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quinta-feira, 11 de março de 2021

Lucia Leme: o adeus da jornalista

 

Com Bethânia e Caetano. Em reportagem de 1985, Lucia Leme juntou os irmãos para a Manchete. A foto é de Antonio Ribeiro/Reprodução Manchete


Reprodução JC&Cia

domingo, 11 de outubro de 2020

Leila Cravo (1953-2020): o mistério que se foi...



Em 12 de novembro de 1975, há quase 45 anos, a atriz, modelo e apresentadora Leila Cravo foi ao Motel Vip's, no Rio, um programa comum a muitos cariocas. Naquela madrugada, ela foi encontrada nua, gravemente ferida, largada no asfalto da Avenida Niemeyer. Em apuração apressada, jornais e revistas embarcaram nas primeiras versões levantadas pela polícia: aos 24 anos, ela havia tentado o suicídio, depois de um fim de namoro, ou, simplesmente, caíra da sacada de uma das suítes. Quase uma no depois, a investigação não chegou a conclusiva provada. O namorado que acompanhou Leila ao Vip's, um empresário, afirmou que pagou a conta, saiu e a deixou no motel. O casal havia terminado o namoro. Funcionários confirmaram que o namorada de fato tinha se retirado mais cedo.  


Com base no relato de uma pessoa que teria testemunhado Leila Cravo se jogar do Vip's Motel, Manchete chegou a endossar a tese da suposta tentativa de suicídio demonstrada em gráfico, mas ao final do inquérito, nem a polícia não conseguiu evidências dessa versão.

Pouco depois da publicação das primeiras reportagens sobre o caso, alguns indícios começaram a escapar. A ditadura militar que encobria o Brasil não era um bloco coeso, como se sabe. Havia dissidências e um desses grupos, provavelmente para expor um antagonista, teria feito chegar a alguns jornalistas a suspeita de que duas figuras do alto escalão do governo teriam estuprado e espancado a atriz e em seguida refeito a cena do crime para fundamentar versões que não os incriminasse. 

Leila, que na época figurava nas capas das revistas Amiga, Fatos & Fotos, Manchete, O Cruzeiro e Status, dizia que não lembrava do que aconteceu, jamais sustentou qualquer versão, e o caso tornou-se um mistério que aos poucos foi esquecido. 

Leila Cravo, que morava na Urca, morreu de infecção generalizada no dia 5 de agosto, aos 66 anos, no Miguel Couto, o mesmo hospital para onde foi levada naquela madrugada de 1975, e onde a mídia fez plantão dias seguidos. Dessa vez, Leila não foi notícia imediata: sua morte só chegou à imprensa em  2 de outubro, quase dois meses depois.

A única matéria mais completa sobre a morte de Leila foi publicada no UOL pelo jornalista Paulo Sampaio, neste 9 de outubro. O mesmo profissional havia entrevistado a atriz para a revisa JP, em 2015. Dessa vez, ele conversou com Thatiana Cravo, 42, filha de Leila, que traçou um amplo retrato da vida e dos desencontros da mãe e apontou a versão que correu na época sobre os "altos funcionários" envolvidos no caso.

Aparentemente, Leila Cravo levou seu maior mistério.

LEIA A MATÉRIA DE PAULO SAMPAIO AQUI

terça-feira, 3 de julho de 2018

Fotomemória - Chacrinha por Guina Ramos

Chacrete e Chacrinha, TV Tupi, Cassino da Urca, 1978.
Foto de Guina Araújo Ramos

por Guina Araújo Ramos  (do blog Bonecos da História)

Este domingo, 01/07/2018, marca 30 anos da morte do “comunicador” Chacrinha (Abelardo Barbosa, que, aliás, teria feito 100 anos em 2017), e eu só fico sabendo disso porque me apareceu uma rememorativa postagem no Facebook, não por acaso do jornalista Denílson Monteiro, autor de “Chacrinha, a biografia”, livro de 2014 (também disponível em e-book).

O fato é que se Chacrinha continua na memória do povo, talvez seja porque resumiu em sua tão absurda quanto surrealista arte o incompreensível espetáculo que é este país, Brasil.
E continua vivo nos palcos, assumido pelo ator Stepan Nercessian, que encarna sua irreverência num espetáculo que circula pelo Brasil e deve virar filme em 2019, intitulado, muito simplesmente, "Chacrinha, o musical".

Que ninguém estranhe ver Chacrinha, nesta série Bonecos da História, de costas para o distinto público do blog!...

Tive a subida honra (e o grande divertimento) de fotografar algumas das Discotecas do Chacrinha no final dos anos 1970, ainda TV Tupi, no Cassino da Urca, em preto-e-branco para a revista Amiga e em cor para Sétimo Céu, trabalhando para a Bloch Editores.

O próprio programa era um espetáculo!... Começava pelas longas filas de ansiosos espectadores, seguia pelos camarins congestionados de artistas, jornalistas e técnicos, e se expandia pelo auditório circular, que engolfava um palco ainda mais congestionado: grandes câmeras de TV, dois grupos de Chacretes, contrarregras e grupos musicais, jurados em seus postos etc...

Centralizando toda esta loucura, o inabalável Chacrinha, sempre brilhante em suas espantosas vestimentas repletas de lantejoulas e de penduricalhos, nesta época ainda nem tanto, mais tarde incluindo a buzina, o disco telefônico, a cartola de cano alto, os óculos de aros grossos, sempre com os gestos largos com que provocava os fãs da plateia, quando não jogava um bacalhau ao léu...

Não me restaram mais do que estas duas fotografias, de todas estas coberturas da Discoteca do Chacrinha que fiz (e que dependiam das atrações da semana), de uma das quais retiro este boneco de costas. Mas, talvez evidenciando o motivo por que guardei apenas estas fotos, entre tantas que foram parar (e sumir) no desaparecido arquivo da Manchete, publico as duas fotos que me restaram...

VEJA MAIS FOTOS DE CHACRINHA POR GUINA ARAÚJO RAMOS 
NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, CLIQUE AQUI

terça-feira, 6 de março de 2018

Editor de Arte do novo JB deixa o jornal. Carlos Negreiros, que trabalhou na Amiga e Mulher de Hoje, aponta equipe insuficiente e "falta de expertise" como fatores de falhas


A volta do Jornal do Brasil impresso foi celebrada pelos cariocas. A cidade tem uma inegável ligação afetiva com o JB.

Isso não quer dizer que a tarefa de reerguer a marca seja fácil.

Duas semanas após o relançamento, a redação sofre um importante baixa. O editor de Arte Carlos Negreiros deixa o jornal.

As primeiras edições do JB mostraram falhas compreensíveis para um começo de trabalho, mas além do aceitável. Alguns subtítulos, legendas e créditos de foto não foram preenchidos e acabaram publicados com os códigos técnicos indicativos de formato. Faltou revisão mais caprichada também. Em texto na sua página do Facebook, Negreiros relata a crise interna e opina sobre os motivos das falhas. "Infelizmente, o resultado de todas as mazelas foi atribuído à Editoria de Arte. Diante desse quadro, minha situação como Editor de Arte do nosso querido JB ficou muito desconfortável culminando com a minha saída".

Carlos Negreiros trabalhou no JB nos anos 1980 e no começo da década de 1990. Entre outros veículos, foi diretor de Arte das revistas Amiga e Mulher de Hoje, da extinta Bloch.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Tônia Carrero (1922-2018) : para sempre na capa







por Roberto Muggiati 

Em 1963, em Londres, respirei o mesmo metro cúbico de Ava Gardner, quando fui cobrir para a BBC a estreia para a imprensa do filme 55 dias em Pequim.  Ava era chamada "o animal mais bonito do mundo", frase que os estúdios de cinema atribuíam a Hemingway, mas que na verdade foi criada pelo poeta homossexual francês Jean Cocteau.

Por coincidência, na mesma época, entrevistei para o Serviço Brasileiro da BBC Tônia Carrero, chamada "o segundo animal mais bonito do mundo" (por Rubem Braga, ou Vinicius).

Ao fim da entrevista, para o espanto dela, molhei a mão enluvada da diva com uma nota de cinco libras e pedi que assinasse um recibo. Explico: era praxe na BBC pagar sempre essa quantia por uma entrevistas com quem quer que fosse. Mariinha estava no auge da sua beleza. Viva Tônia!

domingo, 19 de novembro de 2017

"Foi assim", a autobiografia de Wanderléa...


Aos 73 anos, a cantora Wanderléa lança sua autobiografia. "Foi assim" (Record) revela sua trajetória profissional e não deixa de abordar os bons em tristes momentos da sua vida pessoal. Manchete, Fatos & Fotos, e, principalmente, Amiga e Sétimo Céu acompanharam passo a passo os anos de glória  da Jovem Guarda e da sua musa. Capas, entrevistas e milhares de fotos registraram aqueles dias de explosão da música jovem no Brasil.


Até fotonovela Wanderléa fez na Sétimo Céu.

Uma entrevista que vale reprisar é essa da Amiga, feita pela repórter Emilse Barbosa, com fotos de Sebastião Araújo.




Clique nas imagens para ampliar

quinta-feira, 30 de março de 2017

Manchete, 65 anos - Fotomemória da redação: um dia qualquer no estúdio fotográfico

Estúdios de Fotografia da Bloch. Reprodução

por José Esmeraldo Gonçalves

A foto é da virada da década de 70 para 80. Era uma tarde de rotina do estúdio de Fotografia do Edifício Manchete, na Rua do Russell. Ali eram produzidas capas, editoriais de moda e fotos de abertura de matérias temáticas para as diversas revistas da Bloch, além de anúncios e rótulos.

O complexo dispunha de baias que recebiam simultaneamente várias equipes. Se em uma delas um bebê era fotografado para a Pais & Filhos, outra recebia modelos para ensaios da Desfile ou atores e atrizes da Globo para capas e matérias da Amiga ou, ainda, um cesto de abóboras de DNA japonês para a Manchete Rural.

Foto; Reprodução O Cruzeiro
O estúdio era quase sempre movimentado. Mas nunca se agitou tanto quando, certa vez, uma famosa modelo cruzou as baias completamente nua, entre uma e outra troca de figurino. Dizem que o estúdio estava cheio de câmeras, mas ninguém teve coragem de fotografar o show de espontaneidade e o profissionalismo prevaleceu. Não havia celular, na época, nem redes sociais: a cena ficou gravada apenas na imaginação de quem viu aquele monumento que caminhava.  

Acima, no centro da foto, de roupa escura, vê-se Indalécio Wanderley, um dos maiores repórteres fotográficos da revista O Cruzeiro e, que, depois, transferiu-se para a Manchete. Ele está na foto aí ao lado, em 1955, ainda na revista de Assis Chateaubriand, empunhando a sua Leica, da qual não se separava,

Indalécio fez inúmeras capas para as revistas da Bloch e coordenou ensaios internacionais de moda numa época (coisa quase inimaginável até para as publicações brasileiras atuais) em que a Desfile levava para a Europa repórteres, fotógrafos e modelos que produziam memoráveis edições.

Como o tempo, esse filme foi rebobinado.

As fotos abaixo, de setembro de 2009, mostram o estúdio abandonado nove anos após a falência da Bloch.

Em setembro de 2009, uma das baias do estúdio ainda com um fundo infinito montado. Com destaque para uma garrafa vazia de  Johnny Walker, que o ar condicionado era forte e ninguém era de ferro. 

Caixas de filmes abandonados às pressas quando oficiais de justiça cumprindo mandato
de falência da Bloch lacraram o prédio, de surpresa, em agosto de 2000. Fotos. J.E.Gonçalves

 

domingo, 29 de janeiro de 2017

Manchete em um banco de praça de Curitiba: um logo que se apaga...

Foto Vitor Nuzzi

O jornalista e escritor Vitor Nuzzi, autor da biografia não autorizada "Geraldo Vandré, uma canção interrompida" (Editora Kuarup), esteve em Curitiba há poucos dias, fez o registro acima e o enviou para o blog.

O logo da Manchete desbotando-se ao tempo em um banco de praça.

Em 2007, quando quando pesquisava a vida do compositor, o jornalista entrevistou Eli Halfoun, ex-editor da revista Amiga, que fez parte do júri que apontou 'Sabiá" como vencedora do Festival da Internacional da Canção em 1968.

Como a história conta, o público queria a vitória de "Pra não dizer que não falei das flores", de Vandré, e vaiou pra valer a escolha oficial. Justino Martins, diretor da Manchete, também fazia parte do júri.

Vitor registra no livro a Manchete e a Fatos & Fotos como algumas das fontes de informações e de imagens reproduzidas na biografia, além de dezenas de depoimentos de personagens que viveram a época e de parentes e amigos de Vandré.

"Geraldo Vandré, uma canção interrompida" foi finalista do último Prêmio Jabuti 2016.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Memórias da redação: Eli Halfoun, por ele mesmo...

por Eli Halfoun (*)

 “Minha relação profissional com a Bloch Editores começou quando a empresa ainda funcionava na Rua Frei Caneca. Eu era repórter do jornal "Última Hora" e fui levado para a redação da Fatos&Fotos para fazer  frilas na revista em que o Arnaldo Niskier era o chefe de reportagem. Depois de algumas matérias, me afastei. Alguns anos depois, eu já era editor do segundo caderno da UH e também colunista no jornal e voltei à Bloch convidado pelo Genilson Gonzaga para ser o editor de textos da revista Amiga, que estava começando, e era dirigida pelo Moysés Weltman. Depois de ter sido contratado e já trabalhando, percebi que o editor de textos na Amiga acabava sendo mesmo uma espécie de editor-geral. Ocupei o cargo durante muitos anos, até ser promovido a diretor da revista, função que exerci também por longo tempo.

Esse tempo todo na Manchete – a casa e não a revista – teve e tem até hoje um grande significado para mim. Em primeiro lugar, e isso é válido não só no meu caso, mas  para todos os que por lá passaram, a Bloch representou uma garantia de um emprego sólido (naquela época, a empresa pagava rigorosamente em dia). Foi também uma boa escola onde aprendi muitas coisas e principalmente o que não se deve fazer em qualquer revista, mas que, estranhamente, fazíamos lá na Bloch e mesmo assim dava certo. 

É preciso destacar que, na história da editora, a revista Manchete foi a protagonista, o que fazia com que todas as outras publicações, que foram surgindo aos poucos, fossem apenas coadjuvantes, mesmo que muitas vezes funcionassem como grandes astros. Mas tudo o que acontecia de bom era atribuído à  Manchete, que sempre foi inegavelmente o carro-chefe de Bloch Editores. 

Em todos esses momentos, muitas pessoas foram particularmente marcantes para mim. Mas o Adolpho Bloch foi, sem dúvida, a de maior destaque, porque era uma figura humana inusitada, seu comportamento era sempre uma surpresa e quase todas as suas atitudes ou decisões entraram para o folclore da Manchete e do jornalismo. Folclore que, acredito, cada um de nós costuma contar em rodas de amigos. Assim, tenho a impressão que qualquer um de nós, que ficamos anos naquela loucura, terá sempre como episódio marcante daquele tempo alguma  história em que o Adolpho Bloch foi a  figura central. 

Lembro, por exemplo, da ousadia do velho em meio a uma agitada greve de funcionários que gritavam na porta da empresa. Adolpho resolveu deixar sua sala, no oitavo andar, e descer para conversar com os grevistas. Fiquei olhando da janela – a Amiga também funcionava no oitavo andar - e mesmo não sabendo bem o que ele disse, em meio à agitação, percebi claramente quando puxou o bolso da calça e mostrou que estava vazio: ele também não tinha um tostão. Só faltou os funcionários, com salário bastante atrasado, se cotizarem em uma vaquinha para o "pobre" do Adolpho. O fato é que ele falou, falou,  conseguiu diminuir o entusiasmo dos grevistas e pôs fim a greve.

Lembranças impagáveis

Muitas outras histórias interessantes cercaram nossa vida como  profissionais da Bloch. Lembro, por exemplo, quando a Amiga conseguiu uma entrevista exclusiva com o Guilherme de Pádua, preso pelo assassinato da atriz Daniela Perez. Não tive dúvidas e usei uma foto do Pádua para a capa. Quando a capa impressa chegou às mãos do Adolpho, ele me chamou nervoso e reclamou: “Tá maluco? Quem é esse homem que ninguém conhece na capa da revista?” Expliquei, mas nem assim ele ficou convencido. Mas no dia seguinte me chamou outra vez e deu os parabéns porque a edição tinha esgotado a tiragem. Estava tão satisfeito que até mandou pagar um extra para cada um dos repórteres da revista. Dias depois, fui convocado outra vez e aí dei de cara com o Raul Gazolla ( viúvo da Daniela) que reclamava da entrevista feita pela repórter Cláudia Lopes. Ele queria a gravação com as declarações do Guilherme de  Pádua. Tentei enrolar, mas o Adolpho exigiu a fita e a entregou ao Gazolla. 



Ainda sobre o  caso Daniela Perez fiz, logo após a notícia de seu assassinato, uma edição extra e como, naquela altura, as informações ainda eram muito desencontradas, optei por publicar todas as versões que enchiam a cidade de boatos, além é claro de usar fotos das novelas e da atriz de uma maneira geral. Foi, apesar de todas as dificuldades e da pressa um bom trabalho que também mereceu o reconhecimento da empresa, mas dessa vez sem pagamento de extra. Durante uma semana recebi muitos elogios e houve até quem dissesse que aquela edição da Amiga estava garantindo o pagamento dos salários daquele mês.

Em relação a outras capas da revista, recordo da novela Pantanal, que era o maior sucesso na época, e recebi diretamente do Adolpho ordem de escolher como capa os atores da novela, especialmente a Cristiana de Oliveira. Fiz isso repetidas vezes, até que a venda da Amiga começou a cair. O Adolpho me chamou na sala dele, mandou que me sentasse ao seu lado, colocou a mão na minha perna e perguntou: “Quem foi o filho da puta que mandou você dar tantas capas de Pantanal?”. Respondi sem titubear: “Foi o senhor”. O Adolpho sorriu e disse baixinho para que ninguém mais ouvisse: “Não é sempre que tem que fazer tudo o que eu mandar”. Mas tinha que fazer, sim.

Uma decisão que também me colocou diante do Adolpho, para explicações, foi quando a revista completou, se não me engano, 18 anos. Escolhi para capa uma foto do Claudio Marzo com a Regina Duarte e na janela (fotinho menor enquadrada na capa), a mesma dupla na tinha sido a primeira capa da Amiga. Até eu explicar minha intenção jornalística e festiva, o Adolpho só faltou me comer vivo porque considerava aquilo uma loucura. Como deu certo, não mais se falou no assunto.

Outras recordações marcantes têm para mim um forte cunho emocional, como foi o caso da morte de Elis Regina. Eu estava almoçando no restaurante do terceiro andar e mal tinha dado a primeira garfada quando um garçom se aproximou e disse: “Eli, seu Adolpho tá chamando. Pediu para você subir já”. Fui logo e  só quando cheguei à sala do Adolpho fiquei sabendo que a Elis Regina tinha morrido. Foi um choque: eu a conhecia desde os tempos do início de carreira no Beco das Garrafas, no Rio, e fiquei sem reação. O Adolpho então pediu que eu fizesse uma edição especial da Amiga para sair no dia seguinte. Lembro que a equipe toda e eu trabalhamos um dia inteiro, varando noite e madrugada.  Foi uma edição dolorida, mas em compensação, é uma das que coloco entre as melhores que editei em minha carreira. Vendeu muito e algumas páginas foram transformadas, clandestinamente, em posters que até hoje podem ser encontrados em algumas lojas ou camelôs. 

Lembro também que eu estava, numa tarde de sábado, na "Última Hora", quando um telefonema urgente do Jaquito me convocou para ir até a Bloch fazer uma edição sobre a morte do ator Sérgio Cardoso. Mal tinha começado a selecionar o material fotográfico,  quando o Jaquito perguntou: “essa revista vai vender? Quanto você acha que a gente deve rodar?”. Respondi com um número qualquer e bem exagerado. A edição especial vendeu mais do que eu havia sugerido. 

Emocionalmente ainda foi muito marcante para mim, ter convocado o Tim Lopes, que na época atuava como contínuo, e sugerido a ele, que parecia levar jeito, que fizesse algumas matérias para Amiga. Eu estava convencido de que ele poderia ser um bom repórter, não me enganei. Publicamos algumas de suas reportagens na Amiga. Ele que se  formou em Jornalismo, veio a ser um dos maiores repórteres investigativos que esse país já conheceu até ser brutalmente assassinado.  

Da glória à garra 

Acredito que as grandes coberturas da Bloch tenham sido as do carnaval. As fotos em cores, numa época em que a televisão era P&B, ou ainda engatinhava no sistema novo, eram tão sensacionais que a Manchete acabou virando uma espécie de enredo oficial do carnaval e todo mundo esperava ansioso a chegada da revista às bancas no quarta-feira de cinzas. Nunca se viu isso com qualquer outra revista e agora se vê muito menos. 

De outras grandes coberturas da Manchete, lembro da  missa que o Papa João Paulo II rezou no Aterro. A revista que bateu recordes de tiragem (chegou a 800 mil exemplares, se não me engano), incluiu uma medalhinha como brinde com a imagem do Papa de um lado, e a de Jesus Cristo do outro. O Adolpho me chamou para colocar a medalhinha também na Amiga e um de seus comentários me chamou atenção: “a grande burrice dos judeus foi terem perdido Jesus Cristo”. É que o Papa, naquele momento era garantia de venda da revista Manchete, um grande negócio e uma enorme fonte de lucro. 

Ainda hoje me pergunto sobre as possibilidades de sobrevivência da Bloch. Estou convencido de que o grande erro da casa foi o de nunca ter deixado de ser uma empresa familiar: muitas vezes, as coisas por lá funcionavam de uma forma um tanto amadora, meio de brincadeira, como uma grande festa familiar, às vezes tão engraçada quanto A Grande Família, na televisão. Havia também a preocupação de satisfazer, especialmente por motivos emocionais, a muita gente, o que muitas vezes prejudicava o desempenho jornalístico das revistas e, em consequência, o bom funcionamento da Bloch como empresa.

Mas se, de um lado, a Bloch se perdeu na sua própria grandeza, acho que o principal  vilão dessa história foi a TV, a Rede Manchete. A Bloch não estava preparada e nem tinha respaldo para fazer televisão> Por falta de estrutura empresarial, misturou a televisão com as revistas, fez um bolo infernal e acabou prejudicando  financeiramente toda a sua estrutura. Ao contrário das empresas Globo, em que sempre se soube dividir bem o jornal, as revistas, as emissoras de rádio e a televisão, que funcionam de forma independente, a Bloch misturou tudo e acabou afetando também até as bem-sucedidas revistas que afundaram junto com a televisão, especialmente na área financeira. Um indicador disso: depois da criação da Rede Manchete de Televisão, a Bloch nunca mais pode se  orgulhar de, pelo menos, pagar em dia.”

(*) Durante longos anos, o jornalista Eli Halfoun foi olhos e ouvidos dos chamados VIPs da televisão. Não era só a programação de TV que ocupava as páginas da revista Amiga, mas todo o universo da telinha, com suas histórias, fofocas e revelações surpreendentes. Um inegável pioneirismo do jornalismo de celebridades que hoje domina grandes segmentos do mercado impresso e digital. Todas as semanas nas bancas, Amiga contava para seu imenso público leitor, como se fosse uma vizinha bem informada, as novidades que todo mundo queria saber. Levar às leitoras a intimidade de astros e estrelas foi a fórmula da Amiga. 
Em 2008, Eli Halfoun deu o depoimento acima para a coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". Na caso, o foco era sua trajetória na Amiga, mas a sua carreira foi muito além. Eli foi um dos mais destacados profissionais do "Última Hora", quando o jornal de Samuel Weiner deu um impulso inovador ao jornalismo. Como colunista, editor e repórter, deixou sua marca em um período de muito dinamismo na imprensa brasileira. Profissional respeitadíssimo, foi jurado dos Festivais da Canção, no auge do formato, e do tradicional Troféu Imprensa, do SBT. Nos últimos anos, manteve o blog Ensaio Geral, sempre antenado em todas as áreas, e também foi colaborador atuante neste Panis Cum Ovum.  
Eli Halfoun faleceu hoje, no Rio. Leva a admiração das gerações de colegas que trabalharam ao seu lado e deixa uma longa história e sua marca indelével no jornalismo carioca.    
                                                       
Página do Última Hora editada por Eli Halfoun, em 1962. Antes de Stanislaw Ponte Preta tornar famosa as Certinhas do Lalau, Eli já fazia o Escrete Tudo Azul: as "enxutas" do teatro rebolado. 

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O crime impune do Bateau Mouche. Foi há 25 anos. No dia 31 de dezembro de 1988, as equipes da Manchete que cobriam as festas da virada do ano foram deslocadas para o cenário da tragédia...

/Manchete: a tragédia na capa que deveria ter sido festiva. 

A Amiga homenageou a saudosa atriz Yara Amaral, vítima do naufrágio. 

Nas edições seguintes, Manchete acompanhou a investigação do criminoso naufrágio e, em custosa produção, foi um dos poucos veículos a colocar fotógrafos com equipamentos e câmeras especiais para documentar o resgate da embarcação no fundo do mar. . 
(da redação da JJcomunic)
Pouco antes da meia-noite de 1988, 153 pessoas navegavam no Bateau Mouche em direção a Copacabana para assistir à queima de fogos. Em vez do espetáculo, encontraram a tragédia a meio caminho, entre a Ilha de Cotunduba e o Morro da Urca, em frente à Praia Vermelha. A barco navegava com o dobro da capacidade ( a lotação permitida era de apenas 62 passageiros e tripulantes) e ao afundar matou 55 pessoas. À tragédia soma-se, hoje, a vergonha: apenas os três sócios estrangeiros da empresa proprietária do barco foram condenados e, mesmo assim fugiram para a Espanha. Como o Brasil não tinha tratado de extradição com aquele país, ficaram livres. Outros indiciados foram inocentados. Só em 2003 o STJ bloqueou os bens dos condenados. Poucas famílias de vítimas receberam indenizações. Ainda há ações pendentes e o STJ ainda tem na mesa, neste 2013 que chega ao fim, até mesmo recursos pendentes dos condenados.  Nessa luta perdida, as famílias das vítimas e os sobreviventes constataram que um Brasil mais justo e menos vulnerável ao poder econômico também naufragou naquele triste réveillon. Por outro lado, muitos, pelo menos 30 pessoas, devem as suas vidas a tripulantes e passageiros de alguns barcos de pequeno porte e de simples pescadores que ajudaram a resgatar sobreviventes. Se as instituições podem falir e não punem culpados, a solidariedade do povo, que não se omite nessas ocasiões, é um alento a mostrar que nem tudo está perdido.  
Naquele ano, as equipes da Manchete e da Amiga foram a Copacabana cobrir as festas sofisticadas, a comemoração popular, o show de fogos, a devoção dos fiéis a Iemanjá, e a alegria de famosos e anônimos (a outra semanal da Bloch, a Fatos & Fotos, que também historicamente participava dessas coberturas, já estava com a circulação suspensa sendo editada apenas por ocasião do Carnaval).
O naufrágio ocorreu a aproximadamente 15 minutos antes da meia-noite. Só por volta de 1h da manhã, a notícia circulou em Copacabana e parte da equipe de repórteres e fotógrafos foi avisada da tragédia e deslocada para o cais do serviço de salvamento, em Botafogo. 
De festivas, aquelas edições passaram a espelhar uma profunda tristeza.
Que as vítimas estejam em eterna paz.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Hebe, Hebe, Hebe, a mulher que soube abraçar de verdade todas as pessoas

Hebe na capa da Manchete e...
...em reportagem na revista Amiga.
Capa de O Cruzeiro, 1963
por Eli Halfoun
A impressão que tínhamos e temos (ela nos passava isso) ainda é a de que Hebe Camargo é imortal. É difícil aceitar que uma pessoa que amava tanto a vida pudesse nos deixar, mesmo que soubéssemos que ela estava debilitada fisicamente e que seria impossível o corpo resistir por mais tempo. Na verdade, o que víamos ultimamente na televisão não era mais o corpo magro e frágil de Hebe. Era sua alma mostrando que estar feliz mesmo nos momentos mais difíceis é a única maneira de fazer a vida valer a pena, até depois da partida. Até despedir-se fisicamente do público que realmente a amava (não havia uma única pessoa nesse imenso país que não tivesse um carinho muito especial por Hebe). Ela foi a mãe de todos os artistas, a senhora de todos os corações de um público que a aplaudiu com entusiasmo durante toda a carreira. Certamente continua aplaudindo de pé. Aplaudindo não apenas a arista, mas também e especialmente a mulher que soube entregar seu amor ao público que amou verdadeira e intensamente.

Hebe foi exemplar até os últimos momentos que aqui esteve como matéria.  Mesmo enfrentando graves problemas de saúde, que ela não escondia (como, aliás, nunca escondeu nada) não deixava transparecer sua tristeza e muito menos a sua dor. Queria passar (e passou) para todos nós a importância de lutar pela vida e de fazer da existência uma grande alegria, uma imensa gargalhada. Como as que ela costumava dar. Hebe partiu inesperadamente (acreditávamos que ela ficaria aqui eternamente), mas não morreu. Seus exemplos, sua alegria, seu profissionalismo seu saber viver e ter vivido permanecem intensos em cada um de nós. Hebe não viveu em vão. Foi e continua sendo a rainha da televisão, mas em nenhum momento exerceu seu reinado com arrogância e falta de atenção com todos os súditos. Entre as muitas lições que nos Hebe nos deixa talvez a mais importante seja a da humildade. Hebe foi uma rainha que jamais tratou mal ou com indiferença seus funcionários e os fãs que a idolatram e idolatrarão definitivamente. Hebe tinha a carinhosa humildade que só as pessoas escolhidas a dedo por Deus conseguem ter.

Nesse momento de tristeza e comoção é muito difícil escrever e falar de Hebe. A Hebe que conheci mais de perto (foram poucos, mas importantes encontros profissionais) e que o povo sempre abraçou apertadamente mesmo de longe no abraço mais sincero que se pode dar permanece inteira e sorridente em todos os programas de televisão e em todas as vidas que sem dúvida ela ajudou a viver mais e melhor. (Eli Halfoun)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Continua acontecendo

Esgotado na editora mas ainda à venda em alguns sites e sebos, o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) continua circulando por aí cumprindo o objetivo principal dos seus autores: revelar e difundir a história e os bastidores de uma das maiores editoras de revistas do país. O "Aconteceu" foi lançado em fins de 2008 mas como se trata de uma obra atemporal e que já está no acervo de várias bibliotecas universitárias é comum ver na internet críticas e comentários recentes tal qual o texto que pode ser lido no link abaixo.
Clique AQUI   

terça-feira, 21 de junho de 2011

Memória da redação: Aconteceu na...

Parada de Lucas
A foto é do começo dos anos 80. Era comum. naquela época, uma espécie de visita guiada dos jornalistas das redações da Rua do Russell a Parada de Lucas, subúrbio onde ficava o Parque Gráfico da Bloch. Geralmente, o próprio Adolpho Bloch era o guia. O pretexto, quase sempre, era a chegada de uma máquina nova ou, simplesmnete, ver a Cerutti, então o que havia de mais moderno, rodar milhares de páginas. Naquele dia, um dia qualquer da "década perdida", os tais anos 80, editores de várias revistas, diretores e redatores da Manchete participaram do tour a Lucas. A foto é do baú do Lincoln Martins que, no último fim de semana, encontrou a raridade e quis compartilhá-la com este blog.


Primeira fila, no alto, da esq. para a dir.: Jiri Biller, da Gráfica, Lincoln Martins, diretor da EleEla e Geográfica, Tereza Jorge, da Pais & Filhos, Alda, da Circulação, e Wilson Cunha, da Manchete. Segunda fila; Justino Martins, diretor da Manchete, Maríla Campos, da Carinho, e Roberto Muggiati, da Manchete. Terceira fila; Adolpho Bloch, Edson Pinto, diretor da Amiga, José Guilherme, redator da Manchete, Carlos Heitor Cony e Murilo Melo Filho; Sentados, à frente, Flávio de Aquino, redator e crítico de Arte da Manchete, e Oscar Bloch.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Silvio Santos não vende SBT para não vender sua paixão


Ao longo da trajetória da revista Amiga, Silvio Santos foi capa inúmeras vezes. Esta, acima, com a chamada Tudo Sobre a TV do Sílvio, registrou, em 1975, a entrevista que fiz em São Paulo quando o apresentador e empresário conquistou a concessão do seu primeiro canal.
por Eli Halfoun
Em entrevista ao jornal O Dia, Carlos Alberto de Nóbrega, o dono do banco do humorístico “A Praça é Nossa”, disse que duvida que Silvio Santos “venda o SBT”. Não é preciso ser amigo de Silvio como Carlos Alberto é, para saber que ele só abriria mão de sua emissora (emissoras) de televisão se realmente não tivesse outra saída. Silvio é apaixonado por televisão e nunca negou que o SBT pode não ser (e não é) o seu principal negócio, mas é sem dúvida o que mais o mobiliza e ao qual entrega mais amor do que trabalho.
A paixão de Silvio Santos pelo SBT não é de agora: em entrevista que fiz com ele em sua casa de São Paulo e publicada na revista Amiga quando ganhou a concessão da então TV SS (depois mudou para S porque SS era a sigla nazista e finalmente virou SBT- Sistema Brasileiro de Televisão), Silvio deixava claro, embora na época ter uma emissora de televisão era apenas um grande desafio, que nunca abriria mão da TV porque desde o primeiro momento ela era mais do que um negócio. Era um amor verdadeiro.
Silvio tem recebido propostas de venda, de sociedade e de arrendamento, mas nenhuma delas o motiva simplesmente porque no dia em que abrir mão de sua emissora de televisão estará abrindo mão da paixão maior de sua vida e carreira.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Memórias da redação: Aconteceu na...

por Eli Halfoun
(Notícias podem deixar qualquer jornalista de “saia justa”)
Uma das primeiras lições que aprendi na prática do jornalismo é que não se deve esconder e muito menos “guardar na gaveta” uma notícia. Ela pode envelhecer e deixar de ser interessante. Ou acabar nas mãos de outro profissional e aí você que guardou a notícia descobrirá que pelo menos nesse caso foi um péssimo profissional. Foi essa lição que me colocou durante alguns dias em uma verdadeira “saia justa” jornalística. O ator e cantor João Alberto Carvalho (de quem ainda sinto uma carinhosa saudade) foi um dos melhores amigos que tive até hoje. Era uma amizade de respeito, admiração e cuidado: nascido e criado na Pará, João Alberto me tinha como uma espécie de pai carioca desde que chegou para tentar a carreira artística no Rio. Só me chamava de Papi, o que às vezes me deixava envergonhado, mas aumentava nossa amizade. João Alberto era muito espontâneo e engraçado e foi em um jantar que o diretor Jayme Monjardim se encantou com sua alegre espontaneidade e o convidou para viver o mordomo Zaqueu na novela “Pantanal”, exibida pela Rede Manchete de 27 de março a 10 de dezembro de 1990. Monjardim queria que João Alberto fosse, na novela, exatamente como era na vida real. Pronto: Zaqueu emplacou e deu para João Alberto o seu primeiro sucesso na estréia em novelas.
Estava tudo muito bom, tudo muito bem, quando João Alberto começou a se ausentar de festas, reuniões entre amigos e até das visitas quase diárias que fazia à minha casa. Dizia que evitava sair de casa porque vivia com diarréia (“Passo o dia plantado no vaso como se fosse uma flor” - dizia com bom humor). Percebi que algumas manchas roxas começavam a aparecer em seus braços e que parecia bem mais magro. Não tive dúvidas: aconselhei que fizesse um exame de HIV. Fez, mas não teve coragem de buscar o resultado, ou seja, sobrou pra mim. Apanhei o resultado e pedi à minha ex-mulher, médica, que o abrisse. Estava lá muito claro: João Alberto era soropositivo. Evidentemente diante de sua cada vez maior magreza, as especulações ficaram inevitáveis, mas só eu sabia que ele era sim portador do HIV. Foi aí que fiquei, como se diz popularmente, entre a cruz e a caldeirinha: não queria expor meu grande amigo, mas sabia que não podia “guardar a notícia na gaveta”, como tinha aprendido em meu início de carreira. O “fazer ou não fazer, eis a questão?” me atormentou durante pelo menos três dias. Decidi publicar a verdade, mas fazendo isso de uma forma respeitosa que não expusesse o ator e sua família. Preservei o amigo, mas não perdi a notícia: Amiga foi a primeira e única revista a publicar com exclusividade a verdade sobre a doença de João Alberto. Melhor assim porque a reportagem da Amiga (e do amigo) colocou um ponto final em qualquer tipo de especulação.
João Alberto faleceu meses depois e quando o vi pela última vez em seu apartamento de Copacabana (seu pai realizou o sonho que João tinha de morar na Avenida Atlântica), ele nem mais me reconhecia. Partiu deixando uma saudade imensa nos amigos e para mim também a certeza de que nenhuma notícia pode ficar guardada no fundo da gaveta desde que seja publicada só com a verdade e o respeito que qualquer noticiado merece. Afinal, jornalismo também é a arte de procurar e escolher bem as palavras. Notícia é sempre notícia, mas não precisa ser exatamente um escândalo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Memórias da redação: Aconteceu na... Amiga


por Eli Halfoun
(Três histórias sobre o lado bom de fazer revista entre amigos)
Parecia fácil, mas era complicado fazer da Amiga uma revista semanal vibrante, criativa e atualizada: dependíamos de conseguir os capítulos das novelas para preparar os resumos, da boa vontade dos artistas para entrevistas e fotos e de informantes com credibilidade para contar tudo o que acontecia nos bastidores. Nosso universo era sempre o mesmo e era preciso “fazer ginástica” para não ficar repetitivo e criar novidades interessantes que mobilizassem os leitores. Apesar de todas as dificuldades, também era muito divertido o trabalho na redação, onde era necessário criar todo dia novas brincadeiras que deixassem o ambiente de trabalho descontraído, alegre e feliz. Nunca faltou, justiça seja feita, criatividade no quesito sacanagem. Aqui estão três historinhas que ilustram bem o espírito brincalhão que nos permitia, por mais paradoxal que possa parecer, fazer um trabalho sério.

História I
O Moysés Welltman era um grande sujeito, mas cheio de manias, que não escondia. Vivia dizendo na redação que odiava sol e jaca e que até o cheiro da fruta o fazia passar mal e vomitar. Ficou anotado e perto de seu aniversário, quando pensávamos o que lhe dar de presente, surgiu a idéia brilhante: “Vamos dar uma jaca”. Mas como arranjar uma jaca? O Tostão, que adorava as brincadeiras e era o criador de várias deu a solução. Morava no subúrbio, viajava mais de uma hora de ônibus até a redação: “Eu pego a jaca no quintal do meu vizinho”. Ainda argumentamos que era muito longe e seria difícil trazer a jaca. E ele, já delirando com a brincadeira não titubeou: “Eu me viro e trago a jaca de qualquer maneira”. Na véspera do aniversário do Weltman, a jaca estava na redação e, no dia seguinte, a enviamos cedinho para a casa do Weltman. Não sabemos qual foi sua reação ao receber o embrulho de presente com a jaca, mas do jeito enjoado que ele entrou na redação deu para imaginar. Não passou recibo, mas a turma se entregou: “Parabéns, Weltman, vai ter bolo de jaca hoje”. Aí ele revelou a raiva: ”Só se for para esfregar na cara de vocês”. Ninguém comeu bolo de jaca, mas mesmo assim foi um aniversário muito divertido. Pelo menos para nós.

História II
Pouca gente sabe ou lembra, mas o hoje mundialmente badalado escritor Paulo Coelho foi repórter free-lance da Amiga. Nenhum redator gostava de pegar seus textos porque diziam que “era coisa de maluco”. Um dia, Paulo ligou da portaria, mandou me chamar e disse que tinha uma ótima reportagem para me entregar. Conversei com ele no hall dos elevadores no oitavo andar do prédio do Russell, dei uma lida no texto (era uma entrevista e uma análise com e sobre o Raul Seixas, de quem viria a ser parceiro). Enquanto eu lia, Paulo, fala mansa e boa gente, não parava de falar: “Lê direitinho para depois não dizer que é coisa de maluco e vê se aproveita porque tô precisando muito da grana desse frila”. O texto realmente não era dos melhores, mas como ele precisava da grana decide aproveitar. Paulo acrescentou: ”Se achar que tá ruim demais pode reescrever”. Foi o que fiz. Quando a revista saiu ele ligou para agradecer: “Ficou legal. Que bom que você não mexeu em nada”. Tinha mexido sim E muito.

História III
A época era das saias curtas e as bonitinhas repórteres da Amiga não as dispensavam. Sentadas em suas mesas de trabalho, quase provocavam diariamente um torcicolo no Tostão, que fazia contorcionismo para como ele mesmo dizia “ver o furo de reportagem”. Osmar Tavares, o baixinho Tostão, nem queria ver a calcinha de ninguém. Queria apenas deixar as meninas sem graça e cheias de cuidados na hora de cruzar as pernas. Todo dia era a mesma coisa: enquanto diagramava uma página ia narrando: “Fulana tá de calcinha branca, sicrana de azul claro”. Não via nada, mas inventava as cores (às vezes até acertava) para instigar a redação. Era casado com uma mulher três vezes maior do que ele e, portanto, tinha em casa uma fartura de calcinha, mas gostava de repetir: “Adoro ver calcinhas”. Um dia cheguei perto e dei a notícia: “Na hora do almoço vamos até o Largo do Machado que vou te levar em um lugar especial para você ver calcinhas”. Ficou, é claro, todo animado, contando os minutos. Combinei com parte da turma da redação que me seguisse na hora do almoço. Saí com o Tostão e fomos caminhando pela rua do Catete até o Largo do Machado. Ansioso, ele perguntava: “Falta muito, falta muito?". Enfim chegamos na Galeria do Condor no Largo do Machado. “E agora vamos subir, tem muita mulher lá?" Eu só pedia calma. Andamos até quase o final da galeria, parei em frente a uma loja de lingeries e simplesmente disse: "Divirta - se olha só quantas calcinhas ”. Foi a primeira vez que vi o bem humorado Tostão ficar nervoso. Só não me deu uns cascudos porque eu era o chefe. A turma da redação que nos seguiu morria de rir e até comprou uma calcinha de presente para o Tostão. Não se sabe ser um dia ele a usou.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Memórias da redação: Aconteceu na... Amiga

Uma arrebatadora paixão com a “namoradinha do Brasil”
por Eli Halfoun


O que Regina Duarte, sem dúvida a mais popular atriz do Brasil, tem a ver com a revista Amiga? Tudo. Ou quase tudo. O namoro entre a revista e a já então “namoradinha do Brasil” foi constante – uma paixão arrebatadora. Entrava semana saia semana lá estava ela, meiga e sorridente, na capa da revista. Regina Duarte iluminou a capa do primeiro número da Amiga (na reprodução à esquerda) e sua presença era garantia de boa venda. No primeiro número, eu ainda não estava na revista, mas quando Amiga completou 18 anos eu já era o editor- chefe e depois de conversar com minha até hoje amiga Lea Penteado, uma das primeiras repórteres da revista, achei que a mais iluminada vela do bolo de aniversário seria ter Regina Duarte outra vez na capa. Foi quando pintou a idéia de repetir, 18 anos depois, exatamente a capa do primeiro número. Providenciamos uma nova foto de Regina Duarte com Cláudio Marzo, o casal que ilustrou a capa de estréia. Como recordar é viver e reviver, não tive dúvida e dei também uma “janela” (uma foto menor dentro da foto maior) com uma reprodução da primeira capa de Amiga. Em minha opinião e de toda a redação, era a melhor forma de mostrar como Amiga tinha crescido e os atores também tinham ficado mais maduros em idade, fisionomia e sucesso. Acreditei que todos iriam entender a nossa intenção, mas a primeira coisa que recebi foi uma bronca do 'seu' Adolpho que me chamou e foi logo dizendo: “O que é isso? Enlouqueceu?”. Eu não estava entendendo nada e perguntei: “O que tem de errado 'seu' Adolpho?" E ele aborrecido: “Não está vendo que são as mesmas pessoas na capa?" Expliquei: “É isso mesmo: a foto da janela é a primeira capa da revista, que é justamente a do casal da foto maior”.

Ele entendeu (tenho a impressão de que já tinha entendido desde o início e estava apenas querendo me testar e ter certeza de que eu sabia o que estava fazendo). Não respondi nada e fui saindo da sala de fininho. 'Seu' Adolpho me chamou outra quando eu já estava quase na porta. Olhei para trás e sorrindo ele disse: “Você é louco, mas é inteligente”. A capa teve boa repercussão: Regina Duarte e Cláudio Marzo elogiaram e ganharam uma boa recordação já que nas páginas internas contamos a história (só o que podia ser publicado, é claro) dos 18 anos de Amiga ilustrando o texto com diversas fotos da Regina e Cláudio. Amiga fazia parte também da trajetória de sucesso do casal nas novelas da Globo. Durante muito tempo Regina foi (ainda é) a “namoradinha do Brasil” e precisou de muito esforço párea mostrar que por trás de todo seu carisma e daquele sorriso ingenuamente encantador existia uma grande atriz. A grande atriz que sem dúvida é hoje. Com Cláudio Marzo não foi diferente: o galã bonitão que arrancava suspiros de milhões de fãs por todo o país também mostrou que é e sempre foi um excepcional ator, o que a crítica custou a perceber porque também ela só enxergava nele um galã e não o bom ator que desde o início mostrou ser. Foi essa evolução que tentamos mostrar na capa dos 18 anos de Amiga e, acredito, conseguimos.






terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Memórias da redação: Aconteceu... na Amiga



por Eli Halfoun
(Encarte de “Renascer” virou revistas)
Na história das novelas brasileiras (o Brasil faz sem dúvida as melhores novelas do mundo) “Renascer”, de Benedito Rui Barbosa, o melhor e mais brasileiro de nossos autores, merece um capítulo especial. Não só por conta do sucesso, mas também porque foi a maneira que a Globo encontrou para compensar sua falta de sensibilidade ao recusar a sinopse de Pantanal ( êxito maior da breve e atribulada história da Rede Manchete). “Renascer” foi exibida de 8 de março a 13 de novembro de 1993 e na época não se falava em outra coisa em termos de televisão. Às vésperas da exibição do tão esperado último capítulo, tínhamos reunido na redação um farto material sobre a novela. Surgiu então a idéia de fazer um encarte especial, mas em primeiro lugar era preciso convencer a direção da empresa a também entusiasmar-se com o projeto. Sabia que seria difícil, mas mesmo assim resolvi tentar. Primeiro falei com o Jaquito, o superintendente, que foi, como sempre, prático: “O problema será você convencer o Adolpho.Vai lá e fala com ele que eu te dou uma força”. Lá fui eu sem muita esperança (sabia que ele viria com aquela velha história de “gastar o meu papel”, mas eu acreditava tanto na idéia aprovada por toda a redação que tinha de arriscar). Adolpho não resistiu tanto quarto eu esperava (nesse dia devia estar de bom humor) e apenas respondeu sorrindo com aquele gostoso sorriso de avô: “Você é quem sabe.Vai vender mesmo? Jurei de pés juntos que era venda garantida lá fui eu tratar de editar o encarte). A turma da redação estava entusiasmada e bastou distribuir a pauta para que todo mundo entrasse em ação).

De saída, fizemos uma minuciosa busca no completo arquivo fotográfico da Bloch e selecionar o material em ordem cronológica não foi tarefa das mais fáceis. O resto foi o de sempre: novas entrevistas com o elenco, resumo do que aconteceu nos bastidores durante os nove meses da novela) e por aí vai, que nessas horas não tem muito que inventar e além do mais o que interessava mesmo eram as belas fotos). Trabalhamos a noite inteira ( a redação da Amiga era guerreira).
O encarte teria 24 páginas em formato tipo álbum. Era para ler e guardar. Somente na manhã seguinte iniciei, cercado de material por todo lado (estava me sentindo uma ilha), a editar a revista. Ao meio dia o trabalho estava pronto para ser encaminhado à gráfica, onde se iniciaria uma outra etapa. O encarte tinha que estar pronto para ganhar o entusiasmo do público. Não dava tempo de fazer nenhuma promoção e a revista (com o encarte, é claro) foi para as bancas contando apenas com a empolgação do público. A reação dos leitores foi das melhores e Amiga vendeu quase toda a tiragem, além de ter feito escola: nasceram aí, depois do nosso encarte as revistas, algumas circulam até hoje, especializadas somente em novelas. A Bloch até sugeriu quem também fizéssemos uma revista nova, mas não concordei argumentando que as novelas eram uma espécie de carro-chefe da própria Amiga e se as abandonássemos perderíamos leitores para a outra revista, mesmo que fosse da mesma editora. O encarte de “Renascer” era apenas um algo a mais, um brinde especial da Amiga pelo qual o público não pagaria um centavo a mais. E de graça, como se diz popularmente, até injeção na veia. “Renascer” entrou para a história das novelas e o encarte especial que fizemos com entusiasmo para a história da Amiga.