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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Foto dos Beatles na Abbey Road é alterada pela Volkswagen. Motivo: Fusca que aparece na famosa imagem comete infração de trânsito

O Fusca com duas rodas sobre a calçada e a "correção": estacionado segundo o código de trânsito. Reprodução/Design Taxi (link abaixo)

por Flávio Sépia 
Meio século depois, o politicamente correto e o oportunismo publicitário  alcançam uma foto lendária dos Beatles. O famoso Fusca branco que aparece na imagem estacionado com duas rodas sobre a calçada da Abbey Road, em infração às leis do trânsito, foi manobrado para obedecer ao código. A correção foi feita pela Volkswagen que produziu uma campanha comemorativa dos 50 anos do álbum para divulgar o "Park Assist", a tecnologia que presta assistência eletrônica aos motoristas na hora de estacionar.
A dica é do Blue Bus e você pode ver a matéria original completa no Design Taxi AQUI

domingo, 29 de julho de 2018

Novos tempos para os ensaios fotográficos do Calendário Pirelli 2019. Publicação aposenta a sensualidade e investe em histórias femininas de "superação"

Calendário Pirelli 2019. Foto de Albert Watson/Divulgação 
por Clara S. Britto

Criado em 1964, o Calendário Pirelli tornou-se um ícone pop da fotografia. Modelos e atrizes que se destacaram em pouco mais de 50 anos passaram pela folhinha em ensaios sofisticados e sensuais,  clicadas pelos mais importantes fotógrafos internacionais.

Esse trem já passou.

O Calendário Pirelli, que já foi ilustrado por um time sexy de brasileiras como Sonia Braga, Alessandra Ambrósio, Isabelli Fontana, Adriana Lima, Gisele Bundchen e Carol Trentini, deixa de mostrar mulheres "como objetos". A edição 2019 é comportada.

O fotógrafo Albert Watson, autor dos novos ensaios, convocou modelos para interpretar personagens que contracenam com homens, vivem situações "críticas" na vida e demonstram "superação". Um dos temas é a angústia de um mulher que vive enclausurada; outro, uma dançarina frustrada após a aposentadoria; ou uma que sonha em ser pintora; e, ainda, aquela que é fotógrafa especializada em botânica, mas que gostaria mesmo era de fazer retratos. Vivem perturbações diferentes, mas têm uma coisa em comum: são divas em clima retrô, quase vitoriano, acentuado pelo excesso de roupas.

Afinado com os novos tempos, pode ser pendurado, sem problemas, na parede do gabinete do papa Francisco, no Vaticano.

O Santo Ofício não vai reclamar.   

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Memória da redação: o dia em que a revista EleEla acorrentou três mulheres...



Nos primórdios da revista EleEla, a censura da ditadura não permitia nudez explícita. Os fotógrafos se viravam para mostrar sem mostrar. Quando a tesoura oficial foi acometida de um mínimo de liberalidade, passou a permitir a exibição de um seio de cada vez. E as páginas da revista lembravam relevos gregos que retratavam guerreiras amazonas. Estas, segundo a mitologia, amputavam um seio para não prejudicar o manejo do arco e flecha.

O anúncio reproduzido acima fez parte de uma das campanhas promocionais da EleEla. A censura da ditadura nem se incomodou com a cena.

Hoje, curiosamente, seria impensável utilizar esse tipo de mensagem para conquistar leitores. Primeiro porque a mensagem machista  - "Uma receita que está fazendo sucesso no mundo inteiro. Prenda, no mínimo, três mulheres, para ter mais ou menos a certeza de que não acabará sozinho" - é claramente ofensiva e remeteria, hoje, a uma realidade de violência contra a mulher. Segundo, as redes sociais, um oráculo que nem sonhava existir na época, iam cair de pau na revista.

Talvez fossem tempos incorretos, inocentes mas nem tanto, culturalmente machistas, sei lá.

Vale lembrar que nos anos 60/70, Carlos Imperial não chamava mulheres de gatas, mas de lebres. E conjugava o apelido com o verbo abater. E nem por isso deu-se mal, ao contrário. O livro “Dez, nota dez! Eu sou Carlos Imperial”, de Denilson Monteiro, conta que ele chegou a morar com dez "lebres" em um apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana.  Não se sabe se conseguia "abater" tantas leporídeas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

No Brasil, o humor não é mais "Charlie".

Na Pif Paf, de Millor: a Liberdade acorrentada e com o Mein Kampf, de Hitler, na mão. 
por Omelete
O massacre na redação do jornal satírico Charlie Hebdo levantou a questão do humor livre. Muitos cartunistas e humoristas brasileiros - como, de resto, a maioria das pessoas -, se solidarizaram com os franceses vítimas do terrorismo movido pelo sectarismo religioso. No Brasil, o jornalismo de sátira, a crônica, assim como o cartunismo, já foram mais desafiadores. Nomes como Millor Fernandes, Fortuna, Claudius, Jaguar, Henfil, Ivan Lessa, Ziraldo, Sérgio Augusto, Stanislaw Ponte Preta, entre muitos, fustigaram os poderosos de plantão. E não apenas os governos da ditadura, mas empresários, grandes grupos de comunicação, banqueiros etc. Alguns jornalistas e cartunistas foram, por isso, presos, perseguidos ou perderam espaço nos grandes veículos.
Angelo Agostini detonando a corrupção no Império
Muito antes, em 1876, Angelo Agostini, na Revista Illustrada, tirava um sarro do Império. Ao longo da história, jornalistas independentes sem espaço empreenderam seus próprios veículos. A maioria, como a revista Pif Paf, durou pouco. Outros, como o Pasquim, resistiram enquanto puderam. Um dos pontos levantados nas muitas conversas ou comentários na rede sobre o caso Charlie Hebdo foi fenômeno do  "politicamente correto". Humoristas das novas gerações se queixam de que é impossível fazer humor em função da reação, quase censura, dos grupos atingidos. Não é bem por aí. Ou melhor, não é apenas por aí. Não por acaso, os cartunistas e humoristas que hoje têm espaço na TV ou na mídia impressa fazem o que se pode chamar de "humor a favor".
O Pasquim atirando contra alvos poderosos
Atuam com extrema cautela, sem ousar desafiar a linha editorial e política dos grandes veículos que os abrigam. Daí, exercem confortavelmente o "politicamente incorreto" apenas em cima de minorias que vão oferecer menos riscos aos seus contracheques (aqui, uma observação: humoristas dos grandes veículos, hoje, são contratados ou são "pessoa jurídica". Há expressão que combine menos com o humor livre do que "pessoa jurídica"? Talvez muitos dos citados acima, que recebiam por "vale" ou por cartum, se sentissem, de saída, menos comprometidos). O fato é que a nova geração não faz piadas com poderosas igrejas donas de veículos, famílias e agregados proprietários de grandes grupos de comunicação, grandes marcas, políticos, partidos, ou administrações apoiados pela "casa", artistas dos respectivos casts dos seus patrões etc. Não faz piada nem com corrupção se o corrupto focalizado frequentar a área vip do patrão. E isso vale para cartuns, talk shows, jornalísticos de humor, realities, crônicas etc. É longa a lista de restrições que essa galera entuba sem reclamar. E olha que perdem, assim, fonte inesgotável de piadas. Para terem suas críticas levadas a sério, quando apontam um certo "cerceamento" do humor no Brasil e culpam o "politicamente correto", deveriam adotar, antes, a "sátira giratória", sem poupar minorias, maiorias, nem fracos, nem poderosos. Do contrário, é moleza faturar em cima de quem não pode reagir. Deixa de ser humor e passa a ser apenas bullying profissional.
Daí que as boas novidades no humor estão vindo das redes sociais. Caso do Porta dos Fundos e de muitos outros ainda na "clandestinidade". A turma que é uma exceção no dito acima tem caricaturado no You Tube instituições ou criticado comportamentos sem olhar o peso da influência dos alvos. O Porta do Fundos agora está no canal por assinatura Fox (por enquanto, reprisando quadros antigos). Dizem que assinou com a Fox porque lhes prometeram liberdade. Que assim seja e que tenha sua essência preservada, já que o Porta dos Fundos é a melhor novidade em matéria de humor surgida no Brasil há décadas.
Resumindo: o "Sou Charlie" foi uma unanimidade entre muitos humoristas brasileiros ouvidos pela mídia. Mas, infelizmente, não há "Charlie" entre eles. Ou foi domado ou faz humor convenientemente seletivo, do tipo que faz o patrão rir e dizer "tirou daqui", levando o indicador ao lábio inferior como, aliás, fazia um personagem antigo, o "Múcio", de Jô Soares. A esperança é que a sátira autêntica, ambulante, aquela que não poupa alvos, renasça, cresça e tenha vida longa na grande mídia alternativa de hoje: a internet.
Porque o humor de 'carteira assinada' perdeu a graça.

domingo, 11 de setembro de 2011

Pela remissão dos (novos) pecados

por Lenira Alcure
Família católica, custei muito a me libertar da culpa pelos chamados pecados mortais, acrescidos ou misturados aos 7 capitais, enfim todos aqueles que (dizem) levam ao inferno. Hoje, peno por causa de outras faltas condenáveis, das quais nem os padres conseguem me absolver. São os pecados ‘politicamente incorretos’. Abro o jornal e fico sabendo que ‘em julho, o gasto de turistas brasileiros no exterior superou o recorde dos últimos 42 anos!’ Eu que andei viajando três semanas fora do País, me senti culpada por esse rombo de 2 bilhões de reais, da riqueza nacional. Não viajei às custas da Viúva, mas tenho esses problemas de consciência! Outro drama freqüente em minha vida: as malditas sacolinhas plásticas que, segundo os cientistas, levam 500 anos para se degradar, condenando todas as espécies a uma morte anunciada! Por conta disso, muitas vezes digo ‘não, obrigada’ e vou juntando remédio, frutas, o queijo que acabei de comprar, a roupa que veio do conserto numa bolsa mafuá, onde tudo pode acontecer. Mesmo sem filhos, estou sinceramente preocupada com as próximas quinze gerações entupidas de plásticos e outras inconvenientes conveniências da vida moderna.
Cocô de cachorro in natura na rua? Nem pensar. Abolida a fase do saco plástico, passei ao jornal. Onde jogar? Nas lixeiras e contaminar
tudo, inclusive o lixeiro de luva rasgada ou o catador de lata em busca de 10 centavos? Para escapar ao fogo interno, optei por uma sacola pequena de papelão (dessas que as lojas chiques nos obsequiam) onde levo um rolo de papel higiênico. Tiro um pedaço, sob olhar espantado de quem passa, recolho os dejetos num embrulhinho para despejar em casa, no mesmo local aonde vão todos os cocôs familiares. Só então, a consciência apaziguada, posso dormir tranqüila. Nem tanto, se pensar nas palavras que devo evitar, em Monteiro Lobato cujos livros agora exigem uma leitura contextual para as crianças, nas marchinhas de carnaval que não posso mais cantar, no xenofobismo, no homofobismo, no racismo, no liberalismo, enfim tudo que me ensinam agora a odiar, com a mesma intolerância que no passado condenavam os seus contrários. Agora, chega! Nada como os antigos pecados de volta! Uma confissãozinha, duas ave-marias, um padre- nosso e a consciência limpa, pronta a pecar de novo, que afinal é o nosso humano destino.