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sábado, 8 de julho de 2023

O Trio do Rock, 53 anos depois • Por Roberto Muggiati

 

O Trio do Rock em 2023. No dia em que deram depoimentos para o
documentário Janis - Amores de Carnaval, Roberto Muggiati e João Luiz Albuquerque reencenaram foto "clássica" com Ricky Ferreira 

no lugar de Renato Sérgio (foto original, acima, o trio no Free Jazz de 1986)

Foi através de João Luiz Albuquerque conheci Ricky Ferreira, quando ele publicou na Manchete as fotos que fez de Janis Joplin no Rio logo depois do Carnaval de 1970. 

Janis Joplin, Praia da Macumba, 1970. Foto de Ricky Ferreira

Janis na Presidente Vargas, desfile das escolas de samba, 1970

Janis na coletiva pós-Carnaval na pérgola do Copacabana Palace:
de pé à sua esquerda, Ricky Ferreira; sentado, o americano David Niehaus,
que se tornaria seu namorado no Brasil

A revista deu as fotos como um insight exclusivo na ocasião da morte da cantora, em 4 de outubro de 1970. Ciceroneando Janis pelo Rio, Rick fotografou a roqueira transgressora topless na Praia da Macumba, encorajada por alguns goles de um veneno chamado Fogo Paulista. Vivíamos os Anos de Chumbo, período de total proibição da liberdade de expressão, que levou os opositores da ditadura à clandestinidade, iniciada com os espetaculares sequestros de embaixadores no Rio de Janeiro: o americano em setembro de 1969; o alemão, em junho de 1970; e o suíço, em dezembro de 1971. (Houve ainda o sequestro do cônsul japonês em São Paulo, em março de 1970.)

A maioria dos intelectuais não pegou em armas, mas agiu nas redações e universidades municiada das palavras, no movimento da contracultura, que tinha no rock uma das suas principais armas. Eu havia lançado meu primeiro livro em dezembro de 1968, uma semana antes do AI5, Mao e a China, o último livro que o capitão Lamarca leu antes de ser fuzilado no sertão baiano em setembro de 1971, morrendo com ele o breve espasmo de resistência armada contra o regime militar. 

Sem poder abordar temas políticos, comecei a escrever sobre o rock. Publiquei na Manchete o obituário de Jimi Hendrix. Carlos Heitor Cony não me conhecia, mas gostou tanto do texto que me levou para a chefia de redação da EleEla, da qual era o editor. Sobrava tempo na redação da mensal “masculina” – sem mulheres nuas, mas de biquínis largos, como exigia a censura militar. Cony aproveitou para escrever aquele que considerava seu melhor romance, Pilatos. 


Publiquei lá uma matéria sobre “sexo, drogas e roquenrol”. Ampliei o texto num tom mais ensaístico na revista Planeta, saiu em 1973 com a chamada de capa ROCK: O GRITO E O MITO. Daí para o livro foi um passo: meu colega de redação Mário Pontes dividia com Rose Marie Muraro a programação editorial da Vozes, que lançou, ainda naquele ano, Rock: o grito e o mito/A música pop como forma de comunicação e contracultura. Teria quatro edições, a 3ª e a 4ª atualizadas em 1981, após a morte de John Lennon. 

Depois da publicação das fotos da Janis na Manchete, João Luiz e Ricky passaram a frequentar meu apartamento, onde projetávamos slides recém-chegados dos festivais de rock pelo mundo e ouvíamos os últimos LPs (um must era o letárgico In a Gadda da Vida do Iron Butterfly, 17 minutos, ocupando todo um lado do vinil, 

https://www.youtube.com/results?search_query=IRON+BUTTERFLY+-+IN+A+GADDA+DA+VIDA+-+1968+(ORIGINAL+FULL+VERSION)+CD+SOUND+%26+3D+VIDEO+-+YouTubeçam AQUI

Entrei o ano de 1972 em Nova York, numa visita a Ricky e Tânia, que moravam no Village, na Christopher Street, onde ficava o pub Stonewall Inn, local da primeira confrontação entre gays e policiais, em 1969, que se tornou um ícone da cultura LGBTQ+. O tempo e nossos novos casamentos nos separaram. A Manchete acabou, meus encontros com João Luiz rarearam e também com Ricky, que partiu para Araras e se enfurnou na Serra até hoje. 

Foi Janis Joplin quem nos reuniu 53 aos depois da formação do trio. (Janis que teria hoje 80 anos, já imaginaram?) A produção do longa documental Janis: Amores de Carnaval, dirigido por Ana Isabel, programou com esses “três cavaleiros do Após-calipso” – ou quixotescos “da triste figura” – uma jornada de entrevistas na tarde morta da sexta-feira, 30 de junho, último dia da metade do ano, no Salão Assírio do Theatro Municipal, não podia haver décor mais surreal. Piadistas visuais, João Luiz e eu reencenamos uma foto feita durante o Free Jazz de 1986, com Ricky ocupando o lugar do saudoso Renato Sérgio. E vamos em frente, remando contra corrente...



terça-feira, 5 de abril de 2022

Memórias da redação - O trio elétrico da Manchete • Por Roberto Muggiati

FUNDO INFINITO • Renato Sérgio, João Luiz de Albuquerque e Roberto Muggiati. No 2º Free Jazz Festival, em 1986, Manchete montou, no Hotel Nacional, um estúdio para fotografar em alto estilo os músicos participantes, destaques para Gerry Mulligan, Wynton Marsalis, Stanley Jordan e The Manhattan Transfer. O “Trio Elétrico” pegou carona...

Foto: Lena Muggiati


Dava prestígio trabalhar na maior revista ilustrada do país. Já salário era outra história. À falta de uma política salarial na empresa, cada jornalista tinha de lutar pelo seu num indigesto corpo-a-corpo com o dono da empresa, Adolpho Bloch. A maioria não tinha sequer acesso ao capo. Como Adolpho mandava também no conteúdo editorial das revistas, não havia na Bloch aquelas disputas de facções – as famigeradas “!panelinhas” – que ocorriam nas revistas da Abril ou nas redações de O Globo e do Jornal do Brasil. Eu não me dava conta então, foram precisos 35 anos até a falência em 2000, e a sequência do novo milênio, para chegar à percepção cristalina do quanto eu fui rico na Manchete. Rico em amizades. O ano e meio que passei na Veja em São Paulo me fez ver como a Manchete era um espaço democrático. Na redação no oitavo andar do prédio na Marginal do Tietê, eu ocupava um pequeno escritório fechado com vista para o rio lamacento, totalmente apartado da minha equipe de seis subeditores e doze repórteres, que se comprimiam nas “baias” – cubículos separados por divisórias de Eucatex de dois metros de altura. Já a redação da Manchete, também no oitavo andar, era aquele salão aberto com a fachada de vidro voltada para a entrada da baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar de sentinela à direita, o azul do céu e do mar – como escreveu nosso repórter-letrista, “é sol, é sal, é sul.”  A redação ocupava 80% da metade fronteira do andar, entre os escritórios do Adolpho e do Jaquito em cada extremidade, separados de nós apenas por uma divisória de vidro. 

Todo mundo passava por aquele bordel. Os patrões vinham bisbilhotar nosso trabalho e dar palpites. Coleguinhas das revistas femininas vinham fofocar e jogar conversa fora. Uma delas, a simpática Laura Taves, sentou um dia na Ponte Aérea ao lado de um dos donos da Abril, meses depois se tornava a nova Sra. Roberto Civita. Como presente de casamento, ganhou a editora de temas feministas Rosa dos Tempos, com assessoria editorial de Rose Marie Muraro, que vivia na redação da Manchete em conchavos feministas com a Heloneida Studart. Justino Martins imperava na grande mesa de edição em L, sua sala de visitas. Recebia preferencialmente mulheres. As jovens amigas Lúcia Sweet e Fernand Bruni eram um colírio para os olhos. A baiana Raimunda Nonata do Sacramento, mais conhecida como Luana, nascida no Curuzu, em Salvador, primeira manequim negra brasileira, sucesso chez Paco Rabanne, Dior e Chanel, casou-se com o Conde de Noailles, uma das cepas mais nobres da aristocracia francesa. Regina Rosemburgo Lecléry visitou Justino na véspera do seu embarque para Paris no avião da Varig que se incendiou a poucos quilômetros do aeroporto de Orly em 1973. O cineasta Pierre Kast, o escritor Jean Genet e o “Clint Eastwood dos pobres”, Anthony Stephen, filho do Barão de Tefé,  também batiam o ponto na redação. Contei aqui outro dia do Nélson Rodrigues, que entrava saudando Adolpho como “o Cecil Bê De Maille (sic) do jornalismo!” Jô Soares, sem dizer palavra, pegava o Adolpho e saía valsando com ele pelo piso de tábuas corridas de madeira nobre. Um dia, Magalhães Jr. me apresentou a Agripino Grieco. Olhando para minha testa larga que já antecipava a calvície, o grande aforista disparou: “Que belo salão de baile para as ideias!” Vinha também, com uma assiduidade enervante, o Francisco Augusto Nascimento – que faturou milhões com o craque Grão de Bico nas pistas de turfe americanas – arrancar deste escriba um nome esperto para batizar um novo cavalo do seu haras em Itaipava. Depois de nomes literários como Jezebel, Iago, Rosencrantz e Suetônio, chutei um Cavalo de Crista. Não sei se o Chico percebeu a alusão à doença venérea; acabou chamando o potro de Capitão Jair, menção a um obscuro deputado iniciante. O pobre do animal jamais chegou entre os dez primeiros sequer.

Em 1975 assumi a direção editorial da Manchete no lugar do Justino. João Luiz de Albuquerque era meu chefe de reportagem, assistido pela dupla dinâmica João Resende e Suzana Tebet. Os Bloch inventaram uma reunião de pauta semanal com o pleno ampliado: a participação obrigatória dos editores de todas as revistas da casa. Cada qual tentando vender o seu peixe à custa da Manchete. O editor de Manchete Rural propunha matéria sobre uma nova vacina contra a febre aftosa, e por aí vai. João Luiz secretariava. Diplomaticamente, eu nunca rejeitava explicitamente uma sugestão: “Vamos ficar de olho.” João Luiz anotava. Eram tantas as sugestões que ficavam de olho que ele bolou um carimbo, aquele olho-lâmpada dramático que ocupa o ponto focal da tela de Picasso “Guernica”. Acabei adotando esse carimbo como meu ex-libris. “Fique de olho”, o lema perfeito para um jornalista. 

Em nossos telefonemas, João Luiz e eu adotamos espontaneamente um cacoete. Um se apresentava com o nome esdrúxulo de um músico de jazz. O outro respondia à altura, fonética e jazzisticamente.

– Olá Ike Quebec!

¬ – Tudo bem, Illinois Jacquet?  

[Bedroom tenors > saxofonistas de alcova] 

– E aí, John Robichaux? 

– Tudo em riba, Alphonse Picou.

[Músicos Creoles de Nova Orleãs.]

– Alô, Pony Poindexter!

– Beleza, Conte Candoli!

[Músicos da banda de Stan Kenton.]        

–  Como vai você, Phil Urso?

–  Levando, levando, meu caro Vido Musso.

[Saxofonistas tenores.]

Já com Renato Sérgio, nosso brilhante redator de assuntos culturais, a troca telefônica era minimalista. Mantínhamos uma espécie de shibboleth, uma senha binária, calcada no grito de guerra da Banda de Ipanema.

– Yolhesman!

– Crisbeles!

Ou, na contramão:

– Crisbeles!

– Yolhesman!

O lema da Banda de Ipanema não significava absolutamente nada, foi tirado por um de seus fundadores da pregação de um maluco que vendia bíblias na Central do Brasil. Na verdade, ficou sendo, naqueles tempos sombrios da ditadura militar (a Banda foi fundada em 1964 e saiu pela primeira vez no Carnaval de 1965), uma versão tropical do grito do anjo do Apocalipse.

Enjoado de tudo isso que anda por aí, Renato Sérgio nos deixou há dez anos – o velho e bom paulistano que, segundo José Esmeraldo Gonçalves tinha “um certo e saboroso jeito carioca de ver a vida”.

Depois de uma longa e tenebrosa pandemia, que ainda perdura – nós dois de máscara na livraria Argumento no lançamento do livro de Márcio Pinheiro sobre o Pasquim – reencontrei o João Luiz, protegido por suas guarda-costas de estima, as filhas Gabriela e Cristina. Trocamos mil e uma figurinhas dos tempos da Bloch e ele me contou histórias incríveis dos passeios com Adolpho Bloch no seu bugre. “E eu quero andar na sua baratinha,” disse Adolpho ao ver o buggy do João Luiz diante do prédio do Russell. Mas isso quem pode contar com a devida galhardia é só o próprio João Luiz. Vamos lá, ao teclado, Ferdinand Joseph La Menthe!...

domingo, 7 de julho de 2019

Fotomemória: nesta foto histórica da Bossa Nova está faltando ele...

Beco das Garrafas, 1969: a Bossa Nova comemora 10 anos e Manchete reúne compositores, cantores e instrumentistas.
Foto de Gil Pinheiro 


Manchete publicou essa foto em 1969. Foi feita por Gil Pinheiro. A Bossa Nova comemorava 10 anos e a revista reuniu cantores, compositores e instrumentistas que faziam o Brasil e o mundo cantar.

Neste 2019, completam-se 60 anos de uma data marcante da cultura brasileira, que, quis o destino,  coincide com a partida de João Gilberto, sua pedra fundamental.

O texto de abertura da matéria (de Renato Sérgio e João Luiz Albuquerque) vaticinava a força histórica daquela imagem.

"Esta foto será preciosa no futuro. Ela mostra vários dos principais responsáveis pela mais importante revolução já feita na música popular brasileira - a criação, a consolidação e o desenvolvimento da Bossa Nova. Ao completar 10 anos de vida, já alcançou uma rápida maturidade, abriu o mercado internacional aos artistas brasileiros e deu origem a outros movimentos jovens. Três gerações reuniram-se no Beco das Garrafas, em Copacabana, e relembraram os tempos em que ali e na casa de Nara Leão,a madrugada carioca começou a ouvir a batida diferente do violão de João Gilberto, a música gostosa de Antônio Carlos Jobim e os versos claros de Vinícius de Moraes - a gênese da Bossa Nova". 

Os três últimos estão na matéria, mas não aparecem na foto antológica - era uma época em que os compromissos internacionais eram intensos. A reunião do exército da BN também valorizava os instrumentistas, menos conhecidos do grande público, mas essenciais ao movimento musical.

A legenda da foto que a Manchete publicou em página dupla registra as presenças: Elis Regina, Menescal, Marcos e Paulo Sérgio Vale, Tito Madi, Chico Feitosa, Luizinho Eça, Luís Carlos Vinhas, Candinho, Mário Castro Neves, Dóris monteiro, Durval Ferreira, Luís Freire, Miéle & Bôscoli, Mário Telles, Giovanni, Egberto Gismonti, Dori Caymmi, Antonio Adolfo, Tibério Gaspar, Edson Machado, Maciel do Trombone, Roberto Nascimento, Maurício Einhorn e Armando Pittigliani, este o produtor musical que era um descobridor de talentos.


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A Melhor da Galáxia era uma fábrica de apelidos. . .

Por Roberto Muggiati
Fotos Acervo RM

A arte de brincar com as palavras sempre foi uma verdadeira obsessão nas redações de Bloch Editores, em particular na Manchete (que sobrevive, 65 anos depois de sua criação, nesse apetitoso blog Panis Cum Ovum). Não saciados em escrever suas matérias e jogar conversa fora nos corredores, redatores e repórteres se aplicavam em criar apelidos, numa atividade tão espontânea e natural como o próprio ato de respirar.

Primeiro, preciso explicar a origem do apelido “a melhor da galáxia” para designar a Manchete.
Adolpho Bloch não suportava o sucesso de Justino Martins, embora Justino, um dos maiores
“revisteiros” do Brasil, tivesse tirado a Manchete do limbo em que ela viveu em seus primeiros oito anos e a transformado na maior revista do país. No final da década de 1960, Adolpho tirou o “Índio” – como chamava o Justino – da direção da revista, mas a manobra não deu certo. Justino voltou à direção da Manchete em alto estilo no início dos 1970. Em 1975, Adolpho defenestrou Justino de novo e colocou este que vos escreve na direção da revista. Para botar panos quentes na história, prometeu ao Justino uma tarefa maior – a direção de uma revista de decoração e jardinagem – e ofereceu-lhe uma megafeijoada de despedida no restaurante do terceiro andar, um evento para quatrocentos talheres. Entre os convidados de honra estava JK – o ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – que ganhara de Adolpho um escritório nobre no prédio da Manchete e ocasionalmente assinava resenhas de livros na revista. JK tomou a palavra e decolou: “És um homem feliz, Bloch. Tens a melhor revista do Brasil. Indisputavelmente da América Latina; tens a melhor revista do mundo – quiçá da galáxia!” O regabofe foi na terça-feira, um dia menos tenso: a Manchete fechava na segunda-feira e ia às bancas na quarta. Nas manhãs de quarta aguardávamos ansiosamente os exemplares da revista que vinham da gráfica em Parada de Lucas. No dia seguinte à feijoada, Alberto de Carvalho, nosso assistente de redação – título que não queria dizer nada e dizia tudo – adentrou a sala com aquela ginga de carioca do Estácio e perguntou: “Já chegou a melhor da galáxia?” A partir daí a Manchete ganhou um de seus codinomes mais nobres, cunhado por um ex-Presidente da República.

Alberto chamava a todos afetuosamente de Professor de Astúcia. Os apelidos eram incontáveis. Entre os contínuos, conhecidos como “siris”, havia o Sammy Davis Jr. – era até caolho como seu sósia – e o Tim Lopes, com seus cabelões à moda do famoso cantor Tim Maia. O rapaz saiu da Manchete, estudou jornalismo e, como Tim Lopes, se tornou o mártir da reportagem que todos conhecem.

Ainda outro contínuo foi apelidado de Pablito Cubano pelo chefe de reportagem João Luiz de Albuquerque. O João desconfiou que conhecia a cara do rapaz de algum lugar, fuçou umas revistas antigas e descobriu que ele era o menino que viajou clandestino no trem de aterrissagem de um avião do Galeão para Havana, por admiração a Fidel Castro, que tinha acabado de fazer sua revolução em Cuba.

A fotografia também tinha seus apelidos. Frederico Mendes – nosso Woody Allen de plantão – passou a ser O Encucadinho. Dois “retratistas” reconhecidamente bem dotados se tornaram Tromba e Tripé (apelido que se referia também a uma das ferramentas de trabalho). Jovenzinho, Ayrton Camargo Jr foi seduzido pela Márcia Ramalho e passou a ser chamado de Ayrton Ramalho; o mais incrível na sua trajetória e que tempos depois ele se juntou com uma mineira de Rio Casca que faria sucesso em Los Angeles como Rainha do Anal no cinema pornô com o nome de guerra de Elle Rio. E o laboratorista Claybom? Detestava margarina, mas era de origem francesa e se chamava Clement... O primeiro fotógrafo a fazer um selfie voando de asa delta, nos anos 70, tinha um sobrenome complicado: Paulo Scheuenstuhl virou Paulo Chuchu – aliás, era alto, atlético e agradava às moças. Voltando ao Tripé: ele viveu um episódio que acabaria em apelido, também. Foi designado para fotografar o ator e diretor teatral Ziembinski. A empregada o encaminhou para a biblioteca, imensa, onde Ziembinski estava pendurado no alto de uma escada à beira de um ataque de nervos. Viu o Tripé chegar e desabafou: “Meu filho, quando procuro um livro e não consigo encontrar, isso me dá uma vontade louca de dar o rabo...” O Tripé encontrou uma desculpa qualquer e se mandou. E essa versão masculina de TPM foi batizada por um intelectual da Manchete de Síndrome do Ziembinski. Outra grande figura era o Sérgio de Souza, o Serjão, um dos melhores fotógrafos de futebol. Certa vez recebeu duas ordens de serviço para o mesmo horário, 14 horas; uma em Niterói, outra na Barra. Indignado, Serjão correu para o chefe de reportagem com as ordens na mão: “Cara, olha só aqui, eu não sou onipotente, não!”

Depois da Revolução dos Cravos em Portugal, Adolpho acolheu na empresa vários lusitanos desgarrados, entre eles um fotógrafo de origem aristocrática, Antônio D‘Atoughia, que ficaria conhecido como o Conde; e Lúcio Macedo, apelidado de Salazar por ter sido o fotógrafo oficial do ditador deposto. Um destes era um senhor gordote e pedante que cuidava da portaria e, por sua semelhança física com o ratinho famoso, ganhou o apelido de Topo Giggio. Tempos depois, a Bloch contratou um plano de saúde barato para os funcionários do baixo escalão, praticamente inaugurado com a morte do Topo Giggio.

Alguns redatores já vinham com apelido: desconheço a origem do Jacaré do Irineu Guimarães; já o Pato Rouco do Ivan Alves era mais fácil de detectar.

Eremita, Cony e Tia Zeffa. 

Quando Adolpho Bloch presidiu a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, promoveu a apresentação de uma série de óperas famosas, coroada pela Traviata dirigida por Franco Zeffirelli, que gostava de frequentar a redação. Já nos primeiros dias, ganhou a alcunha afetuosa de Tia Zeffa. Eu mesmo, como editor da revista e mergulhado em problemas de venda, gestão e jornalismo, passei a ser o Muggi das Crises (a cidade de Mogi das Cruzes, não lembro por que, estava em evidência na época). Nos tempos da longa barba, o Alberto me chamava também de Eremita. Já o Justino era o Lafra – de “lafranhudo”, xingamento do arco da velha com que foi brindado, sob golpes de guarda-chuva, pela crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, por não ter publicado um texto dela.

Alberto tinha uma sensibilidade especial para a música das palavras. Quando o Durval Ferreira, repórter de São Paulo, trouxe uma matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, pontificou o nome do coronel Palimércio de Rezende, um dos primeiros oficiais negros do exército brasileiro. Meu filho estava para nascer, ainda não tinha um nome escolhido, e o Alberto perguntou: “Quando é que chega o Palimércio?” A partir daí, todo bebê da redação passou a ser Palimércio ou Palimércia.

Outro apelido, altamente sofisticado, que saiu para fazer sucesso fora da Manchete, foi o do senador Marco Maciel: Mapa do Chile.

O Adolpho vivia às turras com um funcionário dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Da noite para o dia, ele virou Pseudônimo. Na época, as notas mais descontraídas e curtas da seção Leitura Dinâmica eram assinadas por pseudônimos, para evitar repetição de assinatura do mesmo redator. Lembro de alguns desses codinomes, que na verdade eram verdadeiros autoapelidos: Niko Bolontrim (Ney Bianchi), José Bálsamo (Cony), Jean-Paul Lagarride (Justino Martins), Acácio Varejão e, o mais curto de todos, Ed Sá (Ruy Castro). [O Ruy foi justamente interpelado por uma redatora nova, Marilda Varejão, sobre a escolha daquele codinome. “E existe algum Acácio Varejão?”, retrucou ele na defensiva. E Marilda, indignada: “Existe, sim! É o nome do meu pai.”] Um dia, um delator premiado (a Bloch foi pioneira também nessa instituição do momento) emprenhou o Adolpho pelo ouvido, alegando que pseudônimo não era jornalismo. O capo investiu então com toda fúria na redação: “Quero que parem imediatamente com esses possidônios!...”

Festa de meus 40 anos com Moët-Chandon: Layrton Cabral (Lalá), Antonio Rudge,
o Eremita, Justino, Wilson Cunha, ao fundo Murilinho. 

Adolpho dizia para o Alberto: “Você é inteligente, porra! Se tivesse diploma seria diretor da Manchete...” De meados dos anos 60 até o amargo fim da revista, em agosto de 2000, Alberto foi sempre a sombra (benfazeja) do diretor da Manchete, fosse quem fosse. (Eu fui o que mais tempo se sustentou no pau de sebo, para lá de vinte anos.). Ele sugeria títulos de matérias instantâneos e
vencedores. Para uma reportagem científica sobre bebês que eram botados para nadar assim que saíam do ventre materno: QUEM NÃO NADA, NÃO MAMA. No auge da fama do Rei da Canção e do Rei do Futebol, reunimos os dois numa capa. Desta vez, o título do Alberto não foi publicado, por ser politicamente incorretíssimo: O REI E O PERNA-DE-PAU.

No Santa Genoveva, com direito a escultura de Krajcberg, 1997.
A arte do Alberto não se restringia a apelidar só pessoas. Em 1996, fui destituído da direção da Manchete e ganhei um novo cargo com o nome pomposo de Editor de Projetos Jornalísticos. O afastamento também foi geográfico: me exilaram para uma sala imensa, um andar inteiro, a cobertura da terceira fatia do prédio do Russell, à qual se tinha acesso através de uma escada em caracol (que, felizmente, impedia a visita da chatos idosos ou lesados...). Mauro Costa, também destituído da chefia de reportagem da TV, foi ocupar um espaço daquele latifúndio. Pois o Alberto apelidou o local imediatamente de Santa Genoveva – alusão ao asilo de idosos que praticava maus tratos contra os pacientes, fato que chocou o Brasil e só foi descoberto por acaso no rastro de uma daquelas grandes enchentes cariocas.

eresópolis, 8-10-1977, sábado, aniversário do Adolpho: Machadinho,
Wilson Cunha, Heloneida Studart, o Eremita, Flávio de Aquino,
Ceres Feijó, Célio Lyra.

O próprio Adolpho Bloch dava a sua contribuição aos apelidos, às vezes de forma indireta ou
involuntária. Uma dia chegou da gráfica em Parada de Lucas e plantou um jovenzinho franzino na sala de redação: “Ele é um gênio. Vai trabalhar com vocês. Como escreve!” E, exagerando nos elogios: “É um verdadeiro Machado de Assis!” Antônio Roberto é conhecido até hoje como “Machadinho” e colegas da época ainda não esqueceram sua estreia literária. Fã ardoroso de Carlinhos de Oliveira, ele escreveu uma crônica sobre um operário que vinha todo dia cedo para trabalhar na cidade. Logo no início do texto, mencionou a “hedionda marmita”. Até hoje não perdoaram a Machadinho o hediondo adjetivo. Em pouco tempo, ele passou a competir com o maître Severino Ananias Dias fazendo discursos nas grandes ocasiões da casa – discursos que o Cony, com sua ironia de sempre, dizia que eram comissionados “em nome da redação da Manchete”. Foi num destes, um aniversário do Adolpho, que o Severino cunhou um adjetivo inolvidável, referindo-se à “figura inevolúvel de Adolpho Bloqui”. . .

Ruy Castro (Ed Sá) e Narceu de Almeida (Capelinha) em 19-12-72.
Pedro Bloch, que na verdade apelidou a própria revista – sugeriu a Adolpho que a chamasse de
Manchete, lembrava uma manchete de jornal e também imitava a sonoridade de Paris-Match, a maior revista da época. Teatrólogo e fonoaudiólogo, Pedro cuidou de um fotógrafo com problemas de fala que Adolpho mandou para se tratar com ele – e, de saída, o apelidou de João Farofa.

Quando o redator Narceu de Almeida resolveu largar tudo e partir para a vida alternativa na Região dos Lagos, sob a égide dos colegas Cabral e Maciel, ambos Luís Carlos, Jaquito sabia que não ia dar certo e comentava conosco: “O Narceu foi jogar pingue-pongue contra o vento...” Depois de um tempo, Narceu voltou e Jaquito o colocou em regime de free-lancer: o pagamento por matéria redigida, em vez do trabalho assalariado, tornava o redator mais produtivo e mais ágil. Orgulhoso da sua artimanha, Jaquito dizia: “Agora sim, o Narceu está correndo atrás!” E o apelidou de Capelinha, em alusão à marca dos taxímetros da época.

Havia uma recomendação aos novatos que fazia sucesso na redação da Manchete e devia ser escandida, com ênfase nos trocadilhos, em ligeiro sotaque iídiche:  "Se você desobedecer a ordem que Adolpho deu, e aquela que Jaquito havia dado, o Oscar ralha.”

Entre os autores de chistes mais antigos da Manchete, o repórter Ronaldo Bôscoli, que Nelson Motta chamou de “a língua mais rápida de Ipanema, um gênio da maledicência”, notabilizou-se pelos apelidos corrosivos que dava aos seus desafetos. Alguns exemplos: Sérgio Mendes (“compota de monstro”), Antônio Maria (“eminência parda da MPB”), Maysa (La Gorda), Elis Regina (“Vesguinha”). O apelido do próprio Bôscoli era Veneno. É bom lembrar também o fabuloso Nelson Rodrigues, que escrevia na Manchete Esportiva e criava apelidos os mais exóticos. Chamou Cláudio Mello e Souza, editor de Fatos&Fotos, de O Remador de Ben-Hur. Um dia eu vejo o Nelson adentrando a redação e saudando Adolpho Bloch como “Como vai este Cecil B. DeMille das revistas!” (pronunciando o DeMille como DeMaille). Sérgio Porto, colunista da Manchete, que apelidou a si mesmo de Stanislau Ponte Preta, fez do redator Raymundo Magalhães Jr um alvo predileto. O escritor e acadêmico fazia questão de assinar seus escritos como R. Magalhães Jr. Sempre que Sérgio entrava na redação e via o Magalhães batucando com dois dedos na Remington, gritava: “Erre, Magalhães Jr!” Ou gozava da sua baixa estatura: “Toda vez que o Magalhães pega uma caixa de fósforo as pessoas pensam que ele vai
viajar...”

Raul Giudiccelli, outra das línguas mais ferinas da Bloch, fez toda uma catilinária em cima do Ledo Ivo, poeta e redator. Só lembro esta: “O professor deu zero para o Ledo Ivo e ele foi se queixar que a nota não era justa. O mestre explicou-se com o Ledo: – Desculpe, meu filho, mas não tinha nota mais baixa do que o zero...” Ainda em relação ao Ledo Ivo, o Cony retificou o clichê “ledo engano” para “ledo e ivo engano”, usado até hoje por Cony e outros escribas.

A Santa Ceia em cor: Alberto, Ivan, Cunha, Flávio, ao fundo Sammy Davis Jr,
Eremita, Heloneida, Magalhães, Passos, Argemiro, Pedrão, Ney, Cony, Irineu.

Voltando ao Alberto: lendo agora o livro de contos inéditos de Scott Fitzgerald, I’d Die For You,
publicado 77 anos após a morte do autor, encontrei uma personagem – típica serelepe dos anos 30 – chamada Trouble, que só se poderia traduzir, é claro, por Encrenca. Pois sempre que aparecia na redação uma daquelas que a gíria do malandro chamava de “chave de cadeia”, o Alberto se referia a ela como Encrenca.

Almoço para Lula no Russell na véspera da votação do 2º turno, sábado 16-12-89.
Teria sido na Manchete que Brizola pela primeira vez chamou Lula de "sapo barbudo". 

Não faltaram encrencas na história da Manchete. Uma que mais fez jus ao apelido foi a produtora de moda de sobrenome Guerra que deu um tiro no recém-chegado diretor de arte Serge Elmalan. O
coitado do Serge acabara de chegar da França com mulher e cachorro e se instalara num
apartamento no Lido. Sofreu o imediato assédio e atração fatal da Guerra e levou um balaço.
A bala ficou alojada num ponto melindroso da região do ombro e teimava em não sair. Adolpho não hesitou: mandou o Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra, levando o atendimento para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira que acompanhará o Serge em suas andanças pelo mundo até o fim dos seus dias. Um parêntese para dar uma ideia de quem era Serge Elmalan. Convidou-me uma noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento. Quando adentrei a sala, lá estavam a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em La Piscine) e Gilberto Tumscitz e sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Outra Encrenca que fez nome na Manchete foi Marisa Raja Gabaglia (1942-2003). Fomos colegas na reportagem de Frei Caneca em 1966. Inteligente, neurótica, sedutora, fez sucesso como cronista, seu livro Milho Para a Galinha Mariquinha virou best seller. Foi repórter da TV Globo por dezoito anos, fez novela com Tônia Carrero. Marisa teve uma paixão fulminante pelo cirurgião plástico Hosmany Ramos, ex-assistente de Ivo Pitanguy, que de repente partiu para uma surpreendente carreira criminosa e, depois de várias fugas, está preso até hoje. Marisa foi pioneira do Amor bandido, título do livro que publicou em 1982 sobre sua relação com Hosmany.

Vou parando por aqui, porque “a melhor da galáxia” é como aqueles vampiros velhos que – mesmo com bala de prata e estaca no peito – se recusam a morrer.
 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Ira Etz: musa dos verões do Arpoador lança livro de memórias. Hoje com 80 anos, ela foi capa da Manchete em 1959, ao lado de João Gilberto

Ira Etz e João Gilberto na capa da Manchete em 1959. 

Ira, hoje, no Arpoador. Foto Divulgação
No livro "Ela é carioca - Uma enciclopédia de Ipanema", Ruy Castro dedica um verbete a Ira Etz, mito e musa do Arpoador em 1959.

Segundo Ruy, Justino Martins, diretor da Manchete, mandou fazer uma reportagem de capa com João Gilberto no Arpoador. "Justino sabia que uma foto do pálido cantor dificilmente faria com que as grandes massas se digladiassem para comprar a revista. A solução era deixar João Gilberto num canto da capa e colori-la com uma garota que tivesse a ver com a história", escreveu Ruy, que trabalhou na Manchete e Fatos & Fotos.

E assim foi feito. O destaque na capa era Ira Etz, então com 22 anos.

Ontem, na Argumento do Leblon, Ira lançou um livro de memórias pela ID Cultural.

Em parceria com o jornalista Luiz Felipe Carneiro, Ira visita suas memórias às vésperas de comemorar 80 anos e compartilha com os leitores uma vida cosmopolita e marcadamente carioca.

O nome do livro não poderia ser outro: "Ira do Arpoador", que resume vida, vidas e verões de quem conviveu com personagens de Ipanema como Tom Jobim, Nara Leão, Rubem Braga e Marina Colassanti (de quem namorou o irmão, Arduíno) e Millôr Fernandes, além de João Gilberto.

O prefácio do livro é de outro jornalista ligado à antiga Manchete: João Luiz Albuquerque.

E na contracapa, Ruy Castro que, segundo ela, foi um incentivador da biografia, escreve: "Só Ira Etz poderia ter vivido a vida de Ira Etz. E como sabemos agora, só ela poderia contar sua história. O resultado é este livro, que nos remete aos grandes verões cariocas que Ira estrelou e às areias onde deixou sua marca para sempre”.


sábado, 6 de abril de 2013

Deu no Globo: o dia em que João Luíz Albuquerque jogou no Politheama ao lado de Chico Buarque e Bob Marley

Foto reproduzida de O Globo
por Gonça
O Globo de hoje publica matéria de Leonardo Lichote sobre o Politheama, o time de pelada de Chico Buarque, que há 35 anos joga no Centro Recreativo Vinicius de Moraes, o "estádio- alçapão" do escrete de amigos do compositor. Além do Chico, Carlinhos Vergueiro, Silvio Cesar, Vinicius França, Fagner, Jorge Vercílio, Ruy Faria e outros artistas vestem ou já vestiram a camisa do Politheama. Uma das fotos que ilustram a reportagem "Um Time que Transpira Música" mostra uma formação especial que entrou em campo em 1980. A legenda identifica apenas Bob Marley, agachado à direita, ao lado de Chico e Paulo Cesar Cajú. De pé, no meio, está o cantor  e compositor Toquinho. O simpático gordinho à direita, braços cruzados e pinta de zagueiro, boa parte da audiência deste blog conhece. É João Luíz Albuquerque, que foi correspondente em Nova York, repórter e redator das revistas Manchete e Fatos & Fotos. No livro "Ela é Carioca", o escritor Ruy Castro, outro ex-redator das duas revistas semanais da extinta Bloch, conta vários "causos" protagonizados por João Luiz. Uma dessas histórias, segundo Ruy, mobilizou o Antonio's, o lendário bar de Ipanema. Era 25 de janeiro, aniversário de Tom Jobim. Toca o telefone, um garçom atende e diz que era o secretário de Frank Sinatra. O cantor queria parabenizar o brasileiro. "Mas Tom não estava e o bar se alvoroçou: clientes grudaram-se ao telefone e puderam ouvir Sinatra, ao fundo, esbravejando com o secretário porque Jobim não vinha atender. Meia hora depois, João Luiz e o empresário Jackson Flores chegaram ao Antonio's. Só se falava no telefonema de Sinatra. A vontade de rir era enorme e eles tiveram de segurar-se - porque a ligação partira da casa de João Luiz, com Jackson fazendo o "secretário" e João Luiz fingindo-se de Sinatra. O suposto telefonema entrou para a lenda e já foi contado (a sério) em livros e reportagens. Tom e o Antonio's morreram sem saber a verdade", conta Ruy.