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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Diretas-Já, 30 anos - O povo foi às ruas mas o Congresso não deu aos brasileiros o direito de votar para presidente. E o Brasil foi castigado: o Colégio Eleitoral militar elegeu Tancredo e, em seguida, Sarney virou presidente


Em duas capas marcantes, uma de 1984 e a outra de 1985, a Manchete retratou, sem querer, a história de uma derrota popular. O povo foi às ruas pedir eleições Diretas. Perdeu. O Congresso rejeitou a Emenda Constitucional que restabelecia o direito de os brasileiros votarem para presidente. Restou a farsa do Colégio Eleitoral militar, que elegeu Tancredo Neves. Com a morte deste, o Brasil recebeu um castigo político ainda pior: Sarney, ligado à ditadura, virou presidente. Na prática, os militares ganharam uma prorrogação no poder. E o Brasil, o atraso político que se refletiu por mais de uma década.

No dia 25 de janeiro de 1984, 300 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé, em São Paulo, para pedir eleições diretas para Presidente da República. O Brasil vivia sob ditadura ainda ativa, basta lembrar que militares da linha dura haviam explodido as bombas do Riocentro poucos anos antes. Precedendo o grande comício de SP, alguns partidos promoveram manifestações públicas em poucas cidades do interior. O assunto não chegara ainda à grande imprensa, que demorou a divulgar o movimento. O próprio comício da Praça da Sé foi noticiado por uma grande rede como de comemoração do aniversário da capital e mereceu uma mera citação de que alguns grupos, naquele momento, pediam eleições diretas. A partir de SP, o movimento ganhou as ruas e atraiu lideranças de vários partidos. Esse lado, o da emocionante manifestação popular, é o lado bonito a comemorar. A história mostra que o capítulo seguinte é podre. No grande teste prático, a votação da Emenda Dante de Oliveira que instituia eleições diretas, o povo não foi ouvido. O Congresso, para variar, rejeitou a voz das ruas e não aprovou a emenda. Seguiu-se a eleição de Tancredo Neves, nome que não incomodava os militares. Basta consultar os jornais da década de 70 para ver que nos tempos mais sombrios Tancredo foi dócil, calou-se convenientemente, ao contrário de Ulysses Guimarães, que ainda enfrentou até ataques de cachorros da PM. Tancredo, eleito pelo Colégio Eleitoral dos militares, morreu sem assumir efetivamente. Para coroar a derrota nacional que começou com a rejeição da emenda das Diretas-Já e passou pela vergonhosa pantomima da eleição indireta de Tancredo o Brasil foi penalizado com a posse de Sarney. Na transição consentida, os militares fingiram que saíram do palco mas ficaram na coxia ditando as regras por muito mais tempo. As duas capas da Manchete que ilustram este post são apresentadas como conquistas e avanços. Em uma delas, a revista chega a considerar que houve uma "vitória da democracia". Na verdade, são retratos de uma esperança seguida de uma grande derrota popular. Foi quando o povo, nas ruas, reivindicou um direito e ganhou um castigo. 
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O portal IG publica hoje uma matéria sobre os 30 anos das Diretas-Já e, em um trecho do texto de Vasconcelos Quadros, comenta a atuação da imprensa naqueles dias de manifestações. Vale a leitura. Segue transcrição abaixo:

"O papel da imprensa"
 A mesma imprensa que três décadas antes se deixara envolver em conspirações antidemocráticas – como os movimentos que deram no suicídio do presidente Getúlio Vargas, na deposição João Goulart e no apoio ao golpe civil-militar de 1964 – aproveitaria a campanha das diretas para se redimir.
 O primeiro veículo a encampar a Emenda Dante de Oliveira foi a Folha de S. Paulo, seguida por duas emissoras de televisão, a Bandeirantes e a extinta Manchete.
 A dimensão do Comício da Sé e a percepção de que a população apoiava incondicionalmente a eleição direta e o fim do regime levariam, de roldão, os demais veículos, e até mesmo a recalcitrante Rede Globo, que até então acompanhava o movimento, mas não noticiava.
 O comício uniu os 16 governadores de oposição, artistas e intelectuais – boa parte deles do elenco da Globo – numa época em que internet e redes sociais eram meros exercícios de ficção. A Globo o incluiu discretamente entre os atos de comemoração dos 430 anos de São Paulo, mas depois, forçada pelas vaias e pelo instinto de sobrevivência, se rendeu.
 A convocação era feita por panfletos", lembra o jornalista Ricardo Kotscho, que trabalhava na Folha de S. Paulo e teve a ideia de sugerir ao comando da redação que o jornal se envolvesse na campanha.
 "A Folha foi o único veículo que se engajou. O jornal publicava até o roteiro dos comícios. Os outros noticiaram quando não dava mais para segurar", diz Kotscho, que trabalhou sem folgas nos quatro meses mais intensos da campanha."

Você pode ler a matéria completa do IG clicando no link abaixo

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-01-24/maior-movimento-popular-da-historia-do-brasil-diretas-ja-completa-30-anos.html