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sexta-feira, 19 de junho de 2015

A aposta no conflito: ativistas pintam frase "Morra Jô Soares" em frente à casa do apresentador e Esquadrão Classe A de senadores tenta salvar a Venezuela

Ameaça da Jô Soares. Reprodução Facebook
por Flávio Sépia
Uma escalada visível rumo à incerteza. As agressões que circulavam na internet chegam cada vez mais à vida real. Pessoas agredidas na rua apenas por usar camisa vermelha, autoridades agredidas verbalmente em restaurantes, passageiro agredido em avião por estar lendo uma "revista de esquerda", um militante de oposição que vai a uma convenção de um partido apenas para provocar. Provavelmente, ele esperava ser agredido, o que o levaria às primeiras páginas dos jornais e talvez a um episódio de maiores consequências. Um tipo de tática adequada a quem procura criar uma vítima, do tipo "atentado da Toneleros", um estopim de crise dramática.
Mesmo essa viagem de uma comitiva de senadores à Venezuela, de um ridículo quixotismo, pode ser vista como uma provocação ao tentar interferir em questões internas de outro país. Curiosamente, os mesmos senadores não pensaram em viajar para Guantánamo, campo de concentração condenado pela ONU ou para Honduras, onde golpistas derrubaram um governo legítimo e encarceraram políticos e funcionários públicos. Imagine como reagiriam o Brasil e, até mesmo os tais senadores protagonistas da força-tarefa, se uma comitiva da China, da União Europeia ou da Suécia, viesse ao nosso terreiro para, por exemplo, visitar os ativistas presos em consequência das manifestações de rua ou quisessem prestar solidariedade aos detidos ou feridos pela PM de Geraldo Alkmin nas ruas de São Paulo; ou, ainda, apurar os frequentes assassinatos atribuídos a políticos, grileiros e fazendeiros de jornalistas, ambientalistas e sindicalistas que atuam no interior do país. Ninguém teria saco para ouvir tantos seriam os discursos inflamados no Senado.
Já pipocam versões sobre o tal incidente dos senadores. Talvez a situação fique mais clara nos próximos dias. Brasileiros que testemunharam parte da cena, dizem que havia um engarrafamento (viram uma carreta tombada), o trânsito logo andou, e todos os outros passageiros chegaram ao centro da cidade. Oposicionistas venezuelanos dizem que o governo alegou transferências de um preso e limpeza de túneis. Há quem diga que o Esquadrão Classe A dos senadores teria se precipitado ao dar no pé de volta ao Brasil. Devem aparecer fotos mais claras das tais agressões. Por enquanto, cenas mostram manifestantes ao lado da van.  Acredito que alguém dentro daquela van deve ter mantido algum autocontrole para registrar o apedrejamento denunciado. Vamos aguardar. O fato é que a Venezuela vive uma forte crise, há militantes radicais de um lado e do outro. Um grupo teria lançado pedras e laranjas (são condenáveis as pedras e, na atual escassez da Venezuela, as laranjas são um desperdício) na van dos senadores - cuja viagem foi fartamente noticiada - para protestar contra o que achavam ser um intromissão. Na tensão que o país vive - não se deve esquecer que a oposição, ao lado de militares, já sequestrou e prendeu o então presidente Hugo Chávez, afinal resgatado e levado de volta ao palácio presidencial por forças militares que não concordaram com o golpe - há registro de tumultos e descontrole. No clima atual, seria muita inocência dos senadores se esperassem ser, nas ruas, recebidos com flores e tapinhas nas costas. Pode-se dizer que os senadores foram à Venezuela mas o verdadeiro alvo da missão continua em Brasília. Juntas e misturadas, tais ações buscam o mesmo objetivo através de um amplo leque de estratégias onde se incluem desde pedidos de recontagem de votos, passando por revisão dos gastos eleitorais, por erros na política fiscal, Petrobras, CPIs, mudanças de leis para impedir que a presidente nomeie ministros do STF, o passo atrás da reforma política e desengavetamento dos projetos mais inadequados e corporativistas. A intenção é acossar Dilma.
Mas não se trata só de violência política. Se os políticos sinalizam medidas radicais, parte da rua responde a cada causa com uma consequência. Se as tais bancadas decidem que homofobia não é crime, isso respalda assassinatos como o de um menino morto recentemente por ser tido como gay; se deputados fazem manifestações religiosas na própria Câmara e desprezam a Constituição laica, adeptos de fundamentalismos se sentem seguros em lançar pedras em menina que pratica religião afro.
No plano institucional, a busca por um ruptura institucional também chega às ruas em forma de violência, como no caso da pichação ameaçadora dirigida a Jô Soares, após a entrevista que o apresentador fez com Dilma Rousseff.
Digamos que o Brasil pode virar um octógono de MMA, sem possibilidade de empate.

ATUALIZAÇÃO EM 25/6/2015 - Jô Soares falou, no seu programa da última quarta-feira (24/6), falou sobre as ameaças que recebe nas redes sociais e a pichação na calçada de sua casa com a frase "Morra Jô Soares". "Ainda bem que não tem data”, ironizou.