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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ecos do tempo...

por Alberto Carvalho
Foram os 34 anos trabalhando em Bloch Editores, onde tive o privilégio e o prazer de conviver diariamente com grandes escritores e jornalistas desse país: Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Ruy Castro  e muitos outros. Eram pessoas que, além da competência, passavam humor e brincadeiras, das quais eu lembro até hoje. 
Eco 1
Cony, por exemplo, aprontou uma que foi genial! "Numa segunda-feira, pela manhã, entrou na redação da Manchete pedindo o jornal para conferir um jogo da loteca. Antes de chegar na redação, havia passado na casa lotérica onde fizera um jogo com os mesmos números sorteados da semana anterior. Simulando conferir o bilhete, aos gritos, bradou que havia sido premiado. Todos correram para conferir o bilhete. Os números batiam, é claro. Mas ninguém teve a ideia de atentar para a data da aposta. O prêmio estava acumulado em 20 milhões de reais e havia um só ganhador. A notícia se espalhou pela empresa e os telefonemas não paravam! ...E o Cony na dele. Quando a farsa foi descoberta, a galera caiu na gargalhada e outros ficaram p... da vida, inclusive o "seu" Adolpho Bloch que já estava a fim de descolar  um empréstimo.
Cony foi o responsável pelo título do nosso blog, este Panis Cum Ovum. A cada fechamento das edições das revistas Manchete e Fatos e Fotos, que se prolongavam pela madrugada, o pedido ao restaurante, para que a rapaziada fizessem um boquinha, era o tradicional pão com ovo. Cony ligava e pedia pra caprichar na manteiga, dizendo que era uma exigência do Geraldo Matheus. O popular sanduba vinha carregado na manteiga, que escorria pela boca, inevitavelmente caindo sobre a mesa e as laudas. Os computadores não haviam chegados às redações. O pão com ovo ficou fazendo parte dos fechamentos de todas as revistas da Bloch. Mas com manteiga, só Manchete e Fatos e Fotos.
Eco 2
A união do Muggiati com a nossa querida colega Lena começou com uma brincadeira da minha parte. Lena era secretária do Arnaldo Niskier, diretor de Jornalismo. Muggiati e Lena, até então,  só se falavam sobre trabalho. Não tinham a menor intimidade um com o outro. Certo dia, eu disse para a Lena que o Muggiati não tirava os olhos dela. E disse o mesmo para o Muggiati. A partir daí os dois passaram a olhar um para outro com bastante frequência. Não demorou muito e o amor começou a tomar forma. Conclusão: casaram-se e tiveram dois filhos lindos - Roberto e Natasha. Natasha adorava futebol e era vidrada no Corinthians. Até hoje ninguém conseguiu entender o porque da paixão da Natasha pelo Corinthians, uma vez que ela sempre morou no Rio. Muggiati, para satisfazer os desejos da menina, comprou bola, camisa do Corinthians, calção, meias, chuteiras e todo o final de semana, ambos uniformizados, se dirigiam ao Aterro do Flamengo para baterem uma bola. Muggiati ficava no gol e a Natasha ia batendo pênaltis. Muggiati dizia que quando jovem jogava de goleiro nos filhotes, (juvenis) do Coritiba. Será?

Eco 3
Ruy Castro até hoje, quando me vê, exclama: "Lá vem o último dos cariocas!" O seu bom humor se reflete sempre nos papos que mantêm com os amigos. Flamenguista doente, piadista e  contador de histórias hilariantes, Ruy Castro vivia pregando peças  nos colegas de trabalho. Alegria e o humor eram a tônica da nossa convivência.

Eco 4
Outro gozador era o João Luiz de Albuquerque. Ele foi nosso correspondente em Nova York e depois chefe de Reportagem da Manchete, no Rio. Nunca chegava na hora para o trabalho. Jaquito esbravejava: - "Ele se chafurda nos lençóis!"  João Luiz foi demitido  varias vezes pelo Jaquito e  Adolpho Bloch o readmitia.  Ele tinha um bugre conversível, vermelho, sujo,, caindo aos pedaços.  De vez em quando o seu Adolpho, quando saia da empresa, dispensava a Mercedes Benz, e pegava uma carona no bugre do João. Contando, ninguém acredita! Os dois se davam muito bem.


Eco 5
Se ninguém conhecesse o Narceu de Almeida, acharia que ele era mudo. Raramente abria a boca para falar alguma coisa. Ele tinha um Fusquinha que estacionava todos os dias em frente ao Hotel Novo Mundo, quando vinha para a empresa. Na saída, passava no bar do hotel, tomava vários gorós e saia cambaleando para pegar o fusca e voltar para casa. O guarda de trânsito, que ficava na porta do hotel e  que já era nosso conhecido, impedia sempre que o Narceu dirigisse o carro naquele estado. Narceu prometia que no dia seguinte não iria beber e levar o carro para casa. No dia seguinte, a mesma coisa: Narceu bebia e o guarda não deixava ele levar o carro. Isso se repetiu durante um mês. E o Fusquinha, ali estacionado, parecia móvel e utensílio do hotel. Até que um dia um colega resolveu levar o Fusca com o Narceu, ainda de pileque, no banco do carona.