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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Renato Sérgio lança livro sobre o amigo Bráulio Pedroso

Uma das fotos do livro. Em São Paulo dos anos 1940, os amigos Renato Sérgio, Geraldo Carlos, Bráulio (camisa branca e gravata), Alberto (irmão de Bráulio, agachado), Mause (cunhada) e Junior (sobrinho). Escreve Renato: "Bastava-nos a leveza de viver quase sem problemas, à base de bolinhas de gude, biclicletas Peugeot, Gumex ou Glostora nos cabelos, entre inocentes bailinhos sem DJs, em casa de um e de outro". Foto: Reprodução do livro  "Bráulio Pedroso - Audácia Inovadora", de Renato Sérgio, editora Imprensa Oficial, São Paulo.
por Gonça
Renato Sérgio.
Foto:Reprodução
"São Paulo, metade dos anos 1940. Em meio à calmaria da época, o dia parecia ter mais de 24 horas. A cidade girava em 75 rotações e o bairro das Perdizes era nosso paraíso particular." São as primeiras linhas da Introdução do livro "Bráulio Pedroso - Audácia Inovadora", escrito por Renato Sérgio para a Coleção Aplauso Perfil (Imprensa Oficial). O "paraíso particular" ao qual o autor se refere era o território livre da adolescência que ele dividia com o amigo Bráulio. Ali começou a ser escrito esse livro. "Enquanto isso, lá no alto, na bucólica Rua Caiubi ainda sem nenhum espigão a arranhar-lhe o céu, um casarão funcionava como se fosse o refúgio quase diário do vazio de alguns de nós. Era ali que Bráulio morava". (...) "Foi quando juntamos nossas mesadas para comprar o celuloide, arrajamos um maquininha de filmar emprestada e, durante as férias escolares de junho, aconteceu uma adaptação de "Romeu e Julieta" em curtíssima-metragem, dirigida pelo Bráulio e na qual aquele primo da Julieta - Mercúcio ou Teobaldo? - que duela com Romeu e morre, era eu" - descreve Renato Sérgio. É deste ponto de vista, com uma lente precisa que só os mais amigos possuem, que Renato conta a vida e a obra de uma figura antológica da dramaturgia brasileira. Bráulio escreveu peças como "As Gralhas", "Lola Moreno", "A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato; e a TV não seria a mesma depois de suas novelas "Beto Rockfeller" "O Rebu", "O Bofe", "Feijão Maravilha", "O Cafona". Em todas, imprimia traços da sua ousadia. Como diz Renato Sérgio - que selecionou as frases abaixo - Bráulio "era a encarnação de um desafio autêntico, de uma audácia verdadeira, portanto sujeito a riscos permanentes. Ele era um grito pairando no ar".
Frases e/ou pensamentos de Bráulio Pedroso (há 20 anos ou mais)
- “Sou alguém à procura de alguma coisa que não sei bem o que é. E o pior é que não sei nem ao menos se quero encontrar.”
- “Em tenra idade, eu tinha resolvido me inventar escritor. Com a típica inconsciência macunaímica não me perguntei sobre o mistério de ligar uma palavra a outra. Bastava a intenção, que o resto -ai que preguiça!- viria depois. Daí, ao longo de minha vida, que já começa a ficar longa, passei apenas por quatro empregos e, em todos eles, o que eu fiz? Escrevi. Esta é a questão: escrever ou não escrever. Fora disso é não estar, é não ser. E condenado por uma invenção infantil, encontro-me muitas vezes de olhar fixo no teto do quarto, como se daquele limite surgissem personagens, dramas, comédias e outros tipos de bobagens que a palavra escrita pode registrar.
- “Eu tenho PhD de teto, especialização filosófica e doutorado no assunto. Aos 16 anos de idade, um dia quis levantar-me da cama e não consegui. Hoje as pessoas dizem que tenho uma cara muito jovem. Deve ser porque passei mais de 10 anos deitado de barriga pra cima, o que conheci da parte superior interna dos meus quartos, pouca gente conheceu. O teto é o limite, como também o infinito. Deixando porém a frescura metafísica e metafórica, o teto é a realidade, a falta de idéia, a sensação da inspiração esgotada.”
- “Durante muito tempo procurei ser agradável aos outros, até um dia em que levei um susto, quando comecei perceber que não era simpático. Tinha tomado consciência de que na minha imobilidade tinha mais mobilidade do que todos e isso, para eles, era uma agressão muito violenta. Daí o fato de eu ser desagradável para muita gente. É que eu sou o retrato da imobilidade deles.”
-“Se eu não fosse de uma geração ainda cheia de vícios masculinos, provavelmente seria um escritor bem melhor, porque no fundo daquilo que minha capacidade de criação produz há, inconscientemente, o fantasma da presença masculina, dominadora, tirana e prepotente”.
- “Para mim a telenovela é apenas um exercício de realismo e qualquer concessão, no caso, ocorreria pelo cansaço. Eu podia retirar da realidade alguma coisa, desde que fosse expressiva, mas com o cuidado de desmontá-la e juntá-la outra vez, já transformada. Para apreender a realidade é preciso reinventá-la.”
- “À minha maneira, continuo a fugir da simetria e do óbvio. Entrelaçando idéias arrojadas, eu continuo minha busca incessante do espontâneo, que é onde está a beleza das coisas.”
- “Sempre tive prazer em descobrir (ou provocar) a possibilidade do desequilíbrio. O eterno se consegue eterno através do caos.”