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terça-feira, 8 de março de 2016

Há 50 anos, um festival de besteiras assolava o país. Há 50 anos? Que nada, 1966 é hoje, diria Stanislaw Ponte Preta.


O livro "O Festival de Besteira que Assola o País", de Stanislaw Ponte Preta, foi lançado em 1966. Completa 50 anos nesta temporada que, como aquela, é um poço até aqui de inspiração. Sergio Porto - que trabalhou na Manchete e na Fatos & Fotos e foi o criador do Stanislaw -, extraia humor do cotidiano, com destaque para as pesadas sessões diárias do teatro político da ditadura.

Eram situações, no caso dos absurdos políticos, que provocavam risos, porque eram geralmente de um ridículo explícito, mas deixavam um traço de indignação.

Na abertura do livro, Stanislaw escreveu: "É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o país. Pouco depois da "redentora", cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem "otoridades", sentindo a oportunidade de aparecer, já que a "redentora", entre outras, incentivou a política do "dedurismo" (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo, enfim, como corrupto ou subversivo - alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciando essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar".

Como o caso da força-tarefa do Dops que invadiu a casa de uma escritora e apreendeu um liquidificador. "Vejam que perigosa agente inimiga esta, que tinha um liquidificador escondido na própria casa", escreveu Stanislaw. Ou o delegado de BH que ameaçou prender o estilista Pierre Cardin, caso ele levasse minissaias para a capital mineira. O caso acabou em sessão na Assembleia onde um deputado bradou: "Ninguém levantará a saia da mulher mineira".

A mídia também alimentava o Febeapá. Ibrahim Sued publicou no Globo que um diplomata russo "que está no Brasil há dois anos foi expulso dos Estados Unidos há seis meses". O Dops foi a campo para prender o sujeito antes que o jornal saísse da banca. Mancada. Se o cara estava no Brasil há dois anos, não poderia ter sido expulso dos Estados Unidos há seis meses. O Dops pagou o mico que recebeu do jornal e teve que liberar o "perigoso" russo.

Stanislaw teria adorado a história do juiz e do capoteiro, o mais novo e divertido capítulo da Lava Jato. O juiz Moro convocou para depor o cidadão Jorge Washington Blanco. Estúdio pronto, luzes  ligadas, câmeras idem, os procuradores se instalam na bancada. Tudo OK para a audiência e para o 'luz, câmera. ação' de mais um momento grave na vida nacional. Mas o que se segue é comédia pastelão. Quando todos aguardavam que a testemunha iniciasse a demolição da República ao se identificar como "operador" de milhões de dólares, dá-se um surpreendente diálogo:

Procurador: "O senhor pode esclarecer a sua atividade profissional durante o ano de 2009?"

Testemunha: "Eu sou capoteiro."

Procurador: "Capoteiro?"

Testemunha: "É."

Silêncio na corte. Era o homem errado, a hora errada, o local errado, a pergunta errada. Moro convocou um sujeito que não era o sujeito. Era um homônimo.  "Uai, eu fiquei meio assim, falei: será que usaram meu nome nesse trem? Eu nunca me envolvi com nada errado. De uma hora pra outra aparece negócio de Lava Jato, coisa que eu vejo falar na televisão". Foi o desabafo do capoteiro de veículos Jorge Washington Blanco, No vídeo, a "força-tarefa" não pede nem desculpas. O juiz ainda pergunta se alguém tem alguma coisa a acrescentar. Não, ninguém tinha nada a comentar. Ao perceber o mico, a força-tarefa "largou os bets' como se diz "deixar pra lá" em Curitiba.

Deviam pelo menos mandar consertar as capotas e os estofados das viaturas na oficina do intimado, que faturaria alguma merreca para compensar o tempo perdido.

A pergunta que fica: estão pesquisando os nomes das testemunhas aonde? No Google?

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Reprodução