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sábado, 1 de agosto de 2015

1° de agosto, 15 anos de desgosto e de pequenas vitórias

Por ROBERTO MUGGIATI

No dia 1º de agosto de 2000, com a falência de Bloch Editores, foram sumariamente fechadas as portas do majestoso complexo arquitetônico da Praia do Flamengo que durante três décadas abrigou o império de comunicações da Manchete, que abrangia revistas, serviços gráficos, emissoras de rádio e uma rede nacional de televisão. Numa operação rápida e cirúrgica, oficiais de justiça lacraram as entradas dos três prédios desenhados por Oscar Niemeyer, depois de evacuarem os funcionários que ainda se encontravam no seu local de trabalho. Num procedimento de cruel frieza, os novos desempregados sofreram ainda a humilhação de serem minuciosamente revistados antes de chegarem ao “olho da rua...”
Muita coisa ficou para trás nas redações, além das memórias. Pertences pessoais nas gavetas, agasalhos para proteger do ar refrigerado excessivo (nos bons tempos em que o ar ainda era ligado), livros, cadernos de anotações e agendas, e outros itens que variavam de funcionário a funcionário. Os mais antigos, tinham o privilégio de possuir armários trancados a chave onde guardavam até ternos, camisas sociais e gravatas para ocasiões mais festivas. Nos computadores, ficaram também para sempre pedaços da vida de cada um: e-mails íntimos, textos mais pessoais, até algum romance destinado a publicação que tiraria o seu autor do obscuro papel de escriba utilitário, alçando- à fama e fortuna.
Em depoimento no livro Aconteceu na Manchete (Desiderata, 2008), o coordenador de reportagem José Carlos Jesus lembrou aquela terça-feira sombria:

“Quando o telefone da minha mesa tocou, me veio um estranho pressentimento. Tive a certeza de que aquela ligação estava me trazendo alguma coisa de muito grave. Do outro lado da linha, a voz, um tanto autoritária, logo confirmou. A ordem era que juntássemos todos os nossos pertences e nos retirássemos da sala e deixássemos o prédio o mais rápido possível. Só nos restava obedecer. Foi o que fizemos. A Bloch acabava ali. Para aqueles profissionais, uns, como eu, com trinta anos de trabalho, outros com quarenta, era o ponto final de um longo tempo de dedicação a uma empresa que já fazia parte da nossa vida, do nosso corpo e da nossa alma. Levei algum tempo para administrar o choque. ‘E agora? ’, perguntávamos a nós mesmos, entre lágrimas e perplexidade.”


Na foto, de 2012, Jileno Dias, José Carlos
e Nilton Rechtman na coordenação de uma das assembleias
do auditório do sindicato. Ao longo de 15 anos,
foram dezenas de reuniões que orientaram e reforçaram
as reivindicações dos ex-funcionários da Bloch junto à
Massa Falida da empresa.
O choque levou alguns anos para ser absorvido. E foi o mesmo José Carlos Jesus o primeiro a sair do estado de catatonia e inércia – e a propor ações concretas que garantissem os direitos dos ex-funcionários e os levassem a receber o que lhes era licitamente devido como credores da Massa Falida de Bloch Editores.
Foi uma longa luta, iniciada em 2004, durante a qual José Carlos sacrificou sua vida pessoal em função do trabalho pela causa comum. Designado presidente da Comissão dos Ex-Empregados de Bloch Editores, ele enfrentou as piores vicissitudes, entre elas o afastamento de sua família, que foi para os Estados Unidos em busca de melhores condições de vida. Aos poucos, com sua inteligência e espírito de solidariedade, familiarizou-se com os meandros do labirinto jurídico e, com rara diplomacia, costurou todas as alianças possíveis (entre Justiça, Ministério Público e Massa Falida) que pudessem beneficiar a causa dos ex-funcionários e de suas famílias – uma comunidade de 2.500 pessoas que passou por terríveis momentos de crise que incluíram casos de doença, alcoolismo, morte e até fome e suicídio.
A liderança de José Carlos resultou em vitórias: o recebimento do valor “principal” da dívida, em 2009, três rateios da correção monetária, em 2012, 2013, 2014 e agora um quarto rateio prestes a ser iniciado. Ele pagou um alto preço: as pressões psicológicas que sofreu causaram danos à sua saúde e comprometeram seu coração. Felizmente, uma intervenção cirúrgica de quase oito horas, há poucos meses, o brindou com um coração novo. Vamos à luta, companheiros!

Ontem, no Auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, os ex-funcionários da Bloch se reuniram para mais uma assembleia. Uma década e meia após a falência da Bloch, a mobilização continua.



MEMÓRIAS DE UMA LUTA
por José Carlos Jesus

Nesta sexta-feira, 31, julho de 2015, foi realizada mais uma assembleia dos Ex-Empregados de Bloch Editores no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
Após passar a limpo todas as etapas dos processos da Massa Falida, uma data foi lembrada e vários ex-empregados chegaram a se emocionar. Este dia 1° de agosto marca os 15 anos da falência da Editora que outrora foi uma das maiores da América Latina, um complexo conhecido como o Império Bloch.
Fundamental foi e continua sendo neste processo, a atuação da Excelentíssima Senhora Doutora Juíza Titular da 5ª Vara Empresarial da Comarca da Capital, Maria da Penha Nobre Mauro, que não poupa esforços para atender as solicitações compatíveis com a lei dos credores trabalhistas da Massa Falida. Ao longo destes 15 anos, muitos obstáculos foram vencidos com o apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em particular, os ex-presidentes que se sucederam durante esse período e, em especial ao advogado Dr. Walter Monteiro.




A foto acima é de 2012. Registra um encontro cordial entre ex-funcionários da Bloch com a Juíza da 5ª Vara Empresarial, dra. Maria da Penha Nobre Mauro, o representante do Ministério Público, dr. Luiz Roldão de Freitas. Particularmente importante foi a atuação da juíza da 5ª Vara Empresarial, não só agilizando o processo, mas imprimindo a ele uma sensibilidade humanista rara na chamada "máquina da Justiça."  
Entre outros, estiveram presentes Murilo Melo Filho, José Carlos Jesus, José Alan Leo Caruso, Roberto Muggiati,  Jileno Dias, Arminda de Oliveira Faria, Zilda Ferreira, Genilda Tuppini, e o presidente do Sindicato dos Gráficos do Rio de Janeiro, Jurandi Calixto Gomes. Na ocasião, a juíza revelou o segredo do seu sucesso: "Por trás dessa montanha de papeis eu vejo apenas o ser humano. Poderosos ou pobres, cada um deles é uma pessoa, um indivíduo sedento de justiça."
Este foi mais um momento relevante entre tantos em meio à luta que a Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores desenvolve há anos.