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sexta-feira, 30 de julho de 2021

Incêndio da Cinemateca Brasileira: as chamas do ódio à Cultura.

 

Foto Instagram

Manifesto dos trabalhadores da Cinemateca Brasileira sobre o incêndio na unidade da Vila Leopoldina

"O incêndio que acometeu o edifício da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina na noite de 29 de julho de 2021 foi um crime anunciado, que culminou na perda irreparável de inúmeras obras e documentos da história do cinema brasileiro. Essas instalações são parte fundamental e complementar em relação ao espaço da Vila Clementino, onde se encontra armazenada a maior parte do acervo da Cinemateca Brasileira. Recentemente, em fevereiro de 2020, uma enchente já havia afetado grande parte do acervo documental e audiovisual lá depositado.

Há mais de um ano denunciamos publicamente a possibilidade de incêndio nas dependências da Cinemateca pela ausência de quaisquer trabalhadores de documentação, preservação e difusão. Houve o alerta sobre a chance de o sinistro ocorrer nos acervos de nitrato da Vila Clementino, pois trata-se de material inflamável que pode entrar em autocombustão sem revisão periódica. Não foi o caso deste, o quinto incêndio na instituição. No entanto, as causas são as mesmas. Seguramente, muitas perdas poderiam ter sido evitadas se os trabalhadores estivessem contratados e participando do dia a dia da instituição.

No próximo dia 8 de agosto completará um ano do abandono da Cinemateca Brasileira pelo Governo Federal e a demissão de todo seu corpo técnico, que sequer recebeu os salários não pagos e as rescisões pela anterior gestora,

Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto – Acerp. Ainda assim foi noticiada a contratação de equipes de manutenção, bombeiros e limpeza. Apesar de serem fundamentais para o funcionamento do arquivo de filmes, não são suficientes para suas demandas específicas, como evidenciado neste dia fatídico.

A situação se torna mais crítica se pensarmos que essa ausência de equipe técnica especializada por um ano possivelmente teve consequências irreversíveis para o estado de conservação dos materiais. Certos danos são silenciosos, porém tão trágicos quanto um incêndio, e igualmente irrecuperáveis. Trata-se do tempo de vida dos diversos materiais, diminuindo drasticamente, e da perigosa deterioração dos filmes de nitrato e de acetato. Apenas com o retorno da equipe especializada será possível avaliar as extensões das perdas e danos para que então as atividades de conservação sejam retomadas.

O acervo que estava armazenado na Vila Leopoldina, apesar de em menor número, possuía igual relevância e importância ao da Vila Clementino. Abaixo listamos alguns dos materiais possivelmente perdidos ou afetados no incêndio de 29 de julho de 2021:

Do acervo documental: grande parte dos arquivos de órgãos extintos do audiovisual como parte do Arquivo Embrafilme – Empresa Brasileira de Filmes S.A. (1969 – 1990), parte do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema – INC (1966 – 1975) e Concine – Conselho Nacional de Cinema (1976 – 1990), além de documentos de arquivo ainda em processo de incorporação. Para evitar que novas enchentes atingissem o acervo, parte desses materiais foi transferida do térreo para os depósitos climatizados no primeiro andar, principal área atingida pelo incêndio. Tal medida ocorreu após uma grave enchente em fevereiro de 2020. Parte do acervo de documentos oriundos do arquivo Tempo Glauber, do Rio de Janeiro, inclusive duplicatas da biblioteca de Glauber Rocha e documentos da própria instituição.

Do acervo audiovisual: parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, de cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm. Matrizes e cópias de cinejornais únicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, filmes domésticos, além de elementos complementares de matrizes de longas-metragens, todos estes potencialmente únicos. Essa parcela do acervo já havia sido parcialmente afetada pela enchente recente. Parte do acervo da ECA/USP – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo da produção discente em 16mm e 35mm. Parte do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade.

Do acervo de equipamentos e mobiliário de cinema, fotografia e processamento laboratorial: além do seu valor museológico, muitos desses objetos eram fundamentais para consertos de equipamentos em uso corrente, pois, para exibir ou mesmo duplicar materiais em película ou vídeo, é necessário maquinário já obsoleto e sem reposição no mercado.

O incêndio da noite de ontem é mais um motivo pelo qual não podemos esperar para dar um basta à política de terra arrasada e de apagamento da memória nacional! Estamos em luto, pela perda de mais de meio milhão de brasileiros, e agora pela perda de parte da nossa história. Incêndio na Cinemateca Brasileira em 2016, no Museu Nacional em 2018 e, novamente, na Cinemateca em 2021. Além de todas as mortes evitáveis, nossa história vem sendo continuamente extirpada – como um projeto. Infelizmente, perdemos mais uma parte do patrimônio histórico-cultural brasileiro.

A Cinemateca Brasileira não pode ficar à mercê de novas intempéries. A gestão da instituição por meio de terceirização via Organização Social, da forma como foi realizada, mostrou como pode ser frágil essa relação, e que tal modelo não

dá conta da complexidade de um órgão cultural desse porte. O edital prometido pelo Governo Federal, sem debate, ferramentas de transparência, a participação da população, de pessoas da área de patrimônio cultural e, principalmente, do coletivo dos ex-trabalhadores da instituição, não será a solução. Alerta-se ainda que o orçamento anunciado é significativamente inferior ao necessário. É preciso estabilidade e garantia de equipe técnica a longo prazo, oferecendo à instituição um orçamento compatível com os necessários serviços de preservação e difusão do audiovisual brasileiro."

Sem trabalhadores não se preservam acervos!

Trabalhadores da Cinemateca Brasileira

São Paulo, 30 de julho de 2021.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Hidroaviões do G7 começam a apagar queimadas na Amazônia. Menos no Brasil. Bolsonaro ainda não autorizou voos

Hidroaviões financiados pelo G7 já estão em ação contra queimadas decolando do Paraguai. Outras aeronaves partirão nos próximos dias em operação coordenada pelo Chile.
O Brasil, por enquanto, está fora da rota dos hidroaviões.
Bolsonaro ainda não autorizou voos bancados pela ajuda do G7 sobre a Amazônia brasileira, precisamente a maior parte e a mais atingida pela devastação das queimadas. A notícia está no site da Rádio França Internacional.

CNN/Reprodução
Ontem, a CNN, em reportagem especial, mostrou que  brigadas de incêndio brasileiras trabalham sem equipamentos adequados. Em uma das cenas, homens tentam conter as chamas batendo com vassouras na periferia da mata.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Sacco e Vanzetti, 90 anos: um passado não tão distante...



Sacco e Vanzetti - Uma tragédia estadunidense

por Augusto Buonicore (*)

Há noventa anos, em 23 de agosto de 1927, Nicolau Sacco e Bartolomeu Vanzetti foram executados na cadeira elétrica numa prisão estadunidense. Este foi considerado um caso flagrante de erro judicial e causou enorme indignação. Manifestações de protesto ocorreram em todo o mundo. Mesmo sem provas, eles foram condenados à morte.

A principal razão dessa sentença injusta foi o preconceito de classe. Os dois eram imigrantes italianos e anarquistas. Na época, os Estados Unidos viviam em meio a uma violenta onda anticomunista. Milhares de militantes de esquerda estavam sendo presos e dezenas deportados.

Os anos que se seguiram à Primeira Grande Guerra Mundial foram bastante conturbados para o povo estadunidense. Haviam vencido a guerra, mas os soldados que voltavam do front tinham dificuldades em arranjar empregos numa indústria que tentava se reconverter para um tempo de paz. A inflação cresceu e agravou-se o arrocho salarial. Esta situação gerou descontentamentos, protestos e também criminalidade.

Durante o ano de 1919 mais de 4 milhões de trabalhadores entraram em greve e foi fundado o Partido Comunista nos Estados Unidos - na verdade foram criados dois partidos comunistas: um dirigido por Charles Rutenberg e outro por John Reed. Eles se unificariam apenas em maio de 1921.

Naqueles tempos agitados, alguns militantes anarquistas partiram para ações terroristas. Em abril, o prefeito de Seattle afirmou ter recebido uma bomba pelo correio e outra explodiu quando aberta pela empregada de um senador - que havia sido presidente da comissão para emigração. Segundo a polícia, trinta e duas bombas haviam sido endereçadas às autoridades e a grandes empresários estadunidenses. Estranhamente nenhum deles se feriu.

Em maio de 1919 o líder anarquista Luigi Galleani foi expulso dos Estados Unidos. Em resposta, a casa do procurador-geral dos Estados Unidos, Alexander Mitchell Palmer, foi atingida por bombas. No local foram deixados panfletos anarquistas. A opinião das classes médias, insuflada pelos meios de comunicação conservadores e o governo, se voltou contra os imigrantes. Exigiram leis ainda mais severas e a expulsão sumária dos estrangeiros suspeitos de subversão. A partir de então, se desencadeou uma verdadeira caçada policial aos militantes "vermelhos": anarquistas, comunistas e socialistas.

No dia 7 de novembro de 1919 - data do segundo aniversário da Revolução Russa-, as sedes dos dois partidos comunistas, que nada tinham a ver com os atentados, foram invadidas e depredadas. Milhares de pessoas foram presas e processadas. Esse foi o prelúdio de uma perseguição ainda maior. Semanas depois, em janeiro de 1920, foram realizadas batidas policiais em 33 cidades. Foram expedidos mais de seis mil pedidos de prisão e relacionados os nomes de mais de 3 mil estrangeiros para deportação. Em Boston cerca de 500 imigrantes marcharam acorrentados até a casa de correção.

Um fato iria indignar a opinião pública progressista. Em maio, a polícia comunicou que o líder anarquista André Salsedo saltara do 14º andar do prédio do Departamento de Justiça na cidade de Nova Iorque, onde participava de um interrogatório. As autoridades afirmaram que ele havia se suicidado, mas muitos duvidaram da versão oficial.

Vários liberais, que até haviam ficado assustados com os atentados terroristas, não concordaram com a repressão massiva e indiscriminada levada a cabo contra os imigrantes. Dezenas de advogados e jornalistas condenaram as práticas autoritárias e ilegais empregadas. Se a repressão assustou os liberais, pode-se imaginar o efeito terrível causado entre a população de imigrantes pobres e constantemente ameaçada de expulsão.

Tendo perdido parte do apoio dos operários e das classes médias, os democratas foram derrotados na eleição presidencial em 1920. Iniciou-se então uma Era Republicana, que duraria até 1933. O slogan do presidente eleito, Warren Harding, era "Primeiro os Estados Unidos!". Uma onda nacionalista conservadora varreu o país de ponta a ponta.


O Caso Sacco e Vanzetti

As classes médias - insufladas pela grande burguesia - temiam pela sua situação privilegiada. Sentiam-se ameaçadas pela massa de imigrantes provinda da Europa. Eram espanhóis, portugueses, e especialmente italianos. Além de sua fisionomia e língua latinas, traziam estranhas ideias que pareciam colocar em risco a ordem e o modo de vida norte-americano: o anarquismo e o socialismo.

No dia 15 de abril 1920 ocorreu um assalto a uma fábrica de calçados na pequena cidade de South Braintree, estado de Massachusetts. Na ocasião, o agente pagador e um segurança da empresa foram mortos. Tudo indicava que este era mais um crime realizado por uma das muitas quadrilhas que infernizavam a vida de fabricantes e comerciantes da região. A "boa sociedade" impaciente e amedrontada com a escalada de violência exigia uma rápida solução para o caso.

Algumas semanas depois, em 5 de maio, dois homens foram presos próximos de Boston. Para sua desgraça, estavam armados, coisa comum para a maioria dos cidadãos dos Estados Unidos. No entanto, havia três outros fatos que deporiam contra eles: eram operários, estrangeiros e anarquistas. Estereótipo de tudo aquilo que não deveria ser um cidadão estadunidense modelo. Seus nomes eram Nicolau Sacco e Bartolomeu Vanzetti.

Quando os prenderam, os policiais perguntaram se eram socialistas, anarquistas ou sindicalistas. Isso reforçou neles a desconfiança de que se tratava de simples perseguição política. Não imaginaram que pudessem ser envolvidos numa conspiração visando a imputar-lhes um duplo homicídio. Assim, negaram sua militância e procuraram não envolver os demais camaradas. Mas a polícia já tinha suas fichas: os suspeitos eram "perigosos" anarquistas.

Imediatamente se montou um processo-farsa visando a incriminá-los e conduzi-los à cadeira elétrica. Os inimigos da América livre precisavam receber uma lição exemplar. O preconceito de classe e de "raça" conduziu o júri a condenar à morte dois homens sem provas conclusivas.

O Promotor procurou apresentá-los como maus americanos ou mesmo não-americanos, pois haviam se recusado a lutar na Primeira Guerra Mundial e se refugiado no México, como milhares de outras pessoas. Diante de tais acusações, Sacco respondeu: "durante treze anos trabalhando duro, não consegui juntar dinheiro no banco. Não consegui que meu filho fosse para um colégio (...). Eu vi que os melhores homens (...) tinham sido presos e morreram na prisão e ninguém os tirou de lá. Debs, um grande homem em seu país, está preso por ser socialista. Queria que as classes trabalhadoras tivessem melhores condições de vida, mais educação (...), mas puseram-no na prisão. Por quê? Porque a classe capitalista é contra isto; a classe capitalista não quer que nossos filhos tenham educação superior ou que entrem em Harvard (...), n&atild e;o querem que os trabalhadores se eduquem; querem que os trabalhadores fiquem sempre por baixo.".

Sobre suas posições diante da guerra mundial, da qual ele havia se recusado a participar, afirmou: "Nós não queremos lutar com fuzis; não queremos destruir os jovens. A mãe sofre para criar o filho (...), quando chega o dia de obter uma recompensa daquele menino, os Rockefellers, os Morgans e outras pessoas da classe alta os mandam para a guerra (...). Não é uma guerra para a civilização dos homens. São guerras para negócios. Ganham-se milhões de dólares nestas guerras. Que direitos temos de nos matar uns aos outros? Trabalhei com irlandeses, com alemães, com franceses. Amo-os tanto quanto poderia amar minha mulher e o povo que me recebeu (...), por isso não acredito na guerra."

Mais de 107 pessoas testemunharam que os acusados não estavam na cena do crime. Entre elas estava um garoto que vendia peixes com Vanzetti e um funcionário da embaixada italiana, local que Sacco havia visitado no dia do crime. Tudo foi desconsiderado pelo juiz e o júri. As testemunhas de acusação, sob forte pressão de opinião pública conservadora, se contradiziam. Um especialista em balística afirmou que o projétil que matou os dois funcionários poderia ser da arma de Vanzetti (e não que teria sido). Isso pareceu aos linchadores de plantão uma prova mais que definitiva contra os réus.

Sem poderem contar com um processo justo, em 14 de julho de 1921, Sacco e Vanzetti foram condenados à morte na cadeira elétrica. "Não se esqueçam. Estão matando dois homens inocentes", gritou Vanzetti. Sacco, por sua vez, escreveu uma carta para seu filho no qual afirmava: "eles podem crucificar os nossos corpos, como estão fazendo, mas não podem destruir nossas ideias que permanecerão."

O Comitê de Sindicatos de Roma enviou um apelo ao presidente dos Estados Unidos solicitando-lhe que a pena fosse comutada. A Internacional Comunista conclamou a constituição de uma frente operária mundial em defesa de Sacco e Vanzetti. No mês de outubro, o Partido Comunista Francês organizou uma grande manifestação em frente à embaixada norte-americana. Segundo a imprensa comunista, foram necessários 10 mil policiais e 18 mil soldados para deter a multidão indignada. Mobilizações contra as condenações ocorreram na Itália, Suíça, Holanda, Espanha, Portugal, Inglaterra, México, Chile, Argentina, Panamá e Brasil. Até na China e na Índia os trabalhadores protestaram.

Supostos anarquistas, por sua vez, continuavam ameaçando as autoridades com suas bombas. Isso levou o Comitê de Defesa a lançar uma nota que dizia: "Os planos sinistros e as ameaças atribuídas a pessoas presumivelmente ligadas ao movimento Sacco e Vanzetti são de tal maneira nocivos aos esforços envidados para salvar nossos companheiros da cadeira elétrica que só podem ter tido origem entre os nossos inimigos. Ou foram planejadas por pessoas desejosas em desmoralizar a causa dos dois prisioneiros."

Logo após a decretação da sentença de morte, o imigrante português Celestino Madeiros confessou ter participado do assalto em South Braintree e apresentou uma versão bastante razoável do ocorrido. Negou categoricamente o envolvimento de Sacco e Vanzetti no crime. Um policial chegou a afirmar que na época do latrocínio havia sérias suspeitas em relação a uma quadrilha de assaltantes profissionais que atuava na região. Os Morelli, como era chamado o bando, assaltavam carretas de fretes. Uma das áreas onde atuavam, e na qual tinham "olheiros", era justamente South Braintree.]


Outro policial, o agente Fred Weyand, afirmou que "era opinião corrente entre os agentes locais do Departamento de Justiça, que tinham algum conhecimento do caso, que aquele crime havia sido obra de um grupo de assaltantes profissionais." Diante das novas provas, a defesa pediu outro julgamento. Entretanto, o juiz rejeitou o pedido.

O processo foi tão viciado que começou a comover não somente os setores de esquerda, mas também amplos setores sociais, inclusive os liberais. Intercederam por eles Romain Rolland, Thomas Mann, Albert Einstein, Anatole France, Madame Curie e Bernard Shaw. Até mesmo o Vaticano pediu clemência para os dois condenados. Os editoriais dos principais jornais europeus lamentaram a sentença e advogaram um novo julgamento.

Em junho de 1925 foi criado um ramo estadunidense do Socorro Vermelho. Esta entidade, sob direção comunista, produziu inúmeros materiais de propaganda e organizou comícios por todo o país. Vanzetti, agradecido, escreveu a James Cannon, então dirigente do Partido Comunista: "O eco de sua campanha em nosso favor tocou-me muito fundo. Repito e repetirei sempre que somente o povo, nossos camaradas, nossos amigos, o proletariado revolucionário do mundo, é que poderão nos salvar do poder maligno das hienas capitalistas e reacionárias e vingar o nosso nome e o nosso sangue perante a história."

No mês de maio de 1926, a Suprema Corte de Massachusetts indeferiu os pedidos de novo julgamento. Em abril do ano seguinte - depois de sete anos de prisão -, a sentença de morte foi confirmada. Nova onda de protestos se espalhou pelo país e o mundo. Escreveu Vanzetti: "não apenas não cometi um delito em toda a minha vida (...), como combati toda a vida para eliminar os crimes que a lei oficial e a lei moral condenam, como também o delito que a moral oficial admite e santifica: a exploração do homem pelo homem." E concluiu: "estou tão convencido de que estou com a razão e que se vocês tivessem o poder de matar-me duas vezes e eu pudesse nascer duas vezes, voltaria a viver para fazer exatamente o que fiz até agora."

Vanzetti fez um apelo de clemência ao governador de Massachusetts, Tufts Fuller. Enquanto isso, crescia a pressão internacional. O próprio ditador italiano Mussolini escreveu uma carta ao governador: "A agitação dos elementos de esquerda pelo mundo afora aumenta de intensidade, nestes últimos dias, como se pode depreender dos atentados em Buenos Aires contra a fábrica da Ford e a estátua de Washington (...). Espero que S. Excia.possa dar um exemplo à humanidade. Este exemplo demonstrará (...) a diferença entre os métodos bolcheviques e os da grande República norte-americana, ao mesmo tempo em que retirará das mãos dos elementos subversivos um instrumento de agitação."

Num artigo o escritor ficcionista H. G. Wells provocava a justiça estadunidense: "Não posso compreender que pessoas de bom-senso (...) possam ter outra convicção senão a de que Sacco e Vanzetti são tão inocentes dos assassinatos de South Braintree, pelo qual foram condenados à morte, quanto Júlio César ou - para citar um nome mais próximo do assunto - Karl Marx."

Formaram-se piquetes na frente da sede do governo estadual que eram dispersos violentamente pela polícia. Na cidade de Nova Iorque, cerca de 100 mil trabalhadores fizeram uma paralisação de protesto. Para desembaraçar-se do problema, o governador nomeou uma comissão especial de advogados e figuras iminentes, liderada pelo juiz Lowell, para estudar o caso e dar um parecer. Esta comissão, depois de alguns dias, confirmou a justeza da sentença de morte. A Suprema Corte e o presidente dos Estados Unidos recusaram o indulto.

Bombas explodiram nas cidades de Nova Iorque e Filadélfia. Uma grande força policial, como havia muito não se via, foi mobilizada nas principais cidades estadunidenses. O Partido Comunista organizou uma grande manifestação contra as execuções. O adiamento da sentença criou expectativas positivas, mas falsas. O jornal soviético Pravda afirmou: "A poderosa onda de protesto da União Soviética, juntando-se à voz da classe operária do mundo inteiro, forçou a burguesia plutocrata norte-americana a hesitar e transacionar". O jornal do Partido Comunista Alemão, por sua vez, disse: "Os milhões de trabalhadores na frente avançada da batalha contra a injustiça social tiveram uma primeira vitória. Sacco e Vanzetti estão provisoriamente salvos."

Poucos dias depois eles voltaram ao corredor da morte da penitenciária de Charleston. E foram executados na madrugada do dia 22 para 23 de agosto de 1927. O primeiro a ser morto foi Celestino Madeiros, aquele que se dizia um dos verdadeiros culpados pelo crime. Logo em seguida Nicolau Sacco enfrentou-se com os seus carrascos. Ao entrar no recinto da execução exclamou: "Viva a Anarquia!". Enquanto o corpo do seu camarada era retirado, Bartolomeu Vanzetti ingressou na sala da morte. Suas últimas palavras foram: "Sou um homem inocente. Agora desejo perdoar algumas pessoas pelo que fizeram contra mim." Em poucos segundos a tragédia estava consumada. Dois trabalhadores inocentes estavam mortos.

No dia seguinte, o jornal comunista L'humanité exibia em letras garrafais a manchete "Assassinos!". Uma grande indignação tomou conta dos operários franceses, que depredaram lojas e atacaram a polícia. Uma multidão enfurecida avançou em direção à embaixada dos Estados Unidos. No conflito que se seguiu, centenas de pessoas ficaram feridas.

Na Alemanha realizaram-se manifestações e também ocorreram choques com a polícia. Num dos maiores comícios já visto na República de Weimar, o líder comunista Ernest Thalmann comparou a morte de Sacco e Vanzetti ao assassinato de Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht. Em Londres uma multidão concentrou-se à frente do Palácio de Buckingham e cantou o hino socialista Bandeira Vermelha. Os deputados do Partido Trabalhista protestaram. O governo soviético deu a uma rua de Moscou o nome dos dois mártires. Mais tarde virariam nome de fábricas e escolas. Eclodiram conflitos violentos em Portugal e na Espanha. Na Argentina foi decretada greve geral.

Entre os dias 22 e 23 de agosto realizaram-se inúmeras manifestações de protestos no Brasil. Deixemos a palavra com o historiador e sociólogo Clóvis Moura: "Na Lapa houve conflitos sérios entre trabalhadores e policiais (...). No Ipiranga esses conflitos se repetiram: em Frente à Fábrica Nami Jaffet um piquete convidava os colegas a participarem da greve e do comício em solidariedade. A diretoria da empresa, no entanto, chamou a polícia que efetuou várias prisões. Entre os presos estavam três jovens operárias (...). Na estamparia A Liberty, na rua Piratininga, a polícia agiu com violência (...). Às onze horas foram pedidos reforços para as fábricas Matarazzo, na Água Branca, e Crespi, na Mooca." Os trabalhadores se reuniram num grande comício na Praça do Patriarca.

Greves ocorreram também no Rio de Janeiro. A União dos Operários em Fábricas de Tecidos lançou um manifesto no qual afirmava: "É hoje o dia designado pela justiça norte-americana para o assassínio de nossos companheiros Sacco e Vanzetti (...). É necessário que os operários em fábrica de tecidos não trabalhem hoje, dia 23 de agosto de 1927, como um protesto à eletrocussão de Sacco e Vanzetti (...). Que nenhum operário trabalhe hoje em sinal de protesto pelo assassínio de dois inocentes, vítimas do capitalismo." Além dos trabalhadores das indústrias de tecidos, paralisaram-se os das indústrias de mobiliários. Houve greve generalizada e grande comício na cidade de Petrópolis. Manifestações operárias, organizadas por anarquistas e comunistas, se viram em quase todos os estados brasile iros.

Ao velório dos dois mártires compareceram mais de cem mil pessoas, a maioria delas era de operários. O chefe de polícia impediu que os caixões fossem carregados pelo povo e que o cortejo pudesse ser acompanhado por uma banda de música. Também foram proibidos cartazes ou qualquer manifestação política de protesto contra as autoridades. Os participantes deveriam permanecer em silêncio durante o percurso.

O enterro de Sacco e Vanzetti: a Marcha da Tristeza. 

Calcula-se que cerca de duzentas mil pessoas participaram do cortejo, que seria denominado Marcha da Tristeza. Em certos momentos, durante o trajeto, bandos policiais atacaram a massa que trazia braçadeiras vermelhas com a inscrição "Recordem a justiça crucificada". Somente 50 anos depois daqueles assassinatos, o governador de Massachusetts, Michael Dukakis, reconheceu os erros grosseiros cometidos durante o julgamento e indultou os dois operários anarquistas.

Antes de morrer, Nicolau Sacco deixou uma última mensagem ao seu filho Dante: "lembre-se sempre dos dias de alegria e não use tudo apenas para você, desça um degrau e ajude sempre os mais fracos que gritam por ajuda, ajude as vítimas e os perseguidos, porque eles serão os seus melhores amigos." De fato, seriam os mais fracos e as vítimas das perseguições políticas impostas pelo capitalismo que procurariam manter as lembranças daqueles que tombaram pela causa da liberdade e da emancipação humana.

(* )Historiador, mestre em ciência política pela Unicamp

domingo, 9 de julho de 2017

Futebol: facções, e não torcidas, tocam o terror nos estádios

O Vasco vai comemorar em 2018, 120 anos.

O mínimo que o torcedor pode esperar é que o clube festeje a data na primeira divisão do futebol brasileiro.

Em um século de existência, talvez os anos mais difíceis do Vasco sejam esses últimos 20. Embora nesse período tenha sido campeão brasileiro e do Mercosul, em 2000, da Copa do Brasil de 2011 e Carioca de 2015 e 2016, além da Série B de 2009, o clube e o time nunca foram tão instáveis.

O maior adversário do Vasco na luta pela permanência na elite do futebol brasileiro não está no campo, mas nos corredores, nas salas e nas arquibancadas de São Januário. Com o fim da era do presidentes realmente beneméritos como Manuel Joaquim Lopes, João Silva, Agathyrno da Silva Gomes e Antônio Soares Calçada, a política interna do clube tornou-se predatória.

As eleições vascaínas acontecerão em novembro desse ano, mas a campanha já incendeia São Januário. Ontem, o briga de torcidas, que pode custar ao Vasco a interdição do estádio, com enorme prejuízo para a equipe que luta em campo, tem por trás essa disputa eleitoral. Um fato que se evidencia nos últimos conflitos. E é difícil encontrar puros nessa guerra suja. Situação e oposição vão lutar corpo a corpo até jogar o Vasco de volta à Série B.

A consequência será acelerar a corrida do Vasco rumo ao triste destino de outro querido clube carioca, o America?  Possivelmente. Nos últimos anos, sucessivas diretorias e a ação da oposição estão arrastando o Gigante da Colina ladeira abaixo, tal qual aconteceu com o tijucano America.

São vários os problemas que afetam os clubes, hoje. Dos financeiros aos morais e éticos. Sem administradores competentes, que deixem de lado interesses e vaidades pessoais, fica difícil. E, digamos, o mundo corporativo do futebol atual não ajuda.

Quando se fragilizam, os times ficam ainda mais expostos às pressões e interesses do empresários. Muitos jogadores já nem pertencem aos clubes, estão ali na vitrine enquanto aguardam uma "janela" para pular fora, com intermediários e atravessadores pegando carona nos valores.

E há questões ainda mais críticas. Tradicionalmente, entre os grandes clubes, dirigentes, de oposição e situação, não importa, apoiam e são apoiadas por algumas torcidas organizadas. Facilidades como ingressos, passagens etc entram no pacote de bondades. Acontece que, atualmente, o quadro de violência e de criminalidade urbanas se reflete em certas facções (a maioria nem merece mais o nome de torcidas). Grupos oriundos de comunidades dominadas pelo tráfico brigam não pelo futebol mas pela rivalidade entre as quadrilhas organizadas, veem no "inimigo" uniformizado o "alemão" vinculado a um sigla criminosa adversária. Caso ainda fossem controladas, em tese, pelos dirigentes que as apadrinham, até mesmo essa mínima porção "ordem" foi pro brejo. As facções estão desembestadas. O torcedor autêntico, aquele que leva o filho ao estádio, cada vez mais, e com razão, foge das arquibancadas transformadas em arenas de conflitos. Em dia de jogos, até vestir a camisa para ir ao botequim da esquina, mesmo longe dos estádios, é ato de coragem, e se "uz alemão" passarem em um ônibus lotado e descerem pro pau? Já aconteceram vários casos assim, recentes, envolvendo torcedores dos grandes clubes do Rio, de São Paulo, de Coritiba, de Porto Alegre etc. Por  isso, facções de um mesmo clube brigam entre si.

O poder publico geralmente se omite e atua apenas em momentos críticos. Investigar, identificar, prevenir e punir os integrantes das facções que aterrorizam estádios e ruas seria pedir demais?

O conflito de ontem, que começou nas arquibancadas de São Januário entre supostos vascaínos e continuou nas ruas próximas, fez mais uma vítima fatal.

Para encerrar esse post deprê, um pequeno detalhe histórico: ironicamente, as torcidas organizadas surgiram nos anos 1950, sob a inspiração do jornalista Mário Filho, como um instrumento de paz nos estádios. Com instalações maiores construídas, ampliadas ou reformadas para a Copa do Mundo de 1950, como Maracanã, Pacaembu, Durival de Brito, em Curitiba, Ilha do Retiro, em Recife, o Eucaliptos, em Porto Alegre, o Independência, em Belo Horizonte, este, como o Maracanã, erguido especialmente para o Mundial, imaginou-se que torcidas organizadas, com líderes carismáticos, ajudariam a conter os excessos dos demais torcedores, além de ilustrar a festa com charangas e bandeiras. Afinal, estádios como o Maracanã e o Pacaembu, podiam receber, respectivamente, 200 mil e 50 mil espectadores. Eram torcidas únicas, só nos anos 70 começaram a se desmembrar e surgiram as organizadas de bairros, cidades etc.

Dulce Rosalinda, a torcedora-símbolo do Vasco

Jaime de Carvalho, o chefe da Charanga do Flamengo
No Rio, havia uma exigência para um torcedor liderar uma torcida: ter ficha limpa na chefia de polícia do então Distrito Federal.

Dois dos mais famosos foram Jaime de Carvalho, da organizada do Flamengo, e  Dulce Rosalinda, do Vasco.

Pode ser lenda urbana, mas contavam antigos cronistas que foram as organizadas, especialmente as do Vasco e do Flamengo, que evitaram um quebra-quebra no Maracanã e contiveram torcedores revoltados em um certo e trágico domingo, 16 de julho de 1950.

Aquele mesmo, o dia em que o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai.

sábado, 29 de abril de 2017

Site de Hollywood diz que hackers roubaram série inédita da Netflix e pedem resgate para devolver arquivo digital



por Ed Sá

Segundo o Dead Line Hollywood, hackers roubaram a 5ª temporada da série "Orange is the New Black", e pedem resgate para devolvê-la à Netflix.

Segundo o canal de streaming, piratas on line invadiram os sistemas da Larson Studios, que mixava a produção. Caso o resgate não seja pago, os hackers ameaçam divulgar todos os episódios da temporada, que tem estréia marcada para o dia 9 de junho. O conteúdo afanado teria sido transferido para um serviço ilegal de compartilhamento, mas ainda não há comprovação se os arquivos são autênticos. A Netflix confirma apenas que a segurança do sistema do estúdio foi violada.

O Larson Studios trabalha para vários canais e os hackers revelaram que roubaram outras séries.

O FBI está investigando o crime.


sábado, 1 de abril de 2017

1° de abril - Edição falsa do Globo anuncia renúncia de Temer, eleições diretas e o fim da revista Veja






Bom demais para ser verdade? O ilegítimo faz as malas, volta pra casa e o Brasil ganha Diretas-Já para, mais uma vez, virar a página de um golpe. Deputados passam a receber salário mínimo. Foi o que anunciou, entre outras matérias, uma edição falsa do Globo em formato tabloide, com oito páginas, distribuída ontem, véspera de 1° de Abril, em algumas estações de metrô e esquinas de São Paulo.

Não se sabe ainda a motivação, se provocativa ou marqueteira, nem quem são os autores da edição falsa. Especulava-se desde que era obra de manifestantes contrários ao governo, de coxinhas que querem "criminalizar" métodos de movimentos sociais e até que o "jornal" faria parte de uma campanha contra fake news.

O fato é que o Globo se queixou à polícia pelo uso da sua marca e pediu abertura de inquérito para identificar os responsáveis.


Reproduções/Web

A edição falsa do Globo também publica "anúncios" da Odebrechet garantindo que vai entregar todo mundo e comunica aos leitores o "fim" da revista Veja.

Sem comparar objetivos ou intenções, publicar notícias falsas em clima de 1° de Abril já foi uma tradição em jornais europeus e norte-americanos. Até hoje, um ou outro jornal ainda publica "notícias" falsas, geralmente bem-humoradas, no Dia da Mentira.

Ontem, jornais escandinavos, entre eles os suecos Smålandsposten, Dalarnas Tidningar e Västerbottens-Kuriren, anunciaram em sites que este ano quebrariam a tradição e não publicariam notícias-piadas em função do novo e condenável fenômeno de propagação de fake news. Um dos argumentos é que a internet acaba reproduzindo a brincadeira em compartilhamentos que acabam se transformando em "verdades". Alguns jornais regionais, contudo, mantêm a tradição, que, aliás, vem de longe.

Mesmo sendo outra história, vale citar um caso onde o espírito foi o mesmo. Em 1938, Orson Welles apavorou os Estados Unidos com um programa de rádio que simulava um ataque extraterrestre. "A invasão dos marcianos" era uma peça de radioteatro mas os ouvintes da CBS não foram avisados da ficção.  No dia seguinte, o título do Daily News resumia o pânico: "Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos". Mas aquela não foi uma brincadeira de primeiro de abril: a invasão fake de Welles foi ao ar em 30 de outubro de 1938.

Veja, abaixo, com informações e reproduções do hoaxes.org, algumas edições falsas e históricas de jornais que fizeram pegadinhas com seus leitores.

Thomas Edison inventava tanta coisa que o New York Graphic
noticiou que ele criou uma máquina capaz de transformar terra em cereal. 


Em 1923, o NYT revelou que os soviéticos haviam descoberto uma maneira
 de aproveitar a energia das tempestades e furacões e, com isso,
enviar objetos a longa distância, além de obter energia elétrica. 


O jornal Madison Capital Times simulou, em 1933, a destruição
do Capitólio de Wisconsin 

Em 1969, o Daily Journal, Illinois, publicou na primeira página a falsa aterrissagem
de uma cápsula soviética na cidade de Kankakee. 
Em 1986, Le  Parisien revelou que a Torre Eiffel seria levada para a Euro Disney.
Pior: que lá seria desmontada e as ferragens utilizadas na construção de um estádio. 


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Brasil nem um pouco cordial - Alunos de uma escola pública, médico da UPA e filha de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank são vítimas de racismo...

Caso da professora racista foi há dez anos, 
em São Paulo: condenação saiu agora.

Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank fizeram registro policial
 do caso e vão processar racista ou racistas. 

Médico da UPA-Tijuca vai à polícia após ser
verbalmente agredido por paciente racista.


Manifestações públicas de racismo são cada vez mais comuns no Brasil. Não apenas nas redes sociais mas, o que é surpreendente, até em salas de aulas.

A Justiça, nesses casos, às vezes falta, tarda muito, mas ainda assim merece reconhecimento quando determina alguma punição ao crime.

O Globo noticia hoje que o Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de condenar o governo do Estado de São Paulo e a professora Carla Marini a indenizar dois alunos por danos morais depois que a acusada fez comentários racistas em uma escola pública de Guarulhos.

"Você não está vendo que os meus anjinho brancos estão quietos, e só você que é negro está falando?", disse a professora segundo testemunhas.

No Dia da Consciência Negra, ela resolveu dar uma aula de racismo e "ensinou" aos alunos que que pessoas de pele negra "não são capazes", "são sujas, imundas" e que "as escolas deviam separar pessoas de pele negra das demais".

Apesar de o estado e a "mestra" terem sido condenados (ainda cabe recurso), há o que lamentar. O caso aconteceu em 2007, quanto demora!, e a professora foi condenada apenas por "danos morais".

É típico. Muitas delegacias de polícia e parte da justiça resistem tremendamente a aplicar a lei de racismo. Na maioria das vezes, quando o queixoso chega à autoridade, o crime de racismo é desqualificado já no Boletim de Ocorrência para ofensa, cuja pena é menor. E muitos juízes, ao final do processo, aplicam penas alternativas, melhor dizer, divertidas, do tipo cesta básica e prestação de levíssimos "serviços" sociais.  Por isso, apesar dos pesares e de a professora não ter sido presa, louve-se a decisão o TJSP.

No Rio, foram dois casos de racismo públicos apenas na última semana.

Em um deles,  o casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank foi vítima de comentários racistas contra a filha, Titi, de 2 anos. Ao publicar na rede social uma foto da menina adotada há alguns meses, Giovanna se deparou com comentários preconceituosos na sua página. Bruno e Giovanna deram parte à polícia. O caso já está sob investigação e as autoridades têm meios de identificar com precisão o autor ou autores do crime.

Na Unidade de Pronto-Atendimento da Tijuca, o médico Danilo Silva foi agredido verbalmente por um homem em crise de hipertensão. Ao se aproximar para fazer o atendimento, o profissional ouviu o paciente dizer aos funcionários que não queria se atendido por negros. Recusou a ajuda de um maqueiro porque era negro. Ao médico, segundo reportagem do jornal Extra, ele afirmou:

- "Eu não quero ser atendido por você porque não quero ser atendido por um crioulo".

O médico manteve a calma na atitude e na resposta.

- "Senhor, me desculpe, mas o senhor não está em condições de escolher a cor do médico. Quem está aqui contratado pelo Estado sou eu e quem vai te atender sou eu’. Na hora não passou pela minha cabeça chamar a polícia. Depois do plantão eu refleti e decidi prestar queixa".

E teve o cuidado de registrar no boletim que o paciente foi medicado e orientado. Formalizou igualmente a ocorrência da agressão racista. O médico já prestou queixa. O autor do crime de racismo será intimado. O nome do elemento não foi divulgado.

Provavelmente vai arrumar um mimimi (geralmente esse pessoal amarela diante da polícia e justiça) ou um advogado para alegar que não estava em plena consciência, embora soubesse distinguir raças no seu surto de hiperracismo.

O que se espera é que a professora não obtenha êxito no recurso e, mesmo quase dez anos depois, pague pelo seu crime.

Que Bruno e Giovanna tenham a Justiça ao lado das suas justas indignações.

Que o médico supere o choque e siga exercendo sua bela profissão, mas que obtenha resposta da polícia e da justiça e confie que a sociedade tem sim antídoto para a hidrofobia racista.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Direitos Humanos: terreiro de candomblé é incendiado no Distrito Federal. Suspeita é de vandalismo religioso

por Flávio Sépia
A notícia em destaque é da Agência Brasil. "Um terreiro de candomblé foi incendiado na madrugada de hoje (27), no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá, no Paranoá (DF). O fogo começou por volta das 5h30 e destruiu o barracão da casa. Cinco pessoas dormiam na casa, mas ninguém ficou ferido. O Corpo de Bombeiros foi acionado, apagou o fogo e está fazendo a perícia do local. Mãe Baiana – coordenadora de Comunidades de Matriz Africana de Terreiros da Fundação Cultural Palmares – informou que levantou com os estralos e quando saiu o fogo já estava tomando todo o barracão. Há suspeita de que o incêndio tenha sido motivado por intolerância religiosa. Segundo Mãe Baiana, nas últimas semanas foi visto um ômega azul rondando a casa, e na noite anterior o mesmo carro passou pelo local.
Este é o mais recente caso de ataque a terreiros na região do Distrito Federal e Entorno. Mais dois templos foram atacados, em setembro, um em Santo Antônio do Descoberto (GO), outro em Águas Lindas de Goiás. Ambos foram incendiados, sendo que o primeiro foi atacado duas vezes.
O presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira, lembrou que este é o quinto ataque registrado nos últimos anos, o terceiro com uso de fogo. A federação está trabalhando para descobrir que tipo de ataque ocorreu. Acompanhada da Fundação Palmares, do Fórum de Defesa de Liberdade Religiosa e outras instituições, a federação promoverá campanha para mostrar à sociedade o que está acontecendo".

O Brasil ainda não tem o terrorismo religioso propriamente dito. Mas, pelo jeito, no futuro, vai chegar lá. O vandalismo religioso já está emplacando. E já houve casos noticiados de agressões que deixaram feridos, incluindo uma menina praticante de religião afro, e até de assassinato de um homossexual por motivação fanática de fundamentalistas religiosos. É comum também a depredação e a destruição de santos nas igrejas católicas. O que favorece o avanço da intolerância é a impunidade. Intolerância religiosa é crime mas não há um só caso de criminoso punido. Tais quais os crimes de racismo e de maus tratos a animais, o de intolerância religiosa parece não ser levado a sério pela polícia nem pela justiça brasileiras.

ATUALIZAÇÃO - O governador do DF, Rodrigo Rollemberg, determinou a criação de uma Delegacia especializada em crimes de racismo e intolerância religiosa. Uma boa iniciativa. Ontem, ele visitou o terreiro de candomblé Axé Oyá Bagan, no Paranoá. O galpão da instituição foi destruído por um incêndio na sexta-feira (27). A polícia está apurando o fato e os indícios de crime.
O governados Rodrigo Rollemberg, do DF, visita o terreiro Axé Oyá Bagan. Foto Toninho Tavares/Agência Brasília. 

sábado, 30 de agosto de 2014

Racismo no futebol brasileiro: Já passou da hora de botar na cadeia esses criminosos e criminosas. A Justiça está esperando o que? A bandeira nazista nas arquibancadas e a suástica nas camisas?

por BQVManchete
Cenas explícitas de crime. Mais uma vez. Anunciam apuração, investigação, multas, punição, mas o desfecho corre o risco de ser, como tem sido, a impunidade. Autoridades civis e esportivas estão deixando o jogo do racismo correr. Até quando? Até o assassinato de um jogador, como aconteceu com o camaronês Albert Ebosse recentemente? Até verem a bandeira nazista tremulando nas arquibancadas? Há quem argumente que o clube não deve ser punido. Claro que deve. Pelo Estatuto do Torcedor, o clube é responsável. Só assim os demais torcedores, os normais, reagirão contra aqueles doentes racistas que podem prejudicar o clube. E os seus dirigentes se esforçarão de verdade para fiscalizar e identificar os agressores. Colunistas identificados com a direita costumam minimizar esse episódios. Mesmo fora do futebol. Recentemente, um escritor gaúcho xingou nordestinos, foi criticado, mas recebeu apoios de algumas dessas "celebridades" que transitam por aí na mídia. Mas voltando ao futebol, está na hora de a CBF, a Justiça, a justiça esportiva, a polícia, a Fifa, o Ministério dos Esportes obedecerem à lei que pune no Brasil o crime de racismo. 
E já, antes de qualquer coisa, que os jogadores se unam e passem a interromper a partida sempre que houver um manifestação racista. Devem sentar na bola e no campo até que a polícia e os dirigentes identifiquem e prendam os torcedores racistas.  
A torcedora do Grêmio, Patricia Moreira, xingou o goleiro Aranha, do Santos. O clube gaúcho diz que identificou dez racistas nas arquibancadas. O goleiro deu queixa criminal.  Que esses elementos, ao contrário de casos anteriores onde a regra foi passar a mão na cabeça dos intolerantes, sejam finalmente condenados pela Justiça.

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