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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Tim Lopes: um documentário celebra a vida e a trajetória de um saudoso profissional que, no começo dos anos 70, entrou na Manchete como contínuo e de lá saiu como repórter

Tim Lopes: o repórter em ação. Foto: Divulgaçaõ

por Alberto Carvalho (*)
Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento entrou na redação da Manchete para ser apresentado como o novo contínuo da empresa. Cabelo estilo black power, ligeiramente fora do peso, depois de cumprimentar um a um todos os redatores da revista, quando chegou a minha vez,  exclamei: - "Gente, é o filho do Tim Maia!!!". O pessoal riu e à partir daí ele ficou conhecido como o Tim. Tim era um menino educado, prestativo e muito inteligente. Certo dia, quando ele chegou para distribuir a correspondência, ficou parado, no canto da redação, olhando o movimento frenético do fechamento do número da revista. Ficou ali bastante tempo. Com receio de vê-lo ali sem fazer nada, me aproximei dizendo para ele sair, pois poderia ser chamado à atenção.  Ele me olhou e disse: - "Um dia ainda vou ser um grande jornalista..."
Tim se formou, adotou o apelido, acrescentando o Lopes para assinar as matérias nos jornais e na televisão, onde trabalhou com grande empenho.
Tim adorava o carnaval. Vivia pedindo convites para os bailes que a Manchete fazia cobertura. Numa ocasião, o fotógrafo Gil Pinheiro, que era diretor do Iate Clube de Paquetá, me convidou para ir ao tradicional Baile do Havaí que o clube promovia aos sábados que antecedia ao carnaval.  Tim estava perto e perguntou se poderia ir. Gil disse que não, alegando que ele era menor de idade. Quando eu estava nas barcas aguardando o embarque na lanche que me levaria à ilha, eis que aparece o Tim, fantasiado com uma túnica, super colorida, lembrando um orixá de cultos do candomblé! Eu disse que era arriscado ele ir pois se fosse barrado  a primeira lancha ao regressar só sairia as 7 horas da manhã do dia seguinte.  Ele respondeu "deixa comigo", pois entraria de uma forma ou de outra. Eu paguei pra ver e fomos juntos para o baile.  Na lancha ele me confidenciou que já estava acostumado a penetrar em bailes e que, inclusive, estava careca  de frequentar os bailes do Canecão, sem convites.
Chegamos na portaria do clube. Eu entrei. Ele, claro, foi barrado.  Lá dentro, procurei o Gil a fim de interceder à favor do Tim. Gil argumentou que o clube era muito exigente nesse aspecto e que não poderia fazer nada. Fiquei preocupado pensando no Tim, perambulando pela Ilha de Paquetá, fantasiado de orixá. 
Lá, pelas duas horas da madrugada, o baile estava fervendo e quem eu vejo no meio do salão? O nosso Tim, abraçado a uma havaiana dançando o hula hula, na maior animação!. Um detalhe: o traje obrigatório era o havaiano ou à rigor. Até hoje é um mistério como o Tim conseguiu penetrar num clube social com tamanho rigor que era o Iate Clube da Ilha de Paquetá.
Tim Lopes, que Deus o tenha! Saudades! (Alberto Carvalho)Gil Pinheiro, que era diretor do Iate Clube de Paquetá, me convidou para ir ao tradicional Baile do Havaí que o via aos 
UM DOCUMENTÁRIO CONTA A VIDA DE JORNALISTA TIM LOPES ASSASSINADO POR TRAFICANTES EM 2002. TIM COMEÇOU SUA CARREIRA DE JORNALISTA NAS REVISTAS MANCHETE E FATOS & FOTOS
Tim Lopes. Foto: Reprodução
"Histórias de Arcanjo - um documentário sobre Tim Lopes" reúne momentos marcantes da trajetória de um grande jornalista investigativo. Um profissional que farejava a notícia e sabia extrair do cotidiano histórias marcantes. Tim foi morto por traficantes da Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, em 2002, quando apurava, com uma câmera escondida, uma matéria sobre consumo de drogas e exploração de menores em um baile funk promovido por bandidos. Do jovem que entrou na Bloch como contínuo (na época, atendia às revistas Manchete e o semanário Domingo Ilustrado, este, dirigido por Samuel Wainer, foi uma tentativa fracassada de emplacar um tabloide de atualidades, em cores) ao trágico fim como repórter da TV Globo, Tim construiu uma brilhante carreira. Na Manchete, de tanto circular pelas redações, passou a acompanhar equipes de jornalismo. Incentivado pelos editores que admiravam sua sagacidade logo tornou-se repórter. Anos depois, já trabalhando em outros veículos, formou-se em jornalismo pela faculdade Hélio Alonso
O documentário junta imagens da carreira dele e depoimentos de colegas e amigos. O autor é  Bruno Quintella, filho do jornalista e roteirista. A direção é de Guilherme Azevedo, cinegrafista que trabalhou com Tim Lopes. 

* N.R - Alberto Carvalho foi Secretário de Redação da Revista Manchete durante 34 anos e testemunhou os primeiros passos da carreira de Tim Lopes

VEJA O TRAILER DO DOCUMENTÁRIO SOBRE TIM LOPES. CLIQUE AQUI
Uma das cenas do documentário mostra Tim Lopes vivendo a experiência de vendedor de balas na rua para uma matéria da TV Globo. Foto: Reprodução