sexta-feira, 1 de julho de 2016

Alô, jornalista, se liga! SBT faz feirão de pautas... Quem quer dinheiro?



por Niko Bolontrin

A transformação da mídia, as inovações tecnológicas e a crise levaram pro brejo muitas funções das antigas redações. O pauteiro foi uma delas. Alguns ainda resistem, mas estão em extinção, embora a web tenha trazido a figura do profissional que passa o dia vasculhando sites governamentais ou privados, blogs e redes sociais em busca de informações ou manifestações dos internautas que possam render matérias. No fundo, é o pauteiro high tech.

O pauteiro antigo, o analógico, era uma figura característica. Chegava cedo à redação, lia todos os jornais, ouvia noticiários de rádio e TV. Em alguns veículos, ele produzia uma espécie de clipping com os fatos que podiam render matérias de acordo com cada editoria. O telefone e uma grossa agenda de contatos eram ferramentas indispensáveis.

Antes da chegada do celular, o pauteiro, que às vezes acumulava a função com a de platonista,  andava com um "bip" ou "teletrim". Na maioria das vezes era portador de más notícias que se transformavam em assuntos bons de banca e de venda. Chacinas, grandes incêndios, mortes de celebridades, crimes com ingredientes para primeira página...

Quando em plantão, ele era encarregado de fazer a "ronda": telefonar para delegacias, Secretaria de Segurança, bombeiros etc. E nisso levava mais tempo 'esperando linha" - uma expressão que certamente as novas gerações jamais ouviram -  do que falando com as fontes nos jurássicos telefones fixos.

Pois o SBT abre um feirão no qual jornalistas de rádio, TV e jornais podem enviar casos jornalísticos que, se aproveitados, vão render aos neopauteiros um cachê de 10 mil reais.
VEJA A CONVOCAÇÃO NO SITE DO SBT NA WEB, CLIQUE AQUI



Em Los Angeles, a figura de um vendedor de reportagens sensacionalistas rendeu um filme

Os canais por assinatura exibem volta e meia um filme sobre um desempregado que descobre um jeito de ganhar a vida. Ele pega uma câmera amadora e vai em busca de acidentes, incêndios ou casos policiais que possam interessar a um programa sensacionalista da TV. Lou Bloom - é o nome do personagem interpretado pelo ator Jake Gyllenhaal - equipa-se com um scanner de rádio da polícia e se esforça para chegar ao  local da "ocorrência" antes da concorrência. Depois corre para vender as imagens.

O foco desse "jornalismo predatório"  - o nome do filme não por acaso é "O Abutre" - é o sangue.
Lou Bloom sobe na vida e na carreira de frila, ganha dinheiro e perde todos os escrúpulos.

Isso não significa que é o que vai acontecer no feirão do SBT.

Mas Rio e São Paulo, só para falar dos purgatórios da beleza e do caos, como canta Fernanda Abreu, têm tudo para gerar alguns Lou Bloom.

Um comentário:

Ebert disse...

Assunto não falta. O problema é que alguns não interessam á midia, helicóptero do pó, escandalo do metro de SP, industria das igrejas, trabalho escravo, chefões da droga que não moram no morro, a história secreta dos milionários brasileiros...