investigam se o acusado é culpado, preferem levar o leitor, por páginas e páginas, a se perguntar do que o acusado é culpado.

De qualquer maneira, os novos autores não poderão ignorar que a busca eletrônica vai dispensar muitas das voltas que o romance policial dá. Que o digam os suspeitos do assassinato de Marielle e Anderson. Resta saber se o mandante da execução também deixou suas pistas no vasto universo digital.

Suzano: o choque e a tristeza...

O massacre de Suzano, ontem, chocou o Brasil. As primeiras sondagens em redes sociais mostraram que os assassinos Guilherme Monteiro e Luiz Henrique participavam de fóruns virtuais nos porões da internet, em sites de extrema direita que fornecem tutoriais sobre violência e terrorismo, pregam nazismo, racismo etc. A informação foi publicada no portal R7. Monteiro era declarado fã de armas, de pena de morte e outros "valores" de "homens de bem" atualmente em voga no Brasil.

O segundo choque, que veio no rastro da tragédia, foi constatar que importantes autoridades brasileiras, conforme não se negaram a demonstrar em comentários à mídia, têm uma lado a defender na chacina da Escola Raul Brasil: o das armas.

O que só aumenta a tristeza diante do massacre que deixou dez mortos.

Doodle faz justa homenagem a Carolina de Jesus. Alô Google, ainda dá tempo lembrar Marielle Franco...

O doodle do Google faz hoje uma justa homenagem aos 105 anos de Carolina Maria de Jesus, autora de "Quarto de Despejo: diário de uma favelada". Publicado em 1958, o livro é de uma atualidade chocante. O Google só perdeu a oportunidade de duplicar a homenagem para incluir a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, vítima de um atentado político há um ano - ao lado do seu motorista Anderson Gomes - -  por defender causas sociais, incluindo a luta das mulheres negras contra as injustiças, muitas das quais expressas por Carolina de Jesus no seu dramático diário.