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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Afanaram a Libertadores

O jornal espanhol Mundo Desportivo usou um termo de orgiem africana - quilombo - para definir a chegada de River Plate e Boca Juniors a Madri. No Brasil, a palavra quilombo tem hoje conotação positiva e lembra a resistência dos negros durante a escravidão. Na tradução racista da Espanha, quilombo significa desordem, prostíbulo, lugar de devassidão. 

por Niko Bolontrin

O futebol sul-americano já está em nítida decadência e tenta resistir mesmo sufocado pela força do euro que leva craques, futuros craques e promessas de craques.

A Conmebol resolveu ajudar esse processo de desintegração levando a final da Libertadores para o estádio do Real Madri. O interesse é, claro, apenas financeiro, o resto é desculpa. Para isso, a entidade atropela os direitos do River Plate, do Boca Juniors e dos torcedores, a maioria, que não pertencem a facções e gostariam de ver seus times jogarem a decisão.

Se tumulto em futebol implicasse em levar jogo de um continente para outro a França jamais voltaria a sediar uma Copa do Mundo. Lá, em 1998, houve graves tumultos que causaram até a morte de um policial.

Agora mesmo, na Liga das Nações de 2018, houve quebra-quebra nos jogos Inglaterra X Espanha e Inglaterra X Eslováquia. E a Inglaterra deve se candidatar a sediar a Copa de 2030.

Recentemente, o site Red Bull listou as cinco torcidas mais perigosas do mundo. A primeira é inglesa, do Milwall Bushwackers, temida em todo o Reino Unido. A segunda é a UltrAslan, do Galatasaray, da Turquia. O lema deles ao receber adversários em Istambul é "bem-vindo a inferno". A terceira torcida mais violenta do mundo é La Doce, do Boca Juniors. Mas entre os barra-bravas, como são conhecidas as torcidas organizadas na Argentina, há vários outros grupos perigosos. A quarta torcida de alto risco e a do Estrela Vermelha, da Sérvia. Para complicar, são nacionalistas radicais e racistas. A quinta torcida mais intolerante é a do Lazio, clube italiano que foi ligado ao fascismo. São agressivos, racistas e levam suásticas para os estádios. Na Espanha, no começo deste ano, um policial morreu durante briga de torcedores do Athletc de Bilbao e Spartak de Moscou.

Mesmo assim, a Fifa e a UEFA não pensam em levar decisões europeias para o Butão.

A Conmebol leva Boca x River Plate para a Espanha por um motivo simples: viu nos condenáveis acontecimentos de Buenos Aires uma oportunidade de faturar alguma grana ou ouviu a irresistível conversa de empresários sortudos. Ou caiu infantilmente na conversa de Gianni Infantino, o presidente da Fifa, que não bate prego sem estopa. Só isso.

ATUALIZAÇÃO EM 02/12/2018 - O River Plate e o Boca Juniors se recusam oficialmente a jogar a final da Libertadores em Madri. Demonstram mais bom senso e respeito às suas torcidas do que a Fifa e a Conmebol com a estranha e nada transparente decisão de levar um dos mais históricos clássicos da América do Sul para a Europa. Aguarda-se a reação dos cartolas. Se, mesmo assim, o jogo se realizar, espera-se que depois de um dos tumultos que envolvem com frequência torcidas de clubes europeus em brigas e demonstrações de racismo, a Fifa traga para a América do Sul um dos seus jogos ameaçados por hooligans. A lamentar que boa parte da mídia esportiva brasileira declarou-se em colunas e mesas redondos a favor da exótica decisão da Conmebol e da Fifa. Esses coleguinhas acabam de ganhar o troféu Vira-Lata, com direito a beijar as mãos dos cartolões Gianni Infantino e Alejandro Dominguez. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Violência nos estádios: a quem interessa

O tumulto que torcedores do Flamengo promoveram na véspera do jogo no Maracanã, na frente do hotel onde tentavam dormir os jogadores do Independiente, e  antes, durante e depois do jogo que deu aos argentinos o título da Copa Sul Americana é mais do que previsível. É padrão.

Esses falsos torcedores não têm o menor interesse em futebol. Faturamento com venda de ingressos a cambistas, as brigas combinadas, roubos, espancamentos e até assassinatos fazem parte das suas prioridades.

O inquérito em andamento que apura o fornecimento de ingressos a esses bandos por diretores de grandes clubes pode, finalmente, revelar o que está por trás dos poderes dessas facções.

Por que diretores de grandes clubes entregam volumosas cargas de ingressos a tais grupos se com isso estão afastando milhares de torcedores autênticos que deixam de ir aos estádios por temer a violência das torcidas?

Sabe-se que as brigas combinadas horas antes dos jogos, até entre torcedores do mesmo time, são fruto das ligações destes com facções de traficantes de favelas rivais. Essa mesma prática do quebra-quebra é adotada em "manifestações" que queimam ônibus, saqueiam cargas, depredam transporte público e fecham rodovias. O modelo apenas foi agregado ao futebol. No tumulto, como se viu na Maracanã, é criado o cenário ideal para assaltos e arrastões.

O Vasco foi punido com a interdição de São Januário após brigas de torcida fora do estádio. Pelo mesmo critério, o Flamengo deverá ser punido. Botafogo e Fluminense também já sofreram sanções.

Os clubes são vítimas mas não inteiramente inocentes.  O que explica tanto poder de chefes de torcida junto a alguns cartolas se está mais do que claro que causam enormes prejuízos aos clubes?

Não faz sentido.

Ou vai ver faz muito sentido e cabe à polícia aprofundar a investigação sobre essa estranha aliança. 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fifa: é difícil saber o que é mais sujo, se a corrupção dos cartolas ou o jogo político dos Estados Unidos com vistas à Copa de 2018...

O atual escândalo da Fifa só é novidade para
quem não leu o livro de David A. Yallop. A edição brasileira
 foi lançada em 1998 e praticamente ignorada pela mídia.
Explica-se: um dos alvos do livro, João Havelange,
era então figura íntima dos empresários que controlam
a comunicação no Brasil.
Em 1998, foi lançado no Brasil o livro "Como eles roubaram o jogo", de David A. Yallop, com os "segredos dos subterrâneos da Fifa". Muito do que você lê nos jornais de hoje está detalhado lá. O livro denuncia a polêmica atuação de João Havelange no comando da entidade e o modus operandi de dirigentes, empresas de marketing e patrocinadores. O livro de Yallop quase não repercutiu no Brasil. A mídia não deu muita atenção ao calhamaço de denúncias. Poderoso e íntimo dos 'capi' da imprensa, Havelange, que Yallop chama de "Rei Sol', foi poupado, à época, por jornais e revistas. Qualquer jornalista que atuou no esporte durante os anos dourados do "Rei Sol" sabe que jornais, revistas e TVs não publicavam matérias críticas ao poderoso ex-presidente da CBD, da CBF, da Fifa e membro do Comitê Olímpico Internacional. Ao contrário Havelange desfilava em tapete vermelho nas redações e só cairia em desgraça uma década depois a partir de acusações de envolvimento na escolha de países-sede de Olimpíadas alvo de investigações e processos na Europa. "Como eles roubaram o jogo" revela não apenas propinas e subornos ou pagamentos em dinheiro para cabalar votos de confederações como manipulação extra-campo (jogadores suspensos e rapidamente absolvidos à véspera de jogos importantes, escalação duvidosa de árbitros, coisas do tipo). Até a famosa ISL, empresa suíça de marketing esportivo que foi saudada pela mídia brasileira com exemplo de profissionalização do futebol ao assinar contrato com o Flamengo há cerca de 15 anos, tem suas digitais nos fatos levantados pelo livro-reportagem de Yallop. A ISL, que intermediava patrocínios, prometeu investir 80 milhões de dólares no clube brasileiro. A parceria virou escândalo com denúncias de lavagem de dinheiro em paraíso fiscal. A empresa suíça foi acossada nos anos seguintes, pediu falência e deixou dívidas para o Flamengo pagar. Um detalhe importante: quando o Flamengo assinou contrato, a ISL já era personagem do escândalo denunciado no livro "Como eles roubaram o jogo". As matérias da época, apesar do livro lançado dois anos antes, não fizeram essa ligação. A mídia via a chegada da ISL como uma espécie de "abertura dos portos" do futebol. Tudo isso era conhecido, incluindo-se as suspeitas recorrentes sobre as vendas de milionários direitos exclusivos de transmissão de campeonatos. As denúncias atuais, que levaram à prisão, entre outros, do "revolucionário" de 1964, o servidor da ditadura José Maria Marin, merecem várias leituras. É bom não comprar gato por lebre. Que a corrupção existe, ninguém duvida. Por aqui, já houve a famosa CPI da Nike, implodida pelos deputados da chamada "bancada da bola" eleitos pelo financiamento privado de empresas e interesses ligados ao futebol brasileiros, de entidades a clubes e patrocinadores. Esse mesmo financiamento privado que a Câmara dos Deputados acaba de perpetuar e que equivale a um "investimento", a empresa banca eleições e depois vai cobrar resultados do seu "legislador-funcionário". No ano passado, a Polícia Federal desvendou um esquema multinacional de venda de ingressos para a Copa, uma espécie de rico mercado paralelo. Houve prisões seguidas dos habituais habeas corpus e o escândalo deu em nada. Há duas semanas, o Estadão revelou um estranho contrato que a CBF fez com uma empresa de marketing que manda e desmanda na programação de amistosos da Seleção. Agora, surge essa surpreendente operação do FBI. O mérito da ação é trazer à tona mais uma vez o jogo de propinas e subornos. A dúvida é quanto aos reais propósitos da operação deflagrada às vésperas das eleições na Fifa, com os Estados Unidos apoiando o  príncipe jordaniano Ali, representante de um país aliado. Para os estadunidenses, seria vital assumir o controle da Fifa às vésperas da Copa do Mundo de 2018, cuja sede é a Rússia. Com o revitalização da "guerra fria", Estados Unidos e a sempre submissa União Europeia, em choque com Moscou, trabalham para viabilizar um boicote ao mundial. Está mais do que claro o objetivo político da investida do FBI na Suíça. O alvo é a Copa de 2018. É o caso típico de um "cavalo de Tróia", que é a "boa causa" (o combate à corrupção), que leva nas entranhas o inconfessável objetivo de passar a manipular o futebol através de um entidade que tem mais países filiados do que a ONU. Um aspecto que está em debates entre especialistas do Direito Internacional é o fato de a polícia americana, obviamente com a colaboração das autoridades suíças - o que não é difícil de conseguir, já que a Suíça está longe de ser uma potência e não tem condições de resistir a pressões, nem as mais leves, dos Estados Unidos - estender um braço até Zurique a partir de investigações desconhecidas pela justiça suíça, que mansamente acatou as ordens de prisões.Trata-se, mesmo que se apoie o resultado em função da transparência que se exige no futebol, de um perigoso precedente. Não é por apoiar a investigação  - e espera-se que através da Polícia Federal, produza efeitos também no Brasil -, que se deve esquecer certos aspectos da ação contra a Fifa. Não há mocinhos nesse jogo.