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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A ameaça real...



O artigo abaixo foi publicado na Época de 26/10/2018. Logo depois, o jornalista 
Paulo Roberto Pires deixou a revista. 






por Paulo Roberto Pires (para a revista Época) 

“Intelectual”, escreveu Millôr Fernandes, “é um cara capaz de chamar a galinha em meia dúzia de línguas diferentes, mas pensa que quem põe ovo é o galo.” Foi o debate da galinha que nos últimos meses mobilizou intelectuais e comentaristas empenhados, sabe-se lá com que fins, em destacar a impropriedade de definir como “fascista” a teoria e a prática de Jair Bolsonaro e seus seguidores. Preferiu-se discutir se marola é tsunami a organizar uma eventual fuga para as montanhas. Hoje, cheios de razão, estão prestes a morrer afogados.

E tome Hannah Arendt, Norberto Bobbio, George Orwell e mal disfarçada Wikipédia para explicar por que seria exagero, tergiversação ou ignorância associar fascismo à peculiar concepção de sociedade que se traduz nos atos e planos do capitão, sua família, seu economista, seus generais e recrutas. Provou-se, por evidente, que Bolsonaro não é Stálin, Hitler ou Mussolini. Agora, com a besta à solta, quando se intimida, agride e mata em nome do que o rigor não deixa dizer, os zeladores do léxico político balbuciam, em tom moral, paráfrases de Pedro e o lobo: tanto se gritou — em vão, insistem — contra o fascismo que diante da ameaça real corre-se o risco de ninguém acudir.

Na Itália de 1975, Pier Paolo Pasolini levava bordoada da esquerda e da direita pela suposta impropriedade política e ideológica de apontar o ressurgimento do fascismo. Gay e comunista, o cineasta não delirava, é claro, com uma volta dos camisas-negras, mas denunciava sem rodeios como o fascismo era normalizado. Toda homogeneização, do consumismo ao racismo, visava, segundo ele, “à reorganização e à normalização brutalmente totalitárias do mundo”. Fazia do fascismo uma palavra de combate, perfeitamente inteligível, e temia ser vítima do que denunciava. Foi massacrado por um garoto de programa poucas horas depois de dar uma entrevista que, quando publicada no La Stampa, ganhou do repórter Furio Colombo o título que o próprio Pasolini recomendara: “Estamos todos em perigo”.

Jason Stanley nasceu em 1969, é especializado em filosofia da linguagem e dá aulas em Yale. Nos últimos dez anos, tem estudado propaganda política e acaba de lançar How fascism works (Como funciona o fascismo), livro curto e elucidativo que mostra como e por que o discurso de Donald Trump é comparável, e não só retoricamente, a alguns dos mais notórios líderes fascistas da história — que por sua vez inspiram movimentos espalhados pelo mundo. Num vídeo para o New York Times, Stanley enumera essas ocorrências à medida que contornos de mapas piscam na tela — o do Brasil é o terceiro a aparecer.

“Vocês vão dizer que estou tentando assustar vocês com esses paralelos”, pondera Stanley. “E, quer saber? Estou mesmo.”

No Tinder ideológico, Bolsonaro dá match no perfil de liderança fascista traçado por Stanley. Na base de tudo, a mitificação do passado e seu uso para controlar o presente: a ditadura é a ordem perdida a ser recuperada. A política é oculta sob imperativos morais: “Campanhas anticorrupção estão frequentemente no cerne de movimentos políticos fascistas” e os conduzem ao poder por eleições. O anti-intelectualismo garante o discurso da nação, “atacando e desvalorizando” a universidade e todo tipo de educação que não leve ao reforço de ideias dominantes — estudos de gênero, por exemplo, são duplamente indesejáveis, pois questionam a família patriarcal e geram a “ansiedade sexual” manifesta no preconceito.

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domingo, 18 de outubro de 2015

Lançamento de coletânea "O Meu Lugar", sobre os bairros do Rio, movimenta a Livraria Al-Farabi...






O lançamento de "O Meu Lugar" movimentou ontem a Livraria Al-Farabi, na Rua do Rosário, no Centro Histórico do Rio. Com crônicas de 34 escritores, jornalistas, pesquisadores e compositores, a coletânea tem seu título e alma inspirados na música "O Meu Lugar", de Arlindo Cruz e Mauro Diniz, sobre o bairro de Madureira. Cariocas e adotados pela cidade escrevem sobre os territórios que marcaram suas vidas. Organizado pelo historiador e escritor Luiz Antônio Simas e pelo jornalista e escritor Marcelo Moutinho, o livro revisita universos como Tijuca, Estácio, Madureira, Ipanema, Leblon, Realengo, Bangu e Botafogo.
Entre os autores, pelo menos quatro jornalistas que passaram pela Manchete e EleEla, como repórteres ou colaboradores. Álvaro Costa e Silva, o Marechal, no capitulo "O Castelinho de Lili", sobre a Glória; Fernando Molica, sobre Piedade;  Hugo Sukman, que escreve sobre o Humaitá; e Luis Pimentel, sobre Copacabana. Coube a José Trajano falar da Tijuca, Vila Isabel ficou com Aldir Blanc e Nei Lopes recordou Irajá e Paulo Roberto Pires, Muda e Penha. Rodrigo Ferrari, fundador da livraria e edições Folha Seca, escreveu sobre Maracanã. O compositor Paulo César Pinheiro, autor da orelha, se confessa um andarilho que passou por vários bairros do Rio e agradece aos idealizadores do livro a viagem de relembranças e saudades. O lançamento foi com roda de samba e cerveja, como merece um livro que nasceu em mesa de bar. "O meu lugar" é um lançamento da Mórula Editorial.

O fotógrafo Sérgio Fonseca fez um vídeo da roda de samba na rua do Rosário. 
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