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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Memória: Em junho de 1968, quando o Facebook não era nem ficção científica, o povo seguia outro ritual para ir às ruas... Veja aqui, 45 anos atrás

Jovens na rua: pau e pedra para enfrentar a ditadura
As prisões...
... e a revolta.
na Praia Vermelha, assembleia que antecedia a ação nas ruas
O debate das propostas e da formação das passeatas.
Batalhão de Choque: fuzis e balas de verdade
Jornalistas atacados nas imediações da embaixada americana

Kombi incendiada: a preferência era destruir veículos da polícia.
Durante os protestos de junho de 68, a seleção brasileira também estava na mídia. Se hoje é Copa das Confederações, a edição da Fatos & Fots que cobria os protestos trazia matérias sobre Tostão e Cia em excursão na Europa.
Em 1968, 20 centavos  hoje tão falados eram irrisórios, praticamente não existiam. A inflação estava nas cédulas. Veja anúncio na F&F: nota de 5 mil cruzeiros carimbada com o valor de 5 cruzeiros novos. 

por José Esmeraldo Gonçalves
"Rio, a revolta dos estudantes", era a chamada de capa da Fatos & Fotos que foi para as bancas nos últimos dias de junho. Quarenta e cinco anos separam aquela onda de revolta contra a ditadura da atual "Revolução do Vinagre", como estão sendo chamadas as manifestações dessa semana, em função do uso do produto como suposta atenuante dos efeitos do gás lacrimogêneo. São muitas as diferenças no modus operandi de ontem e de hoje. Quarenta e cinco anos no tempo e anos-luz na essência. Em 1968, sem redes sociais ou celular, a comunicação entre os participantes era direta, através de panfletos, jornais mimeografados na máquina Facit, assembleias e boca a boca nos corredores das faculdades, escritórios, fábricas, repartições e colégios. Invariavelmente, as passeatas era planejadas com antecedência, mesmo que fosse de horas. Cada entidade ou diretório se reunia, ouvia as propostas (roteiro, dia, horário, palavras de ordem etc) e trocava informações com os representantes das demais instituições mobilizadas. Chegava-se a um consenso em relação a palavras de ordem. Nas manifestações dessa semana, por exemplo, havia quem pedisse em cartaz a volta do "regime militar" em oposição ao que bradava o manifestante ao lado que exigia mais e verdadeira democracia.  Nas ruas, as alas de 68 se formavam em uma sequência orientada pelos líderes de cada entidade. O povo, ou mesmo a massa de estudantes sem ligação direta com a cúpula do movimento, aderia a essas alas à medida em que ia chegando à concentração da passeata. A formação resultava em uma maior segurança contra a ação de infiltrados. Havia sempre um líder em cada ala. O direção principal passava informações através desses líderes na base do boca a boca mesmo, um telefone-sem-fio que ligava os setores. /os oradores, em geral, eram os presidentes e diretores das entidades envolvidas no protesto. Claro que essa formação persistia até que os batalhões de choque e a cavalaria (muito usada naquele época) investisse contra a multidão. Com um detalhe: as balas eram de verdade e pintavam as ruas de sangue. 1968 foi um ano que terminou.
A resposta dos militares viria em dezembro, com a edição do AI-5, que, nos anos seguintes, tornaria mais escuro e sangrento o que já era treva.  
 Observação: as fotos que ilustram este texto foram reproduzidas da edição 387 da Fatos & Fotos. São imagens históricas que fazem parte do Arquivo Fotográfico que pertencia à Manchete. O acervo foi leiloado e encontra-se virtualmente desaparecido. O Sindicato do Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos-Rio entraram com medida judicial para localizar a valiosa e histórica coleção de imagens e obter informações sobre seu estado de conservação. Em vão. Instituições públicas destinadas a cuidar a memória do país parecem não ter qualquer preocupação com o destino de um acervo de mais de 10 milhões de imagens do século passado.