segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Era para ser um avanço tecnológico, mas o photoshop faz coisas inimagináveis nas atuais capas de revistas. Melhorou, mas só que não....

por BQVManchete
Durante décadas, as revistas da extinta Bloch seguiam um ritual para a escolha das suas capas. Os tempos eram das fotos em cromo. No oitavo andar, havia uma cabine apropriada para a seleção da imagem que as bancas estampariam. Ressalte-se que a sensibilidade dos jornaleiros era muito importante para Adolpho Bloch. Se o jornaleiro gostasse do assunto e da foto de capa e pendurasse vários exemplares da Manchete, por exemplo, e de preferência escondendo a concorrente, a edição tinha tudo para vender. Muito antes do ibope, o velho Adolpho fazia sua "pesquisa" de banca e valorizava a opinião do jornaleiro. Se algum "italiano" da banca começasse a repetir que a venda andava caindo ou definir com um certeiro "já foi melhor" determinada revista, pode crer que a cabeça do respectivo editor estaria a prêmio. Dizia-se na Bloch que a empresa nunca investiu pra valer na venda de assinatura porque Adolpho não queria se indispor com o "sindicato" que mandava nas bancas e que, muitas vezes, lhe adiantou dinheiro para pagar a "folha". O fato é que selecionar a foto de capa das revistas tinha algo de solene. Havia um projetor de slides e uma "tela" banca de fórmíca na parede. No caso da Manchete, a foto era projetada sobre um caixote no formato da revista, com logo e tudo, o que dava a impressão de um rústico 3D, mas que de fato passava melhor a ideia de como ficaria a capa "pendurada" na banca. A foto sobre o tal caixote "saltava" aos olhos da plateia. Sim, era uma plateia. O secretário de redação Alberto Carvalho, operava o projetor. Na fila do gargarejo, além da presença do Adolpho, o "cerimonial" de escolha da capa incluía o diretor da revista, redatores e fotógrafos. Não raro, visitantes eram convocados a palpitar. "O que você acha", perguntava Adolpho a qualquer um. A plateia, claro, se manifestava. Se um desses visitantes que tivesse ido ao Russel filar o almoço se sentisse na obrigação de fazer alguma "crítica inteligente" - e o pior é que quase sempre tiravam onda de entendidos - uma "crise" estourava no escurinho da cabine. Muitas vezes cabia ao editor da revista defender "sua" capa, a foto e razão jornalística, e argumentar como se estivesse em um tribunal. Algumas batalhas foram ganhas e muitas, talvez mais, foram perdidas naquela cabine do oitavo andar do prédio da rua do Russell. Mas a verdade é que com tantas pessoas vendo a foto projetada, entre palpites e opiniões abalizadas, parecia mais fácil identificar eventuais defeitos na imagem.
Anos depois, mas quase na reta final,  a Bloch começou a trabalhar com computadores, photoshop, fotos digitais e a salinha escura e o projetor de slides foram aposentados. Mas quem tiver coleções antigas pode conferir. São raros os erros grosseiros na composição de capas das revistas da Bloch na época em que essa escolha era quase artesanal. Tanto na Bloch quanto nas boas editoras concorrentes daqueles tempos. Por isso, fica difícil entender como é possível escapar erros tão impressionantes, e até em revistas de alto nível, como esses que o site photoshop disaster recolhe do mundo inteiro diariamente. Veja abaixo alguns exemplos.
A revista quis "vender" a matéria da mulher sexy acima dos quarenta. Para isso, exagerou no photoshop no rosto da Nicole Kidman que ficou com cara de manequim de loja. E ainda transformou o braço direita da atriz em um filete esquelético. 

A Elle tentou "desconstruir" a modelo com ombros, postura e cintura improváveis.

A Glamour, parece, dividiu Anne Hathaway em partes e remontou e porções desproporcionais. 

Tudo bem que a revista quis mostrar a barriga chapada do modelo. Mas precisava deslocar o braço quase em fratura exposta para rasgar a camisa? 

A Maxim mandou photoshop no "cofrinho" da modelo mas esqueceu de fazer o esmo na foto interna. 

Essa aí foi passada em um moedor digital que espremeu ombros e quadris. 

Essa mão esquerda colada por photoshop sobre o logo "V" é bizarra.
 
Responda rápido: quantas mãos entrelaçadas essa capa da Caras mostra?


O "dentista" da Viva exagerou no airbrushing e no photoshop da arcada dentária. 

Essa aí não foi capa mas foto interna do Globo: não sai ninguém, roubaram um dos dedos da mão esquerda. 


Matéria sobre receita light? "Tá resolvido: vamos vestir a moça com uma folha de alface"


Outra foto interna. Jennifer Aniston virou menos do que uma mulher-tronco. 

O Photoshop Disaster sacaneou essa foto publicada na Paris Match. "De quem é essa perna atrás do Sarkozy? Do Toulouse Lautrec? 


Pescoço para um lado, cabeça para outro. alguma coisa não combina aí.

O pé esquerdo vai ficar na bunda da modelo e atrapalhar a chamada? Sem problema, corta o pé!




3 comentários:

J.A.Barros disse...

Esse é o problema criado pela computação e seus aplicativos. Ora, antigamente o desenhista gráfico antes de tudo tinha de conhecer tipologia e como era o trabalho de uma gráfica. Desconhecendo o serviço gráfico dificilmente esse profissional conseguiria trabalhar em artes gráficas.
Para se trabalhar em Photoshop o profissional precisa saber desenhar porque o photoshop exige essa qualificação além de no mínimo conhecer fotografia e saber operar uma máquina , ter conhecimento de luz e sombra e vai por aí afora.
Pelo que parece o photoshop vem sendo operado por profissionais, senão curiosos, pelo menos incompetente para tal trabalho.
Quando surgiu a computação gráfica muitos profissionais foram formados numa grande correria porque as redações se modernizaram imediatamente informatizando todos os seus setores. Mutias profissões, como montador de páginas, o "pest up " foram extintas, mas ao mesmo tempo exigiu a formação do "designer "gráfico trabalhando com os aplicativos gráficos e o Photoshop era uma das exigências profissionais.
Mas, formar um bom profissional em artes gráficas em computação é demorado, porque são aplicativos que não se aprende de uma hora para outra. E o resultado é o que se vê nessas capas de revistas com modelos sendo mutiladas graficamente por profissionais mal formados.

Savarese disse...

Comentário interessante, tem a ver. Acho que em várias áreas as pessoas acham que saber manejar um computador já basta. Mas formação, cultura, informação, preparo técnico são mais importante do que um software.

Savarese disse...

Comentário interessante, tem a ver. Acho que em várias áreas as pessoas acham que saber manejar um computador já basta. Mas formação, cultura, informação, preparo técnico são mais importante do que um software.