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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

RODA G$GANT$ - Mais uma tentativa de transformar parte do Aterro do Flamengo em empreendimento comercial...

Ameaçado: o belo Aterro dos cariocas. Foto de Pedro Kirilos/Riotur

Aterro completa 50 anos mas é um "velhinho" cobiçado. Está sempre na mira de empreendimentos comerciais que sonham ocupar parte do Parque, cobrando ingressos ou "pedágio", claro. Foto de Pedro Kirilos/Riotur


O exemplo equivocado. A roda-gigante London Eye não foi construída em um parque público mas em terreno particular. Reprodução
  
O Aterro comemora 50 anos.  Um marco. Especialmente, porque em cinco décadas sobreviveu a vários ataques predatórios. E esses ataques são recorrentes.
Hoje, a coluna do Ancelmo, no Globo, dá notícia de mais uma dessas ofensivas. Um grupo tenta instalar um mafuá comercial no Aterro. Nada menos do que uma roda-gigante. Um pouco antes da Copa foi feita uma tentativa semelhante. Não se sabe se é o mesmo grupo que, na época, queria bagunçar a praia de Botafogo. Também não faz muito tempo, o concessionário do Rio's (que está devendo o aluguel à Prefeitura, como noticiado) tentou construir uma casa de shows ao lado do restaurante. Nessas investidas, o pessoal demonstra um certo marketing criativo, sempre tentando se associar a um nome ou instituição conhecidos. No caso da casa de shows, o projeto seria do Niemeyer, no fim da vida, ou do seu prestigiado escritório. Felizmente, e até que tentem novamente, o cabaré foi abortado.
Agora, planta-se a ideia da roda-gigante. Segundo a nota, iniciativa de um autodenominado Instituto Lotta (aparentemente recém-fundado, pois informa que ainda está "sendo organizado") e um certo Rio View. O instituto, segundo o Google, apresenta-se como um ONG batizada de Instituto Lotta de Cultura e Recreação, em homenagem a uma das idealizadoras do Aterro. Não sabe quem está à frente, já que a página não tem o tradicional "Quem Somos". Uma busca à Rio View mostra várias referências mas nenhuma relacionada a empresa estabelecida ou nomes de responsáveis. Não foi possível encontrar página ou maiores dados da suposta empresa ou instituição.

Roda, roda, roda e avisa...
Os supostos empreendedores da roda-gigante informaram ao Globo que, no projeto original do Aterro, havia um local para "um grande brinquedo ao ar livre". Um vago argumento. E é até um risco, essa débil sugestão. O "grande brinquedo ao ar livre" poderia ser até um Godzila de 150 metros de altura. O prédio do atual Vivo Rio também estava no projeto original e, ao ser construído, prejudicou a bela perspectiva do MAM. Foi um erro ceder ao apelos comerciais e resgatá-lo fora de época. Já a Marina da Glória era, no projeto original, um ancoradouro público. O propósito foi deformado e, hoje, a Marina privatizada faz tentativas periódicas de construir edificações, shopping, centro de convenções e ampliações das instalações existentes, até com invasão - aparentemente contida, chegaram a cravar até estacas - do espelho d'água da Baía da Guanabara.
Essas tentativas, às vezes travestidas de "boa causa" (uma hora, para 'preparar' a cidade para a Copa ou para a Olimpíada, outra hora "homenagear" Niemeyer e por aí vai), são apenas empreendimentos comerciais com o propósito de privatizar mais um pedaço do Aterro, impedindo a população de frequentá-lo livre e gratuitamente. Nada contra empreendimento comercias, mas há outras áreas mais adequadas na cidade. Se um só desses "projetos" passarem, a porteira estará aberta e outras empreiteiras poderão justamente reivindicar espaço para casas de shows, igrejas, por que não?, circos ou ringues de MMA. Se bobear, vai aparecer gente querendo cercar o Aterro, botar catraca eletrônica e cobrar ingresso. Roda-gigante é a ponta-de-lança do mafuá. Os supostos empresários usam como argumento a London Eye, a roda-gigante de Londres. O argumento é meio colonizado mas vale acrescentar um dado que talvez eles não saibam: a London Eye foi construída em um terreno privado, particular, não se comprometeu um parque público ao instalá-la.
Aqui, quem pensa em comprar um terreno para seu empreendimento se pode tentar ocupar uma área pública?

Saudosa maloca 
A cidade já se livrou de uma espécie maloca ou mafuá: o Tivoli Park, na Lagoa. Claro que  muitos adultos têm boas lembranças dos brinquedos do Tivoli. Mas pergunte a qualquer um que frequente livremente o Parque dos Patins, as ciclovias, os deques (e não é privilégio da Zona Sul, basta ir lá para ver que há cariocas e filhos de outros bairros que desfrutam da bela área pública sem pagar ingresso) se quer trocar tudo aquilo pelo parque privado?
Para finalizar, um pouco de histórias urbanas: nos anos 50, quando da construção do Aterro, tinha dono de jornal sugerindo que, margeando as duas pistas, fosse permitida a construção de prédios residenciais. A "boa causa" era, com isso, vender os novos lotes e arrecadar dinheiro para a construção do parque. A mesma tentativa foi feita, anos depois, quando a Praia de Copacabana foi aterrada e voltou a "sugestão" e o lobby de se erguer mais uma linha de condomínios estilo miami à beira das novas pistas para ajudar a "financiar" a obra. Quer mais? Antes de o belo casarão do Parque Laje ser desapropriado pelo governo federal, uma construtora ligada a um grupo poderoso manobrou para comprá-lo. O projeto era construir no local um... cemitério vertical. São lembranças de velhos cariocas apoiados por antigas coleções de jornais da época.
Área livre no Arco Rodoviário
Que o Aterro, portanto, resista a mais essa nebulosa investida. Que o Iphan fique atento. Que o Ministério Público Federal, que anda ativo, ligue ainda mais antenas. Que os verdadeiros defensores do Aterro, os frequentadores em geral e os moradores do Flamengo, Catete, Laranjeiras, Glória, Santa Teresa. Lapa e Centro, em especial, defendam, como sempre fazem, a maior área de lazer da cidade.
E que "empreendedores" parem de encher o saco, deixem o Aterro em paz, e se aliem ao Rio, que deseja preservá-lo.
Há muitas áreas privadas, no Rio e Grande Rio, que seriam valorizadas com a instalação de uma roda-gigante até maior do que a London Eye. Dou uma ideia de graça: os milhares de hectares de terrenos livres, e a bom preço, às margens do Arco Rodoviário. Dá até para construir uma Disney. A cidade vai crescer para aqueles lados, nem tem muito engarrafamento pra chegar lá. Acham longe? Pois mesmo no novo Porto, em revitalização, há espaços degradados que sediariam de bom grado uma roda-gigante. E a vista também é sensacional. Basta esquecer a moleza de ocupar área pública e comprar um terreno.