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terça-feira, 22 de março de 2016

Com a morte de Mariozinho de Oliveira, o Rio perde o último integrante do lendário Clube dos Cafajestes. Em 1953, Manchete cobriu a última festa da turma que incendiava a noite de Copacabana

O adeus dos Cafajestes, palavra então grafada com "g", na chamada de capa da Manchete.


Reprodução

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Muita alegria, como se a vida fosse acabar... Era a legenda da foto da Manchete

O livro "A noite do meu bem", de Ruy Castro, lançado recentemente, leva os leitores ao Rio dos anos 1940 e 1950. Principalmente à época em que, após o fim dos cassinos, começaram os anos dourados das boates.

Copacabana era o centro efervescente da explosão da vida noturna carioca. E foi em Copacabana que nasceu o Clube dos Cafajestes.

Mariozinho de Oliveira.
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O Globo de hoje noticia a morte, aos 90 anos, de um dos fundadores da turma: Mariozinho de Oliveira, o último dos cafajestes. Faziam parte do Clube que virou lenda nomes como Baby Pignatari, Carlos Niemeyer ,  Carlos Peixoto, Mário Saladini, Jorginho Guinle, Paulo Soledade, Fernando Aguinaga, Eduardo Martins de Oliveira, o Edu, Flávio Porto, Sérgio Porto, o jogador Heleno e Ibrahim Sued.

O clube foi fundado em um apartamento em cima da Confeitaria Alvear, em Copacabana, na Avenida Atlântica, esquina com a República do Peru. A confeitaria tornou-se uma sede informal dos Cafajestes. Mas o que a turma gostava mesmo era de alugar casas no bairro, vazias ou até abandonadas, para promover homéricas festas bombadas por mulheres bonitas e uísque farto.

Eram frequentadores da Vogue e do Golden Room. Quase todos eram milionários, mas não se fechavam a alguns "duros" com Ibrahim Sued. E foi Ibrahim, então fotógrafo, uma das vítimas da irreverência dos Cafajestes. Hoje, essa irreverência seria provavelmente chamada de bullying. No livro "A noite do meu bem", Ruy Castro conta que, em 1948, o playboy Mariozinho de Oliveira, então com 23 anos, notou que Ibrahim não pagava dose de uísque e adotava a tática de sentar à mesa dos ricaços e filar vários "escoceses". Uma noite, ao ver o fotógrafo chegar à Vogue, Mariozinho foi ao banheiro e completou seu copo com legítima urina on the rocks. Não deu outra.

Ruy conta no livro: "Ibrahim chegou, sentou-se sem ser convidado e, inevitavelmente, bebeu do uísque de Mariozinho. Não se sabe se estranhou o sabor. Não passou recibo e não estrilou. Apenas levantou-se e foi em frente. Detalhe, Mariozinho gostava de Ibrahim". 

Mariozinho protagonizou outro episódio narrado no livro de Ruy Castro. Este, tendo como coadjuvante o compositor Ary Barroso que, às vezes, ia às festas dos Cafajestes como "observador". "Numa delas, ao entrar num aposento onde Mariozinho trocava carícias com uma belíssima negra, aproximou-se para espiar melhor a nudez da moça e, com os óculos e o nariz a poucos centímetros das suas intimidades, encantou-se com o contraste entre a cor da pele e a da vagina e exclamou: Ela é Flamengo!", revela Ruy Castro.

A revista Manchete, de 31 de janeiro de 1953, publicou uma reportagem sobre o "Adeus dos Cafagestes". A matéria contou que os principais integrantes do Clube andavam de saco cheio com a exploração em torno do nome e com o assédio ao grupo. Resolveram encerrar os trabalhos. Curiosamente, a reportagem foi assinada por Flávio Porto, ele próprio um dos cafajestes de carteirinha. As fotos da última festa de arromba são de Yllen Kerr e Aymoré Marella.
Flávio concluiu a reportagem com um tom de lamento: "O término dos Cafajestes é uma perda enorme para a alegria desta cidade onde tantos se divertem tão pouco. 

Obviamente, os playboys continuaram a aprontar em voos solo ou copilotados. Mas, naquela noite, em grande estilo, como uma bande de rock que se desfaz no auge, enterraram a grife Cafajestes antes que a brincadeira desse sinais de decadência.

Com um detalhe: a festança foi boca-livre. Ibrahim pode beber à vontade. Uísque.