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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Malhando no parque...


por José Esmeraldo Gonçalves (para a Contigo)
A empresária paulista Catarina Areoso transforma em atividade física o passeio diário com as  schnauzers Penélope e Minnie. 

Para Catarina Areoso, 39, passear com Penélope e Minnie, de seis anos, é, na prática, uma espécie de combo de bem-estar. Cati, como amigos a chamam, faz da caminhada um treino completo, com carga de esforço programada tanto para ela quanto para o pequeno porte das schnauzers. “Caminho em torno de meia hora durante a semana e por duas horas nos fins de semana. Por uns 20 minutos, ando no passo delas. Respeito o comportamento normal dos cachorros quando passeiam: eles param, têm curiosidade com o ambiente, cheiram, fazem suas necessidadese se comunicam a seu modo com outros animais”, explica Catarina, ressaltando que, após esse aquecimento, passa a caminhar em um ritmo mais constante. “É o exercício mais disciplinado que faz bem, do contrário seria só passeio. Já faço isso há uns cinco anos. Percebo que são nítidas as diferenças na postura, agilidade, jeito de andar, respiração e disposição entre cachorros que têm uma prática de exercícios físicos e aqueles ociosos. Penélope faz cinco quilômetros na corrida. Minnie só meio percurso, porque é gordinha. Mas a caminhada é essencial para a manutenção do seu peso. No meu caso também”, completa Catarina, rindo. “A gente acaba se obrigando a fazer a caminhada por saber que é importante para o animal. Torna-se um hábito e uma motivação extra. Posso dizer que é o momento que uso para me cuidar, pensar, refletir, coisas que normalmente não temos tempo de fazer. Não convivo com problema crônico de peso porque me cuido, faço academia e balé quase todos os dias.
Mas qualquer mínimo descuido pode me fazer ganhar aqueles dois ou três quilinhos indesejáveis. Com a caminhada apoiada por dieta já cheguei a perder seis quilos”, conta.
A professora Gabrielle Palmieri, 29, personal trainer da Competition Academia, aprova o método. “Normalmente, quem tem animal de estimação deve levá-lo para passear. Por que não transformar o hábito em seu próprio momento de treino e ainda cumprir com a responsabilidade como dono do pet?”, propõe Gabrielle, que indica, contudo, algumas precauções. “Donos de pet de menor porte ou de raça mais delicada podem optar por treinos de caminhada. Basta usar o terreno do percurso para a variação do estímulo do treino. Por exemplo, optar, durante alguns dias, por caminhos com subidas. Outros dias, por caminhos mais planos onde se pode acelerar a caminhada. E, por fim, sessões que misturem esses dois tipos de estímulos em um treino completo, de 30 a 40 minutos ao menos”. Para os donos de cachorros de maior porte, Gabrielle indica a prática de corridas. “Nesse caso, treinos intervalados, com momentos de descanso tanto para os pets quanto para os donos são bem interessantes. Lembrando que é indispensável a hidratação de ambos”, ensina a personal trainer, sem deixar de lembrar que antes dos exercícios, donos e animais devem consultar os médicos para avaliação e check-up de praxe.
Catarina Areoso avalia que, tanto no treinos como em casa, é fundamental “interpretar” as vontades e observar os cuidados com os cães. E diz isso baseada em uma longa vivência. Ela conta que em 1986, aos 11 anos, ganhou sua primeira cadela. “Eu sempre gostei de animais, insistia em ter um e, naquele ano, nós nos mudamos de um pequeno apartamento para uma casa e acho que, por isso, o meu pai concordou. Era uma poodle pretinha, que escolhi na Expodog, evento que acontecia todo ano em São Paulo. Chamava-se Nati”, recorda. 
Desde então, a empresária não abriu mão de manter um animal de estimação. “Sabe quando se está cansado do trabalho, do trânsito, da vida ou de qualquer problema que seja? Normalmente aquele seu estado de irritação se estenderia. No meu caso, ao chegar em casa sou presenteada com uma alegria imensa e a maior ‘festinha’. Não tem como não sorrir e não ficar feliz nem que seja por um breve momento”.
Casada há 11 anos com o publicitário Roberto Burgess, 39, Catarina estudou no Colégio Rio Branco, formou-se em Administração na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), fez pós-graduação na FGV (Fundação Getúlio Vargas)e trabalhou nas áreas financeira, comercial e de marketing de grandes empresas. Aos 28 anos, mudou-se para Barcelona, onde morou por cinco anos. A intensa atividade e uma consciente escolha pessoal a levaram a não ter filhos. “Foi uma opção. E com nossas duas “meninas” somos uma família/matilha muito feliz”, conta ela, que mora em Higienópolis, bairro que considera amigável para cachorros, que são muito bem-vindos em restaurantes, shoppings e parques.   
Há quatro anos, um drama familiar a trouxe de volta ao Brasil. Após perder o pai, Ricardo, vítima de câncer, Catarina soube que a mãe, Lei, também padecia da mesma doença. Em ambos os casos, durante a evolução da doença, ela observou uma mudança de comportamento na schnauzer do casal, Marie Claire, atualmente com dez anos. “Enquanto meu pai estava em casa, a Marie Claire, nunca saiu do lado dele. Tempos depois, minha mãe começou a apresentar os mesmos sintomas de câncer. E o comportamento da Marie Claire se repetiu. Desde o dia do diagnóstico, e por dois longos anos, ela permaneceu no quarto, como se estivesse “cuidando” da minha mãe”, recorda. 
A perda dos pais deixou marcas profundas em Catarina. “Os psicólogos dizem que o período de luto de uma pessoa dura em torno de três anos. Realmente, foi o tempo que levei para me recuperar. Entrei em um mundo à parte no qual fui fazendo as coisas meio por inércia. Naquela época, eu queria ficar bastante tempo sozinha, passei longos períodos na praia, mas nunca dispensei a companhia de Penélope e da Minnie. Sempre as levava comigo e foi então que adquiri o hábito de fazer longos passeios com elas”. A parceria em um momento tão delicado a levou a valorizar ainda mais a convivência com as duas schnauzers e a conhecê-las melhor. “Penélope tem um temperamento bem complexo. É mandona, pimentinha, preguiçosa, ‘madame’, fresca e esportista, porém super medrosa. Já a Minnie é um ser zen. Sempre feliz, calma, gosta de todas as pessoas, de todos os animais, define. Ambas sabem comunicar perfeitamente suas vontades, segundo ela. “Entendem praticamente tudo. Quando são elogiadas, quando levam bronca, quando estou triste ou feliz”. Foi ao voltar à rotina da cidade e ao trabalho, após esse período de luto e de maior disponibilidade na casa de praia, que Catarina percebeu que as cadelas precisavam de algo mais. Chegou a levá-las duas vezes por semana a um centro de day care para cães. “Era alguma coisa que eu, por falta de tempo, não poderia dar naquele momento”, diz Catarina, que constatou que aquele era um problema comum a muitas pessoas que têm cães. Tempos depois, amadureceu a idéia de criar algo que desse mais qualidade de vida a Penélope e Minnie e suprisse essa necessidade de muitas outras pessoas. Há um ano, surgiu o Clubinho Pet. “Construímos um lugar muito legal, onde outros bichinhos podem ser muito felizes e brincar enquanto seus donos estão trabalhando. É onde eles passam o dia se divertindo e que hoje preenche minha vida e me faz muito feliz”. 
Assim como o clube derivou da sua atenção ao bem-estar de Penélope e Minnie e dos demais “sócios”, Catarina preocupa-se com os cães em geral. “É   necessária uma política de responsabilidade e conscientização na compra ou adoção de um animal. Às vezes, vejo pessoas que se esquecem de que os animais têm necessidades que você deve suprir. Eles podem ficar doentes, ter depressão, precisam gastar energia, não podem ficar trancados o dia inteiro. Uma política de castração também é urgente para evitar a reprodução desnecessária e desenfreada de cães de rua”, reivindica.