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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Martins, barman do Novo Mundo, comemora 80 anos, 60 de balcão. Entre 1968 e 2000, ele testemunhou casos e acasos da Manchete, que morava ao lado...

Martins, o lendário barman do Novo Mundo, comemora 80 anos de vida e 60 como anfitrião de um bar
que faz parte da história do Rio de Janeiro e foi referência boêmia para gerações de jornalistas.
Foto de Marcelo Horn em 06/12/2018.

O bar do Hotel Novo Mundo já foi frequentado pelos presidentes que residiram no vizinho Palácio do Catete, por políticos, artistas, craques do futebol e jornalistas.

O hotel foi construído nos anos 1940 para receber os visitantes da Copa do Mundo de 1950 e, a pedido do então presidente Dutra, para dar maior comodidade aos brasileiros de outros estados e estrangeiros que tinham audiências na Presidência da República.

O bar do Novo Mundo, que já foi uma boate, recebia famosos, mas sempre teve a sua própria celebridade: Antonio Martins, o popular Martins. Nada menos do que o "presidente" daquela "república" carioca.

Martins comemora seus 80 anos, 60 de Novo Mundo, onde entrou aos vinte anos, quase às vésperas da transferência da capital para Brasília.

Em fins de 1968, há 50 anos, a Bloch inaugurava a luxuosa sede da Manchete, a poucos metros do Novo Mundo e do seu histórico bar.

Na época, o bar, no andar térreo, mantinha um estilo inglês, balcão de madeira e mármore, detalhes em couro verde. Havia dois ambientes. Um deles tinha jeito de restaurante comum. No outro, com a luz rarefeita ainda remanescente da antiga boate, as mesas eram mais baixas, as poltronas estofadas como de sala de visitas, o clima bem mais intimista.

Foi como juntar a sede com a vontade de beber. Logo o bar tornou-se um point para os jornalistas da Manchete.

Martins é a própria memória desse tempo que ele antecedeu e ultrapassa. Entre 1968 e 2000, ano da falência da Editora Bloch, o barman mais antigo do Rio foi testemunha das comemorações, das crises, dos romances, dos casos, das fofocas, dos encontros e desencontros das várias gerações e até das inúmeras conspirações em torno dos pequenos poderes das redações.

Além dos frequentadores do bar, o hotel hospedava os jornalistas das sucursais que vinham ao Rio para fechamento das suas matérias. Nos anos 1980, com a inauguração da Rede Manchete, tornou-se o hotel de apoio para artistas e diretores. A frequência do bar, naturalmente, triplicou.

Mas não esperem que esse mero texto revele o mundo que o bar do Novo Mundo deixava na penumbra.

Sob o mandato do Martins, sempre perene e renovado, a discreta "constituição" do Novo Mundo segue a lei maior de Las Vegas.

O que acontece no Novo Mundo fica no Novo Mundo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Martins: a "caixa preta"dos Blochbusters ou Blues etílicos no Novo Mundo


Ana Lúcia, Martins e Muggiati, no Novo Mundo, no dia da
Happy Hour que o bar do hotel oferece às terças, quintas
 e sábados. Foto de Raquel Feferbaum
por Ana Lúcia Bizinover 
Dia de Santo Antônio, 13 de junho de 1935. Festa na cidade de Barcelos (norte de Portugal) e em especial para a família Martins Loureiro, com a chegada do bebê António. Que outro nome poderia ter? Antônio Martins Loureiro está há 57 anos no Rio de Janeiro.  Há 57 anos trabalha no Hotel Novo Mundo, na Praia do Flamengo.  Nasceu destinado a ser o MARTINS, querido, guardião da moral e dos maus costumes de redações inteiras de Bloch Editores. Martins, como se imagina, é um livro discreto, fechado, mas com boas brechas, das muitas sapequices dos jornalistas da Manchete & Cia. Em junho, Martins completa 80 anos, em plena e elegante forma, agora não mais como o nosso garçom favorito do bar do Novo Mundo, mas como maître executivo do hotel. E adianta: em breve será inaugurado um bistrô com vista deslumbrante no 12º andar.
Martins conversou com a reportagem do Panis cum Ovum nos intervalos dos sets do show do trio do pianista Osmar Milito (Pascoal Meirelles à bateria, Sérgio Barrozo, ao contrabaixo e a crooner Leila Maria), atração da Happy Hour que o bar Grand Prix de um Hotel Novo Mundo renovado e chique, oferece às terças, quintas e sábados. Outros grandes instrumentistas fazem fila para dar canja com o trio. Categórico, Martins afirmou: “Eu vi a Manchete nascer, crescer, viver e morrer”. Muito antes da sede do Russell ser inaugurada, ele acompanhou, com amigos que moravam nas cercanias da Rua Frei Caneca, a expansão da editora. Muito, mas muito antes mesmo que o Lairton ligasse para o Martins lá no bar, aflito, porque “tio” Adolpho estava furioso dando por falta de um ou outro funcionário na redação.  Enquanto falava com Lalá, Martins apontava para o dito cujo que o patrão convocava dizendo: “Ai, cá ele não está, vamos a ver se está no banheiro”, para dar tempo do sumido voar direto pro oitavo andar. Em questão de um ou dois minutos o faltante surgia perante o “titio” com a cara mais santa e . . . o santo bafo de uísque. A maioria das vezes, Adolpho clamava pelo Irineu Guimarães, Narceu de Almeida, Cesarion Praxedes, Alberto de Carvalho, Ney Bianchi, Ivanildo Sampaio (hoje diretor de redação do Jornal do Commercio, do Recife), Orlandinho Abrunhosa, Hélinho Santos – aquele que andava de costas e tinha como bicho de estimação um dromedário imaginário. A turma de “residentes” do bar foi crescendo com a adesão do Luis Carlos Cabral, Pindé, Alberto Rajão e muitos mais.  Chico Augusto e Expedito Grossi, “sempre elegantes no trajar”, como observou Martins, davam sua “passadinha” diária por lá. A ala feminina era bem representada por Ana Maria Abreu, Martha Alencar, Regina d’Almeida. Eu mesma cheguei a descontar um cheque com Martins. Certa vez, conta Martins, Ubirajara (não lembra o sobrenome), muito bêbado, adormeceu com o cigarro acesso e queimou feio o colchão de casa. Para que ele não apanhasse da patroa, o bom Martins surrupiou um colchão do hotel, que o Bira saiu arrastando.  Numa das greves de jornalistas, a turma levou um mimeógrafo (alguém se lembra desse treco?) para o bar “do Martins”. E tasca a imprimir panfletos. Entraram uns bacanas anti-grevistas e disseram: “Ué aqui é a administração da Bloch?” “Não senhores, aqui é a redação da revista Manchete”, retrucou calmamente nosso Alberto. Amores? Paixões? Namoricos? Martins assistiu de camarote a muitas relações, feitas e desfeitas às vezes num apagar de velas. Discreto, prefere não nomear os pares (ou, excepcionalmente, os triângulos), mas garante que viu coisas de deixar os cabelos em pé. Presidentes e políticos. A maioria, em algum momento, hospedava-se no Novo Mundo. “Servi desde os presidentes Jânio Quadros, Tancredo Neves e Luiz Inácio Lula da Silva, aos governadores Adhemar de Barros Carvalho Pinto, Leonel Brizola, ao ministro Hélio Beltrão (desse eu gostava muito). E revela algo conhecido de poucos: “Eu fazia uns bicos lá na Manchete, chamado pelo maître Severino Ananias Dias, que acho que foi a pessoa em que mais o Senhor Adolpho confiou. E, é claro, fiquei amigo também do ex-presidente Juscelino Kubitschek. “Antonio Martins Loureiro, viúvo desde 1994, duas filhas e uma neta, mora em Alcântara (São Gonçalo, Niterói). Vai e volta de ônibus todos os dias. Tem família na Alemanha e na França. Martins ficou 48 anos sem ir à terrinha. Visitou Lisboa em 2005 e 2011. Planos? “Viajar à Portugal para, no dia oito de outubro, comemorar os cem anos da minha mãe, D. Isaura. Ela é carioca, sabia?”

PS:
Minha história preferida do Admirável Novo Mundo da Manchete (por Roberto Muggiati)
Nos bons tempos – idos dos anos 70 – os repórteres das sucursais vinham fechar suas matérias na redação do Russell e se hospedavam no Hotel Novo Mundo, quase ao lado da MANCHETE. Um destes, um jovem repórter de São Paulo – dou a dica: era enteado de um famoso dublê de biólogo e sambista – foi almoçar num restaurante do Catete com o colega carioca, Luiz Carlos Sarmento, pinguço juramentado, e apagou de tanto beber. Na ocasião a rua do Catete, com a construção do Metrô, se transformara numa vala enlameada a céu aberto. Sarmento, apesar de meio alterado, não vacilou. Acostou um operário do metrô, confabulou com ele e alugou um carrinho-de-mão, incorporando o peão como piloto. Botaram o repórter paulistano na caçamba e o desovaram na portaria do Novo Mundo. Imaginem a cena, um peão e um carrinho de mão enlameados adentrando o sacrossanto espaço de mármores e cristais do hotel. Sarmento ainda gritou ao pessoal atônito da recepção: "Paga o nosso amigo aí e bota os dez paus do carreto na conta do 703!"